A Arena de Inovação, promovida pela Rede de Inovação da ABTCP, ocorreu de 1 a 3 de outubro durante o 56º Congresso e Exposição Internacional de Celulose e Papel. Este evento se destacou por reunir startups e grandes empresas, promovendo discussões relevantes sobre digitalização, economia circular e sustentabilidade, e apresentando soluções inovadoras para os desafios enfrentados pela indústria.
Cibersegurança e Digitalização
O primeiro dia da Arena de Inovação foi dedicado ao tema da cibersegurança na Indústria 4.0, abordando a importância da proteção dos sistemas industriais diante do avanço tecnológico. Moderado por Durval Garcia Jr., diretor de Projetos de Inovação da Alcance Innovation Consulting, o painel inaugural, intitulado “Cibersegurança na Indústria 4.0: Fortalecendo a Resiliência Digital nas Fábricas de Papel e Celulose”, contou com a presença de Flávio Mine, especialista em Engenharia de Confiabilidade na CENIBRA, e Mauro Libânio, Cybersecurity Tech Leader na Siemens Energy.
As discussões começaram com a exposição dos desafios que as indústrias de papel e celulose enfrentam ao integrar novas tecnologias, como sensoriamento e comunicação em nuvem, em infraestruturas muitas vezes obsoletas. Os painelistas enfatizaram a necessidade de fortalecer a resiliência digital, destacando que a modernização dos sistemas é crucial para evitar vulnerabilidades. “A indústria de papel possui uma infraestrutura tradicional, muitas vezes anterior às novas tecnologias digitais, gerando grandes desafios para integrar sistemas modernos com equipamentos mais antigos”, observou o moderador.
Flávio Mine alertou sobre os riscos associados à falta de procedimentos rigorosos de segurança cibernética, apontando que muitos incidentes decorrem de falhas humanas. “Na grande maioria das vezes, o problema cibernético vem do mau uso do usuário ou da falta de protocolos”, disse. Ele também destacou a importância de soluções de backup confiáveis, que se tornam essenciais em caso de ataques que podem comprometer as operações industriais.
O segundo painel do dia, “Tecnologias Habilitadoras e sua Aplicação no Desenvolvimento de Inovações”, trouxe contribuições de Péricles Teles, Sênior Sales Manager no Instituto Atlântico (EMBRAPII), Vinícius Bravim, diretor de Operações na Timenow, e Gobério Maia, do Senai CETIQT. Eles apresentaram como suas entidades estão desenvolvendo e implementando soluções tecnológicas inovadoras que visam otimizar processos e aumentar a eficiência nas indústrias.
A Timenow, por exemplo, destacou sua plataforma de inovação aberta, que conecta startups e grandes indústrias para o desenvolvimento conjunto de soluções. O dia também proporcionou um espaço valioso para networking, permitindo que os participantes estabelecessem conexões que poderiam resultar em futuros projetos de inovação. “O que a gente espera agora é que essas aproximações gerem projetos de inovação”, comentou Garcia Jr., expressando otimismo sobre as interações que ocorreram durante o evento.
Economia Circular e Reaproveitamento de Resíduos
O segundo dia da Arena de Inovação teve como foco a Economia Circular, um tema vital para o futuro da indústria de papel e celulose. A abertura, conduzida por Umberto Cinque, Head Técnico da ABTCP, contextualizou a importância da economia circular, explicando as diferenças entre resíduos e rejeitos. Ele apresentou os “quatro R’s” da economia circular — repensar, reduzir, reutilizar e reciclar — enfatizando que muitos resíduos gerados pela indústria de papel ainda possuem valor econômico e podem ser transformados em novos produtos.
Na sequência, Ricardo da Quinta, diretor industrial da Ibema, trouxe à tona os desafios enfrentados pelas indústrias de papel para manter um ciclo produtivo equilibrado. Segundo ele, a tecnologia de reciclagem não é o principal problema atualmente, mas sim a coleta irregular de materiais. “O grande desafio hoje não é a tecnologia de reciclagem, mas sim a coleta de materiais”, afirmou, ressaltando que a inconsistência na coleta compromete a produção e a eficiência das operações.
O segundo painel do dia foi uma vitrine de inovações. Lairton Leonardi, da SOLVO, apresentou uma solução de repolpação por cavitação que promete uma economia energética de até 40% em comparação aos métodos tradicionais. Luiz Barbante, da ProjeNet Flix, discutiu a aplicação de gêmeos digitais para simular processos industriais, permitindo a realização de testes sem interrupções nas operações reais.
Felipe Barbi Marcon, da ReciGreen, apresentou uma inovação voltada para o reaproveitamento de sacos de cimento, que permite a extração de celulose kraft desse material. “O espírito da Rede de Inovação é dar espaço para startups que oferecem soluções criativas”, destacou Garcia Jr. A tecnologia da ReciGreen, que foi premiada pelo Senai e recebeu a Declaração de Circularidade da Fiesp, demonstrou o potencial de reaproveitar materiais amplamente utilizados em obras, despertando o interesse de grandes empresas.
O dia também incluiu uma apresentação sobre propriedade intelectual e contratos de transferência de tecnologia, conduzida pela advogada Thereza Curi, do escritório Kasznar Leonardos. Ela ressaltou a importância da proteção dos direitos de propriedade intelectual em processos de inovação, um aspecto crucial para o desenvolvimento de novos produtos e tecnologias.
Inovação em Sustentabilidade
O terceiro dia da Arena de Inovação foi dedicado ao tema da sustentabilidade, com uma programação que visou explorar soluções inovadoras para desafios ambientais. A abertura foi novamente feita por Umberto Cinque, que reiterou a relevância da inovação no desenvolvimento de práticas sustentáveis no setor.
O primeiro painel, intitulado “Inovação em Embalagens: Desenvolvendo Soluções Seguras e Sustentáveis para Barreiras em Papel”, contou com a participação de Carlos Augusto Soares do Amaral, da Klabin, e Maria Teresa Borges, da Suzano, com moderação de Durval Garcia Jr. As discussões abordaram as oportunidades e desafios do uso de papel para embalagens sustentáveis, incluindo a celulose microfibrilada (MFC).
Maria Teresa destacou a necessidade de aprovação regulatória do MFC em algumas aplicações pela Anvisa, e Carlos Augusto trouxe uma visão internacional sobre os avanços na Europa. Ambos ressaltaram que a substituição total do plástico não é o foco, mas sim a utilização de papel em áreas onde o plástico é menos eficiente. O conceito de “sandbox regulatório” foi introduzido como uma possível solução para permitir inovações enquanto as regulamentações são ajustadas.
Na sequência, Germano Siqueira, diretor de Inovação da GrowPack, apresentou suas experiências em novas tecnologias aplicadas à sustentabilidade. A startup utiliza palha de milho para fabricar embalagens de polpa moldada e destacou a possibilidade de trabalhar com misturas de fibras para aprimorar as propriedades de resistência das embalagens, oferecendo um grande potencial para o setor florestal.
Encerrando o evento, Durval Garcia Jr. fez um balanço dos três dias da Arena de Inovação, enfatizando a importância de transformar as discussões em ações concretas. “Agora temos uma lição de casa: pegar tudo o que foi discutido, ver o que pode ser melhorado e transformar isso em projetos e oportunidades de negócio. Temos startups e empresas parceiras, muita coisa boa na mão, e precisamos aproveitar o momento”, afirmou, expressando entusiasmo sobre as possibilidades futuras.
A Arena de Inovação não apenas proporcionou um espaço valioso para discussões, mas também uniu startups e grandes empresas em torno do objetivo comum de promover um futuro mais sustentável e inovador para a indústria de papel e celulose.