Durante a 19a Conferência de Produtos Florestais da Fastmarkets América Latina, realizada em São Paulo no dia 13 de agosto, Flávio Deganutti, CEO da Paracel, apresentou a evolução do projeto da primeira empresa de celulose do Paraguai e falou ao portal newspulpaper sobre os próximos passos. A Paracel é resultado da união de três companhias: Grupo Zapag, líder paraguaio na importação e distribuição de combustíveis, Heinzel Holding GmbH e Girindus Investments, uma empresa sueca de pesquisa no setor florestal. Essas empresas estão comprometidas com o desenvolvimento sustentável, visando gerar valor social, econômico e ambiental para a região.
A Paracel tem como meta produzir 1,8 milhão de toneladas anuais de celulose kraft de eucalipto branqueada (BHKP) em Concepción, Paraguai. Para garantir o abastecimento com a matéria-prima, até 2023, a empresa já havia plantado 113.699 hectares de árvores em terras próprias, quantidade suficiente para atender o projeto e uma futura expansão. As plantações, localizadas nos departamentos de Concepción e Amambay, estão a aproximadamente a 130 km do local da fábrica.
O processo de aquisição das áreas de plantio já ocorre desde 2014, contou o executivo. “A família sócia principal adquiriu áreas de pecuaristas da região e foi consolidando um grande plantio florestal”, disse.
Sobre o status atual do projeto, Deganutti contou que a empresa já avançou significativamente, incluindo a obtenção da licença de construção, a conclusão de estudos de impacto ambiental e social e realizou grandes obras de terraplanagem com mais de 3.644.960 m³ de terra removida, bem como a preparação da documentação para o sequestro de CO2. Além disso, a Paracel estabeleceu planos de ação para a conservação da floresta nativa e a implementação de programas sociais. Deganutti comentou ainda que a empresa busca investimentos para completar sua estrutura financeira, mas vê o momento como favorável para tornar o projeto uma realidade.
Em entrevista, o CEO da Paracel esclareceu algumas dúvidas sobre o projeto como um todo. Sobre a logística de escoamento da produção, que será realizada através do Rio Paraguai até o Uruguai, a aproximadamente 1.950 km de distância, Deganutti explicou que o transporte por barcaça é muito mais econômico por quilômetro do que o transporte rodoviário e até o ferroviário. “Embora a distância seja longa, esse tipo de transporte é mais competitivo, especialmente em comparação com o transporte rodoviário ou ferroviário”, disse.
Conforme o executivo, a companhia já possui seis barcaças prontas de um total de nove para o transporte. Além disso, para melhor escoamento da produção será realizada uma dragagem no rio que ampliará o fluxo atual. “Atualmente, o potencial de fluxo é de 27 milhões de toneladas por ano, mas esse número pode ser 10 vezes maior. A dragagem permitirá que carreguemos mais as barcaças, ou seja, faremos o transporte de forma mais completa. Essa dragagem será realizada através de um consórcio entre o governo paraguaio e uma empresa privada”, pontuou.
Quanto ao valor estimado de investimentos, Deganutti revelou que envolverá um desembolso de 50 milhões de dólares e que o CAPEX para a construção da fábrica será de 2,8 bilhões de dólares.
Além disso, Deganutti confirmou que a Paracel investirá em um porto próprio. “O porto está licenciado, agora é só construir”, disse ele. Toda a preocupação com infraestrutura também se refletirá nas tecnologias que serão adotadas para a fábrica. Nesse sentido, Deganutti contou que a empresa enfatiza a escolha por soluções comprovadas: “Estamos focados em usar essas tecnologias, principalmente porque somos a primeira planta do Paraguai. Optamos por equipamentos que já têm eficiência comprovada em plantas no Brasil ou no Uruguai”, afirmou citando como exemplo o processo de gaseificação adotado por duas fábricas no Brasil recentemente, o que torna a fábrica uma produtora de energia limpa e livre de combustíveis fósseis.
Ele também detalhou que a planta contará com tratamento terciário de efluentes, garantindo uma qualidade de água excepcionalmente alta. “A Paracel vai ter a melhor prática hoje, que é o tratamento terciário. Isso garante efluentes com qualidade superior”, explicou Deganutti.
Outros pontos favoráveis ao projeto, segundo o executivo, está a regulação de impostos, que é mais favorável no Paraguai. “Existem claramente menos impostos do que em todos os países vizinhos, incluindo o Brasil. Além disso, o governo paraguaio tem oferecido um grande apoio para que grandes projetos aconteçam”, comentou.
A mão de obra também não será um gargalo. Deganutti afirmou que a legislação paraguaia é mais flexível e não visualiza grandes entraves. “No Paraguai, trabalhadores de qualquer parte do mundo podem ser contratados para construir a fábrica, o que não é o caso no Brasil, onde há restrições maiores. Ainda assim, nosso foco está em criar um ecossistema, capacitar e treinar pessoas, e fazer parcerias com institutos de pesquisa e universidades para apoiar a formação de mão de obra local”, apontou.
O CEO também falou sobre a visão da companhia quanto ao desenvolvimento florestal e como ela tem trabalhado o impacto das mudanças climáticas. Conforme Deganutti, a Paracel é uma empresa jovem e está tanto selecionando espécies de eucalipto que se adaptam bem ao solo e clima paraguaios quanto usando conhecimentos e recursos já consolidados. “O primeiro ciclo de plantio é de aprendizado, e utilizaremos esse conhecimento para melhorar a produtividade no segundo ciclo”, disse ele projetando um crescimento conservador no primeiro ciclo e um aumento significativo no segundo, baseado nas lições aprendidas nos primeiros sete anos.