OS EFEITOS DA GUERRA ENTRE RÚSSIAE UCRÂNIA NO MERCADO BRASILEIRO
Diretor Comercial e Marketing e co-CEO da Papirus
Odesencadeamento da guerra da Rússiacontra a Ucrânia tem implicações nãoapenas humanitárias, políticas e sociais,mas econômicas, e não somente de formalocalizada, mas nos diversos países deum mercado mundial globalizado. É como um tabuleiro, emque o movimento de uma peça altera a direção de todo ojogo, mas, neste caso, não apenas definindo os ganhadoresou vencedores da batalha, porque, num conflito destadimensão, todos são perdedores, de uma forma ou de outra.A balança, contudo, sempre penderá mais de um lado oude outro dos mercados. E, no caso do setor de celulose epapel brasileiro, os impactos sobre o mercado global também se refletem no mercado brasileiro, ao mesmo tempoque abrem algumas oportunidades.Na equação do setor de celulose e papel temos, de umlado, o forte impacto sobre os preços dos produtos, em função, destacadamente, da elevação do preço do petróleo, econsequentemente do transporte das matérias-primas, daextração da madeira, do custo dos produtos químicos eda energia. Por outro lado, vemos o mercado buscando seadaptar à interrupção do fornecimento da Rússia, por forçada decisão dos consumidores de celulose de deixarem de seabastecer neste mercado.Em países como a Alemanha, afetados pela queda abrupta da oferta do gás ou mesmo da celulose produzida naRússia, um dos maiores fabricantes mundiais de celulose epapelcartão, que tem uma de suas fábricas instalada na Alemanha, comunicou esse mercado que sua produção poderáser interrompida, e seus preços serão reajustados, devido àalta dos preços do gás e da energia, destacando-se que, naAlemanha, por exemplo, o gás subiu 200% desde o início doconflito, e já se encontra em patamares seis vezes superiores aos registrados há 12 meses.Como efeito dominó, a redução na oferta de celuloseafeta a produção de papelcartão e outros tipos de papéis.Pelo menos é o que se constata até agora, e aí não sabemosse, e quando, uma possível queda na demanda na ponta doconsumidor vai se refletir na menor demanda de celulosee papel, minimizando ou compensando as interrupções naprodução agora registradas.O que vemos, no momento, é o movimento de tradingseuropeias vindo ao Brasil para negociar a compra de papelcartão, a fim de garantir o suprimento para a fabricaçãode embalagens. Por isso, a perspectiva é que, mesmo como impacto sobre os custos de fabricação e os aumentos daídecorrentes, seja possível manter firme a demanda pelo papelcartão fabricado no Brasil.E caberá aos fabricantes brasileiros, nesse contexto,equilibrar a equação das vendas ao mercado interno paraque nem haja desequilíbrio na oferta ao mercado local, emfunção das exportações, nem se percam vendas ao mercado internacional que poderiam manter a produção rodandoem patamares satisfatórios.Sem dúvida, a pressão de custos e a consequente inflação será o ponto mais difícil para a indústria brasileira decelulose e papel equacionar em decorrência desta guerra,enquanto, sob o aspecto humanitário, não resta dúvidade que os estragos do conflito também ultrapassam asfronteiras e são irreversíveis.