A reportagem do Valor Econômico, assinada por Daniela Rocha, destaca como o Brasil está mobilizando recursos para transformar a indústria nacional através de um plano ambicioso de inovação e sustentabilidade, com foco nas missões de transformação digital e bioeconomia. O plano, denominado Nova Indústria Brasil (NIB), busca agregar valor aos produtos brasileiros e impulsionar setores estratégicos com base em compromissos climáticos e vantagens comparativas do país, conforme ressaltado por Pedro Guerra, do Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, durante o 7º Fórum Brasil de Investimentos.
O setor florestal, especialmente o de papel e celulose, é apontado como uma referência nesse movimento. Segundo Paulo Hartung, presidente da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), esse segmento vem crescendo de forma sustentável ao plantar eucalipto em áreas de pastagens degradadas, o que contribui para a regeneração ambiental e o uso eficiente do solo. Ele destaca que todo o cultivo e produção do setor de papel e celulose seguem rigorosos padrões de rastreamento e certificação, assegurando que 100% da madeira utilizada seja certificada. Esse setor se tornou líder em práticas de sustentabilidade e inovação, alinhando-se aos objetivos da política industrial. Além disso, as empresas estão investindo em bioprodutos – como polímeros de base florestal – que podem substituir derivados de petróleo, acelerando a transição para uma economia de baixo carbono.
Nos próximos três anos, o setor florestal planeja investir cerca de R$ 105 bilhões, direcionados principalmente para expandir a infraestrutura de produção sustentável, criar novas áreas de plantio e aplicar tecnologias de descarbonização nas fábricas. Esses investimentos também abarcam avanços em ciência e tecnologia, com foco em pesquisa para a criação de produtos inovadores que podem atender tanto ao mercado nacional quanto ao internacional. Hartung enfatiza que o papel e a celulose estão posicionados para liderar a bioeconomia brasileira, com produtos que vão desde embalagens biodegradáveis até componentes para o setor farmacêutico e cosmético.
Além do setor florestal, o automotivo e o eletrônico também estão integrados na política do NIB. A General Motors, por exemplo, investe na modernização de suas plantas no Brasil e na eletrificação gradual dos veículos, com destaque para a produção dos primeiros carros híbridos flex do mundo, combinando etanol e eletricidade. Essa estratégia reflete a capacidade do Brasil de inovar com uma fonte de energia renovável, especialmente o etanol, que pode complementar a eletrificação e reduzir emissões.
Na área de eletrônicos, a Samsung destaca-se como um polo de inovação na América Latina. Seu centro de pesquisa no Amazonas desenvolve softwares e tecnologias que abastecem diversos países da região, além de soluções de saúde, como a tecnologia de detecção de apneia do sono por dispositivos vestíveis. Segundo Mario Laffitte, da Samsung, esses avanços dependem de incentivos constantes, como os fornecidos pela Lei da Informática, que viabiliza investimentos em P&D (pesquisa e desenvolvimento) no Brasil, alcançando cerca de R$ 5 bilhões por ano.
Outro ponto essencial do plano do governo federal é a inclusão de micro, pequenas e médias empresas, conforme argumenta Décio Lima, presidente do Sebrae. Essas empresas, que representam a maioria do mercado de trabalho formal no país, ainda enfrentam barreiras no acesso a crédito e em capacitação para implementar processos sustentáveis. O programa Acredita, do Sebrae, visa resolver parte dessas limitações ao fornecer garantias para que pequenos negócios possam acessar linhas de crédito, com um potencial de até R$ 30 bilhões em três anos, visando especialmente apoiar a adoção de práticas sustentáveis e de inovação.
Esse conjunto de medidas sinaliza um esforço nacional de integração das cadeias produtivas, incluindo setores estratégicos como o florestal, automotivo e eletrônico, para impulsionar uma economia sustentável e competitiva no cenário global.