Coluna Ibá

    PELO EMBAIXADOR JOSÉ CARLOS DA FONSECA JR.

    Oano de 2021 é tristemente marcado pelo drama da
    pandemia, mas também se mostra decisivo sob
    outros aspectos, para o Brasil e o mundo. Nesse
    contexto, a agenda ambiental, em seu sentido mais
    amplo, pode-se destacar como caminho rumo a uma relação
    melhor e mais sensata com o planeta em que vivemos. O tema,
    há algum tempo, já deixou de ser técnico, porém a verdade é
    que, nos últimos anos, se impôs como assunto central na geopolítica
    mundial. A Covid-19 acelerou o que já era clara tendência,
    transformando a temática em questão absolutamente
    central. De fato, não seria exagero afi rmar que as perspectivas e
    riscos decorrentes das mudanças climáticas hoje se equiparam,
    em grau de centralidade estratégica, com as preocupações que,
    na Guerra Fria, acompanhávamos as negociações sobre desarmamento
    e não proliferação nuclear.
    Na Cúpula do Clima, convocada recentemente por Joe
    Biden, verifi cou-se inédito grau de convergência entre os principais
    participantes, com destaque para o potencial de alinhamento
    nas posições e atitudes da China e dos Estados Unidos, para
    não falar da Europa. Devido à importância do tema, é possível
    que rivalidades estratégicas e econômico-comerciais na prática
    cedam espaço para novas avenidas de cooperação e convergência,
    em vista do inimigo comum que seria a irreversibilidade
    da desordem climática ou da perda de biodiversidade. Como
    sabem e afi rmam, sobretudo, os mais jovens, como não existe
    um planeta B, a humanidade não terá plano B. Com base em
    inovação, pesquisa e desenvolvimento, o desafi o é a transição
    para uma economia de baixo carbono, com energia renovável,
    processos produtivos mais limpos, tecnologia verde, que preservem
    nossos ecossistemas. É preciso mudar a maneira de lidar
    com a natureza ou não haverá volta. Isso não é discurso, é fato.

    Em que pese a dimensão das complexas mudanças que precisaremos
    promover, em nível planetário, o fato é que o Brasil
    tem diante de si o que parece ser uma excepcional oportunidade:
    fazer jus à inescapável vocação de potência agroambiental,
    detentora da maior biodiversidade do mundo, de ativos fl orestais
    e hídricos de vitalidade incomparável. Oportunidade cuja
    magnitude, diante do desafi o igualmente gigantesco, deve ter o
    condão de mobilizar toda a sociedade brasileira, em um forte
    pacto entre as gerações de hoje e do futuro.
    Ao longo de 2021, teremos também a COP-15 da Convenção
    da Diversidade Biológica, que negociará o novo Marco Global
    de Biodiversidade, e a COP-26 da Convenção do Clima, em
    que se espera que seja concluída a negociação do Artigo 6º do
    Acordo de Paris, para criar e regular um mercado global de
    créditos de carbono. Para completar essa densa programação
    internacional, que propicia ao Brasil a chance de retomar
    o protagonismo que tão construtivamente exerceu desde
    a Rio92, três décadas atrás, será ainda sediado em Belém do
    Pará, o Fórum Mundial de Bioeconomia, que pela primeira vez
    se realiza fora da Finlândia.
    A exemplo da grave crise de imagem internacional que o
    Brasil experimentou no fi nal da década de 1980, e que seria
    gradualmente transformada em liderança global depois da
    já mencionada Conferência do Rio sobre Meio Ambiente e
    Desenvolvimento, de novo, agora, temos a possibilidade de fazer
    limonada com os limões azedos que nos estão dados. Para tanto,
    a sociedade e nossos governantes precisam se articular, com
    vistas ao futuro e livres do imediatismo, pois se trata da herança
    que legaremos às gerações vindouras.
    Ninguém pode estar alheio ao que o momento espera de nós,
    pois seremos todos julgados pela história e pelos brasileiros de amanhã. Nossas responsabilidades, como potência agroambiental
    e como global trader, exigem que o Brasil se reencontre com
    sua vocação universalista e volte a ser exemplo de protagonizar a
    agenda ESG – ambiental, social e de governança, liderando pelo
    exemplo e aprofundando o caminho rumo à nova economia
    de baixo carbono, sem a qual o planeta seguirá correndo riscos.
    Uma das vantagens do Brasil justamente reside no quanto
    já avançamos, nesse sentido, ostentando uma matriz energética
    majoritariamente renovável, depois de termos realizado a grande
    revolução verde do mundo, embarcando pesquisa e tecnologia
    no sucesso que é a agroindústria tropical inventada no Brasil.
    Em vista dessas conquistas de décadas de avanço científico
    e tecnológico, é um paradoxo e um contrassenso que o
    Brasil, em vez de continuar sendo premiado pelo que ofereceu
    ao mundo como case de sucesso, corra o risco de ser penalizado,
    numa versão sem sentido. E, não tenhamos dúvida:
    no adverso cenário atual, caso não façamos nós as mudanças
    que estão no interesse nacional, prosperará no exterior a narrativa
    que teima em pintar o Brasil como problema, e não
    como solução, no grande debate ambiental. Simplesmente
    não podemos admitir que nossos ativos tão valiosos se transformem
    em passivos que o mundo repudia.
    O setor de florestas cultivadas, representado institucionalmente
    pela Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), vem fazendo
    a sua parte com todo empenho. Junto aos demais elos da
    ampla cadeia produtiva de base florestal, com seus distintos
    seguimentos agroindustriais e um imenso horizonte já sintonizado
    na bioeconomia dos novos produtos e bioelementos, segue
    mostrando seus avanços na transição energética, no impacto
    clima-positivo e no balanço carbono-negativo que caracteriza
    nossa evolução. Produzir mais com menos recursos naturais, eis
    o nome do jogo que o setor vem desempenhando, assim mantendo-
    se competitivo e dinâmico.
    Como setor organizado, mantemo-nos presentes nas discussões
    e foros globais, assim como no Brasil. Em plena pandemia, a IBÁ
    teve a honra de ser recentemente eleita para a Vice-Presidência do
    Conselho Consultivo das Indústrias de Base Florestal Sustentável
    (ACSFI) da FAO, além de integrar o Conselho Deliberativo do The
    Forests Dialogue (TFA/Universidade de Yale) e do Conselho Internacional
    das Associações de Celulose e Papel (ICFPA).
    No Brasil, de igual modo, a IBÁ mantém-se engajada na interlocução
    com o poder público, de uma maneira geral – interagimos
    republicanamente com os três poderes da República,
    com estados e municípios. Graças a isso, rapidamente nosso setor
    logrou convencer nossos governantes sobre a essencialidade
    de nossas atividades durante a pandemia, assim garantindo que
    nossos produtos chegassem aos consumidores, sem deixar
    que houvesse desorganização de sistemas e cadeias de abastecimento.
    Por outro lado, preservamos igualmente nossa capacidade
    de diálogo com as entidades representativas da sociedade, em
    um valioso aprendizado das diferenças e das complementariedades.
    Junto com outras entidades do setor empresarial, jamais
    nos furtamos a dar nossa contribuição para o grande debate
    nacional, por exemplo, em plataformas como a CNI, a CNA, o
    IPA e a Coalizão Brasil Clima Agricultura e Florestas.
    Nosso setor cultiva 9 milhões de hectares e preserva outros
    5,9 milhões de hectares, em Áreas de Preservação Permanente
    (APPs), Reserva Legal (RL) e Reservas Particulares do
    Patrimônio Natural (RPPN). Mais que toda a área do estado do
    Rio de Janeiro. Isto é, o setor privado que nós representamos
    tem uma área de conservação do tamanho da Dinamarca. Nessas
    áreas foram encontradas aproximadamente 38% dos mamíferos
    e 41% das aves ameaçados de extinção no Brasil. O mundo
    está empenhado em acelerar a recuperação de ecossistemas
    degradados, criando medidas eficientes para combater a crise
    climática, alimentar, hídrica e da perda de biodiversidade. Há
    anos, nosso setor possui programas de restauração de áreas degradadas.
    Em 2018, foram 21,2 mil hectares. Em 2019, essa área
    foi expandida para 32,7 mil hectares.
    Nossa responsabilidade socioambiental está presente nos
    mais de 1,4 milhão de postos de trabalho que nosso setor gera,
    direta e indiretamente, assim também na forte atuação que temos
    junto às populações vizinhas de nossas operações, espalhadas
    por mais de mil municípios brasileiros. Impactos positivos
    em indicadores como IDH e IDEB são o reflexo dessas interações
    ganha-ganha. Isto para não mencionar, aqui, o que nosso
    setor recolhe em tributos, nos três níveis de governo, ou a contribuição
    que dá à balança comercial – em 2019, exportações de
    mais de US$ 10 bilhões.
    Enfim, cada qual tem de fazer a sua parte. As empresas associadas
    à IBÁ também vêm fazendo a sua, promovendo a sustentabilidade,
    a renovabilidade, a reciclagem e a economia de baixo
    carbono, sem perder de perspectiva a diferença que faz na vida
    das pessoas, no equilíbrio ecossistêmico do planeta e na história
    destes nossos tempos tão desafiadores, tão difíceis mas, sem dúvida,
    também cheios de possibilidades e oportunidades.


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