Balanço divulgado nessa terça-feira (21) pelo Cemtec/MS (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima), órgão meteorológico do Estado vinculado à Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), comprova a situação de seca severa que se instalou sobre a região desde início do ano. Em 32 das 46 estações meteorológicas espalhadas por todo território sul-mato-grossense não houve registro de chuva na primeira quinzena de maio e nos demais o índice foi irrisório: em 8 municípios choveu apenas 1% do esperado para o período; em três, 2%. Aral Moreira teve o menos pior resultado: 17% da média histórica.
Outra fonte de dados relatada pelo Cemtec/MS, os mapas georreferenciados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Merge/INPE, dão uma visão espacial da situação de seca instalada no Estado. Por esses mapas, observa-se que as regiões Pantaneira, Norte, Central, Bolsão e Leste, pintadas de vermelha, não choveu nada nessa primeira quinzena de maio. Nas regiões Sul e Sudoeste houve chuvas isoladas e de baixa intensidade (o satélite retratou máxima de 8 milímetros nos municípios de Bonito e Nioaque, 6 milímetros em Porto Murtinho, Caracol, Mundo Novo e Anastácio, e 4 milímetros na faixa de fronteira com o Paraguai e em Bodoquena).
A coordenadora do Cemtec/MS, Valesca Fernandes, lembra que desde outubro do ano passado vem chovendo abaixo da média histórica na maioria dos municípios do Estado. A última chuva com volume significativo e que atingiu todo Estado aconteceu no dia 16 de abril. Depois disso, sucessivos sistemas secos e quentes se instalaram sobre a região impedindo a formação de nuvens de chuva e mantendo as temperaturas acima da média. Nos últimos dias o calor cedeu, no entanto, a chuva não chegou.
Emergência ambiental e incêndios
A situação de seca já levou o Governo de Mato Grosso do Sul a declarar Estado de Emergência Ambiental no dia 10 de abril, válido por 180 dias, em que ficaram proibidas as autorizações para queimadas. Porém, pela primeira vez, foi instituída a queima prescrita, em que o Estado intervém e realiza o procedimento, adotando todas as normas de segurança para controle do fogo, a fim de evitar que essa vegetação seja incendiada de forma acidental ou criminosa e a situação fuja do controle, transformando-se em incêndios de grandes proporções.
O Corpo de Bombeiros está trabalhando na região do Pantanal desde então, em pelo menos 140 propriedades identificadas com riscos em potencial, na operação de queima prescrita e também no combate a focos de incêndios que têm ocorrido na região. Em termos de recurso financeiro, foram alocados e empenhados R$ 48 milhões para enfrentamento imediato da situação, sendo R$ 23 milhões para a Defesa Civil utilizar no segundo semestre com aquisição de uma série de itens relativos a combate a incêndios florestais, e outros R$ 25 milhões para custeio das operações do Corpo de Bombeiros.
A região do Pantanal já registrou 400 focos de calor desde o 1º de janeiro até 15 de maio desse ano. Foram queimados 152.075 hectares. Essa área não compreende as queimas prescritas. O maior incêndio atingiu a região da Serra do Amolar, na divisa com o Estado de Mato Grosso, abrangendo área de 78.825 hectares, entre janeiro e março. Outros 18.225 hectares pertenciam a unidades de conservação, como o Parque Estadual do Pantanal de Rio Negro e reservas particulares. O Corpo de Bombeiros atendeu já 1468 ocorrências de incêndios nesse ano, aumento de 119,2% em relação ao mesmo período do ano passado. Veja mais informações no Informativo Cicoe/Pemif/2024.
Escassez hídrica
No dia 14 de maio, a ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) declarou Situação Crítica de Escassez Quantitativa dos Recursos Hídricos na Região Hidrográfica do Paraguai, devido à redução no volume dos leitos dos rios em decorrência da estiagem prolongada. A medida tem vigência até 31 de outubro, quando historicamente finda o período seco na bacia do Paraguai, entretanto, pode ser prorrogada caso a situação de escassez hídrica persista.
O nível d’água do rio Paraguai, em abril de deste ano, atingiu o pior índice histórico observado em algumas estações de monitoramento ao longo de sua calha principal. A situação desfavorável pode resultar em impactos aos usos da água, sobretudo em captações para abastecimento de água – especialmente em Cuiabá (MT) e Corumbá (MS), além de dificultar e até inviabilizar a navegação, reduzir o potencial do aproveitamento hidrelétrico a fio d’água e comprometer atividades de pesca, turismo e lazer.
O rio Aquidauana está abaixo do nível de emergência (200 centímetros) desde o dia 8 de maio na régua instalada na cidade de Aquidauana e se mantém nesse patamar desde então. Nessa terça-feira (20) estava com 193 centímetros de lâmina d’água naquele trecho. O rio Paraguai, na régua de Ladário, media 144 centímetros de lâmina d’água na manhã dessa terça-feira. Conforme dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB), nessa época, em média, a água devia chegar na marca de 385 centímetros naquele ponto do rio.
Monitor de Secas
O Monitor de Secas também mostra uma situação bastante grave para Mato Grosso do Sul. O Monitor de Secas é um processo de acompanhamento da situação de seca das regiões do Brasil utilizando-se de dados de diferentes instituições e concentrando conhecimento técnico e científico já existente em diferentes órgãos estaduais e federais para alcançar um entendimento comum sobre as condições de estiagem, sua severidade, a evolução espacial e no tempo. Mato Grosso do Sul integra o sistema desde 2020, por meio do Cemtec/MS, e divulga mensalmente o Boletim da situação de seca do Estado.
Em abril, conforme o Monitor de Secas, apenas partes das regiões Sul e Norte estavam excluídas da situação de seca. Dos 46 municípios analisados, apenas 13 tiveram chuvas acima da média histórica, enquanto 33 ficaram com índices de precipitação abaixo da média histórica no mês passado. O município de Jardim teve o pior acumulado, de apenas 18,6 milímetros, representando 86% menos do que se esperava para o período. O relatório do Monitor de Secas é mensal e sua divulgação acontece sempre na segunda quinzena do mês subsequente, portanto os dados a respeito de maio só serão disponibilizados em meados de junho.
Fonte: Semadesc/ João Prestes