Por Guilherme Leal /Paulo Hartung e Roberto Waack (Reprodução)
- No Fórum Econômico Mundial 2025 em Davos esta semana, uma coalizão de líderes de todos os setores brasileiros discutirá a agenda integrada e pré-competitiva necessária para dimensionar a restauração florestal.
- A restauração florestal é uma parte fundamental da ação climática bem-sucedida, proporcionando remoção de carbono, proteção da biodiversidade e crescimento econômico sustentável, mas requer investimento e ação imediatos, escrevem os autores de um novo artigo de opinião.
- A abordagem coordenada do Brasil entre os setores de negócios, finanças e conservação resultou em aproximadamente US$ 528 milhões em investimentos em restauração nos últimos 18 meses, estabelecendo um exemplo global de restauração florestal impactante e ação climática.
- Este post é um comentário. As opiniões expressas são dos autores, não necessariamente do Mongabay.
Na tranquila cidade suíça de Davos, The Magic Mountain, de Thomas Mann, se desenrola quando a breve visita do jovem Hans Castorp a um sanatório se transforma em uma exploração de ideias, intrigas e debates de sete anos. A história acaba se tornando uma metáfora para o isolamento e declínio da Europa antes da Primeira Guerra Mundial.
Desde a publicação do romance no início do século XX, seus temas transcenderam a Europa para refletir um mundo assolado por tensões geopolíticas. Essas tensões são agravadas pela escalada de conflitos internacionais e pelo fracasso repetido das conferências das Nações Unidas em abordar os desafios urgentes do clima e da biodiversidade.
Em meio a esse cenário complexo, as principais figuras econômicas e políticas do mundo estão se reunindo mais uma vez na cidade simbólica de Davos de 20 a 24 de janeiro para o Fórum Econômico Mundial (WEF) de 2025. Único neste evento é a mobilização do setor privado para liderar a agenda baseada em soluções para as crises ambientais e climáticas.
Uma coalizão de líderes dos setores empresarial e financeiro está se juntando à conversa do Brasil, que é o anfitrião da COP30 deste ano no coração da Amazônia. Eles estão promovendo uma das soluções mais estratégicas para alcançar o equilíbrio climático e proteger a natureza: a restauração florestal.
A restauração florestal é amplamente reconhecida como uma das estratégias mais eficazes para remover carbono da atmosfera. A melhoria dos serviços ecossistêmicos como um todo apoia cadeias de suprimentos sustentáveis e cria caminhos para resiliência ambiental e financeira de longo prazo. No entanto, apesar de sua promessa, os projetos de restauração exigem um tempo significativo para amadurecer, e ações imediatas são necessárias para atingir as metas de longo prazo.
A urgência deste trabalho é ressaltada pelos compromissos de líderes globais de tecnologia como Google, Microsoft, Meta e Salesforce, que se comprometeram a comprar até 20 milhões de créditos de remoção de carbono baseados na natureza até 2030. A Apple também dobrou seu Fundo de Restauração para expandir soluções de alta qualidade baseadas na natureza. No entanto, essas empresas levantaram preocupações de que suas metas de zero líquido para 2030 podem estar em risco devido à escassez de créditos disponíveis.
Para preencher essa lacuna, os esforços de restauração florestal devem ser escalonados rapidamente. Isso requer maior investimento e o estabelecimento de padrões compartilhados para fortalecer a indústria de restauração de florestas tropicais e garantir resultados oportunos e impactantes.
O plantio deve começar agora para gerar os créditos necessários para atingir metas climáticas ambiciosas dentro desse prazo crítico.
Em resposta a esses desafios, a coalizão brasileira presente em Davos desenvolveu uma abordagem baseada em um modelo pré-competitivo integrado para restauração — um que combina mitigação, adaptação climática e estratégias comerciais inovadoras. Seu modelo visa acelerar os esforços de restauração, garantindo o alinhamento com as prioridades ambientais e econômicas, fornecendo um roteiro para soluções de escalonamento no ritmo necessário.
A agenda inovadora do Brasil para restauração é uma resposta a desafios urgentes e um reflexo de seu vasto potencial. Ostentando a maior biodiversidade do mundo, recursos hídricos abundantes, terreno e clima favoráveis, o país é ainda apoiado por sua estrutura institucional, uma sociedade civil organizada e um setor privado ansioso para desenvolver essa nova economia. Estima-se que aproximadamente US$ 528 milhões foram investidos em restauração no Brasil nos últimos 18 meses, de todos os setores financeiros, de conservação e de commodities.
A restauração também está ganhando força além das fronteiras da Amazônia, com a Europa e o Reino Unido reconhecendo-a como um componente-chave de suas estratégias de clima e biodiversidade. Em 2024, a UE se comprometeu a restaurar 20% dos ecossistemas degradados até 2030, e o Reino Unido aumentou os investimentos em reflorestamento rural para aumentar a resiliência climática e a segurança hídrica. A Dinamarca também alocou 15% das terras agrícolas para reflorestamento para reduzir o uso de fertilizantes e proteger a biodiversidade. Embora essas iniciativas marquem passos globais importantes, elas frequentemente enfrentam desafios em escala e integração, particularmente na coordenação das partes interessadas e alinhamento com ecossistemas locais.
Entre as principais inovações em andamento no Brasil está a capacidade de operadores, financiadores e compradores de coordenar em torno de uma agenda de restauração pré-competitiva. Esta estratégia oferece uma solução para navegar pelos desafios de uma indústria promissora, mas exigente, enfatizando a ação coletiva para trazer progresso real.
O impacto da agenda de restauração brasileira é encontrado ao dividir esses esforços em três frentes de ação: o compartilhamento de experiências operacionais, o desenvolvimento de mercados eficazes para produtos de carbono, madeira e biodiversidade (essencial para transformar a restauração em uma classe de ativos viável e garantir retornos de investimento sustentáveis) e a criação de uma agenda institucional focada no avanço de políticas públicas.
Na reunião em Davos, chamada “Colaboração para a Era Inteligente”, os líderes da agenda de restauração florestal pré-competitiva reafirmarão a importância desta iniciativa por meio de novos investimentos e do comprometimento de um grupo diverso de partes interessadas em trabalhar em conjunto. A colaboração intersetorial que acontece no Brasil se estenderá ao restante dos participantes do WEF e ajudará a promover o esforço global coordenado de soluções baseadas na natureza.
A restauração de florestas fornece um farol para a proteção do clima e da biodiversidade – são sistemas da natureza, desenvolvidos ao longo de bilhões de anos – o que pode nos ajudar a retornar a uma era mais próspera e menos turbulenta.
Guilherme Leal é um empresário brasileiro, empreendedor socioambiental e filantropo, cofundador da Natura & Co e da marca de chocolate Dengo, e também é o líder do The B Team.
Paulo Hartung é presidente executivo da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), uma organização líder que representa o setor de árvores plantadas no Brasil.
Roberto Waack é presidente do conselho do Instituto Arapyaú e cofundador da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e da Concertação Amazônica, e atua nos conselhos de organizações como Natura & Co, re.green S.A., Marfrig S.A., Wise Plásticos S.A. e WWF Brasil.
Artigo publicado originalmente em news.mongabay.com/2025/01/brazils-innovative-reforestation-agenda-discussed-in-davos-commentary/
EN
Brazil’s ‘innovative’ reforestation agenda discussed in Davos
GUILHERME LEAL / PAULO HARTUNG / ROBERTO WAACK
21 JAN 2025
BRAZIL
Key Ideas
• At the World Economic Forum 2025 in Davos this week, a coalition of leaders from across Brazilian sectors will discuss the integrated, pre-competitive agenda needed to scale forest restoration.
• Forest restoration is a key part of successful climate action, providing carbon removal, biodiversity protection and sustainable economic growth, but it requires immediate investment and action, the authors of a new op-ed write.
• Brazil’s coordinated approach across business, finance, and conservation sectors has resulted in approximately $528 million in restoration investments in the past 18 months, setting a global example for impactful forest restoration and climate action.
• This post is a commentary. The views expressed are those of the authors, not necessarily Mongabay.
In the quiet Swiss town of Davos, Thomas Mann’s The Magic Mountain unfolds as young Hans Castorp’s brief visit to a sanatorium turns into a seven-year exploration of ideas, intrigue, and debates. The story ultimately becomes a metaphor for Europe’s isolation and decline before World War I.
Since the novel’s publication in the early 20th century, its themes have transcended Europe to reflect a world beset by geopolitical tensions. These tensions are compounded by escalating international conflicts and the repeated failure of United Nations conferences to address urgent climate and biodiversity challenges.
Amid this complex backdrop, the world’s leading economic and political figures are gathering once again in the symbolic town of Davos from January 20th to 24th for the 2025 World Economic Forum (WEF). Unique to this event is the mobilization of the private sector to lead the solutions-based agenda for the environmental and climate crises.
A coalition of leaders from the business and financial sectors is joining the conversation from Brazil, which is the host of this year’s COP30 in the heart of the Amazon. They are advancing one of the most strategic solutions for achieving climate balance and safeguarding nature: forest restoration.
Forest restoration is widely recognized as one of the most effective strategies for removing carbon from the atmosphere. Enhancing ecosystem services as a whole supports sustainable supply chains and creates pathways for long-term environmental and financial resilience. Yet, despite their promise, restoration projects require significant time to mature, and immediate action is needed to meet long-term goals.
The urgency of this work is underscored by the commitments of global tech leaders like Google, Microsoft, Meta, and Salesforce, which have pledged to purchase up to 20 million nature-based carbon removal credits by 2030. Apple has also doubled its Restoration Fund to expand high-quality nature-based solutions. However, these companies have raised concerns that their net-zero targets for 2030 may be at risk due to a shortage of available credits.
To bridge this gap, forest restoration efforts must scale rapidly. This requires increased investment and the establishment of shared standards to strengthen the tropical forest restoration industry and ensure timely, impactful results. Planting must begin now to generate the credits needed to meet ambitious climate goals within this critical timeframe.
In response to these challenges, the Brazilian coalition present at Davos has developed an approach based on an integrated pre-competitive model for restoration — one that blends mitigation, climate adaptation, and innovative business strategies. Their model aims to accelerate restoration efforts while ensuring alignment with environmental and economic priorities, providing a roadmap for scaling solutions at the required pace.
Brazil’s innovative agenda for restoration is both a response to pressing challenges and a reflection of its vast potential. Boasting the world’s greatest biodiversity, abundant water resources, favorable terrain and climate, the country is further supported by its institutional framework, an organized civil society, and a private sector eager to develop this new economy. It is estimated that approximately $528 million has been invested in restoration in Brazil in the last 18 months from across financial, conservation, and commodity industries.
Restoration is also gaining momentum beyond the borders of the Amazon, with Europe and the UK recognizing it as a key component of their climate and biodiversity strategies. In 2024, the EU committed to restoring 20% of degraded ecosystems by 2030, and the UK increased investments in rural reforestation to enhance climate resilience and water security. Denmark has also allocated 15% of farmland to reforestation to reduce fertilizer use and protect biodiversity. While these initiatives mark important global steps, they often face challenges in scale and integration, particularly in the coordination of stakeholders and alignment with local ecosystems.
Among the major innovations underway in Brazil is the ability of operators, financiers, and off-takers to coordinate around a pre-competitive restoration agenda. This strategy offers a solution to navigating the challenges of a promising yet demanding industry by emphasizing collective action to bring real progress.
The impact of the Brazilian restoration agenda is found by dividing these efforts into three action fronts: the sharing of operational experiences, developing effective markets for carbon, timber, and biodiversity products (essential to transform restoration into a viable asset class and ensure sustainable investment returns), and the creation of an institutional agenda focused on advancing public policies.
At the meeting in Davos, named “Collaboration for the Intelligent Age,” leaders of the pre-competitive forest restoration agenda will reaffirm the importance of this initiative through new investments and the commitment of a diverse group of stakeholders to work together. The cross-sector collaboration happening within Brazil will extend to the rest of the attendees at the WEF and help advance the coordinated global effort of nature-based solutions.
The restoration of forests provides a beacon toward climate and biodiversity protection – they are nature’s systems, developed over billions of years – which can help us return to a more prosperous and less turbulent era.
Guilherme Leal is a Brazilian businessman, socio-environmental entrepreneur and philanthropist, co-founder of Natura & Co and the Dengo chocolate brand, and is also the leader of The B Team.
Paulo Hartung is Executive President of the Brazilian Tree Industry (Ibá), a leading organization representing the planted tree sector in Brazil.
Roberto Waack is Chairman of the Board at the Arapyaú Institute and co-founder of the Brazil Climate, Forests, and Agriculture Coalition and the Amazon Concertation, and serves on the boards of organizations including Natura & Co, re.green S.A., Marfrig S.A., Wise Plásticos S.A., and WWF Brazil.