Em apresentação na reunião desta terça (10) do Conselho Deliberativo da Ibá, o embaixador Roberto Azevêdo, ex-diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), defendeu o desenvolvimento de uma nova imagem internacional para o agronegócio brasileiro. Azevêdo foi recebido por Antonio Joaquim, presidente do conselho, e Paulo Hartung, que passou a palavra para o embaixador José Carlos da Fonseca Jr. fazer a introdução de seu colega de Itamaraty. Na sequência, Azevêdo discorreu sobre o cenário global e suas implicações para os interesses do Brasil.
“Temos a obrigação de contribuir para que o Brasil aprenda a responder às demandas dessa pauta. A agenda climático-ambiental veio para ficar. Vamos experimentar turbulências, ouviremos vozes contrárias, inclusive negando o consenso científico, mas o caminho está traçado para a transição rumo à economia circular, verde, energeticamente mais eficiente e descarbonizada”, afirmou o embaixador.
Azevêdo descreveu brevemente o cenário geopolítico atual, de polarização acirrada, que esvazia o centro político, e com o enfraquecimento do multilateralismo, em tendências que alimentam um certo automatismo de posições contrárias, independentemente do mérito do assunto, limitando possibilidades de construção de convergências, como no mecanismo de solução de controvérsias da OMC. Nesse contexto, acredita que o Brasil tem dois grandes desafios a solucionar: o primeiro, de harmonizar um discurso interno mais coerente, em particular, entre setor privado e governo; o segundo, de sair do isolamento e retomar sua habilidade de construir coalizões mundo afora, mesmo com países que não são aliados óbvios, mas que possam compartilhar e ecoar pelo menos algumas de nossas preocupações mais prioritárias.
“Precisamos de uma visão estratégica de como fazer com que Brasil e o agronegócio como um todo sejam vistos como parte da solução. Temos um problema de narrativa, ficamos durante muito tempo em uma posição estritamente reativa. Essa atitude não vai resolver, não vai mudar a impressão internacional que se configurou sobre o Brasil, podendo até reforçar a imagem de um país negando suas obrigações e deveres em relação ao tratamento da agenda climática mundial”, disse.
Após a fala do embaixador, Paulo Hartung abriu a reunião para perguntas, questionando primeiramente sobre como Azevêdo enxerga a questão climática à luz das próximas eleições norte-americanas e também sobre as tensões entre Estados Unidos e China. O presidente da Ibá também levantou o tema do crescente protecionismo nas políticas nacionais. Beto Abreu, CEO da Suzano, e Agostinho Monsserrocco, CEO da Oji Papéis, bem como Mauro Murara (ACR) e Luiz Bueno (Suzano), também contribuíram com o debate que se seguiu com nosso convidado especial. Hartung encerrou a primeira parte do conselho agradecendo a participação do embaixador Azevêdo e convidando-o a visitar a Ibá, quando estiver no Brasil.
Na segunda parte da reunião, o embaixador José Carlos da Fonseca Jr. fez breve resumo sobre importantes reuniões realizadas pela Ibá em agosto, com a secretária de Mudança do Clima, Ana Toni; com o embaixador André Corrêa do Lago, negociador-chefe do Brasil nas COPs da ONU; e com o presidente Lula, que estava acompanhado pelo vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin, bem como pelos ministros Rui Costa, Fernando Haddad, Marina Silva e Carlos Fávero, além dos presidentes do BNDES, Aloizio Mercadante, do Ibama, Rodrigo Agostinho, e da Embrapa, Silvia Massruhá. Patrícia Machado, gerente de Políticas Florestais e Bioeconomia da Ibá, apresentou as ações da entidade em preparação para a COP16, na Colômbia, com uma presença recorde de empresas do setor. Já Adriano Scarpa, gerente de Mudanças Climáticas, expôs as pautas de mobilização tendo em vista a COP29, no Azerbaijão.
Outros temas da agenda corrente da Ibá foram igualmente tratados no encerramento da reunião, como o processo de aproximação de nosso setor com entidades congêneres da América Latina.
Comunicação Ibá