No dia 4 de dezembro, a Fastmarkets, plataforma global de informações de preços e inteligência de mercado, especializada em commodities e produtos financeiros, promoveu o webinar “Lessons Learned from London Pulp Week and Predictions for 2025”, com participação de Patrick Cavanagh, economista sênior, e Bryan Smith, editor das publicações da companhia. O evento abordou temas críticos para o setor global de celulose, incluindo tendências de mercado, desafios econômicos e os aprendizados extraídos da London Pulp Week. As perspectivas para 2025 foram analisadas à luz de fatores como flutuação cambial, estoques elevados, novos projetos e desdobramentos macroeconômicos.
Produção e Estoques de celulose: o cenário atual
O mercado de celulose de mercado enfrenta um dos maiores desafios, com um excedente de estoques estimado em 1,4 milhão de toneladas até o final de 2024. Além disso, a entrada de cerca de 2,7 milhões de toneladas de nova capacidade no mercado em 2025, provenientes de projetos como a nova planta da Bracell em Lençóis Paulista (SP), deve intensificar a pressão sobre os preços. A Suzano, maior produtora global de celulose, anunciou a paralisação de 4% da sua produção para equilibrar estoques, enquanto a Bracell se prepara para uma nova planta com produção de 2,8 milhões de toneladas por ano. Mundialmente, outros projetos também deverão impactar o mercado nos próximos dois anos, conforme o gráfico.

No mercado de fibra longa, a situação está mais equilibrada, mas ainda desafiadora, apontou o economista Patrick Cavanagh. “Fatores como o fechamento da planta de Georgetown, da International Paper, e problemas na Brunswick Mill impactaram a produção de fluff, reduzindo a oferta global. Na Europa, os custos de madeira, que atingem níveis recordes, continuam pressionando produtores. A disponibilidade de fibra residual na região é uma questão crítica, com a Finlândia enfrentando riscos particularmente elevados”, apontou.
Impactos Macroeconômicos
O mercado de celulose está profundamente interligado à economia global, e a valorização do dólar americano desde 5 de novembro também é um fator determinante. “Um dólar mais forte prejudica o poder de compra de mercados como a Europa e a China, que juntos representam mais de 60% do consumo global de celulose. Ao mesmo tempo, reduz os custos de produção em regiões como Brasil e Canadá, criando uma dinâmica de deslocamento na curva de custos em dólares”, apontou Cavanagh.
Nesse sentido, Cavanagh indicou que os estoques elevados de celulose de fibra curta continuarão a pressionar os preços no mercado chinês, que já estão em níveis historicamente baixos. Por outro lado, estímulos econômicos no país, como incentivos ao setor imobiliário e ao consumo, podem trazer alívio. Analistas destacaram que, caso a China implemente pacotes de estímulo de aproximadamente US$ 500 bilhões, isso poderia aumentar significativamente a confiança do consumidor e sustentar a demanda por celulose de mercado e papel.
Riscos e Oportunidades em 2025
Entre os riscos destacados para o próximo ano, os principais são:
- Greves trabalhistas e portuárias: A continuidade de greves em portos estratégicos pode impactar o transporte de celulose, especialmente na América do Norte e na Europa.
- Desastres naturais: Eventos como incêndios florestais ou condições climáticas extremas podem comprometer o fornecimento de fibra.
- Queda na confiança do consumidor na China: O prolongamento da crise imobiliária e a falta de estímulos econômicos poderiam agravar o cenário.
Por outro lado, as oportunidades incluem:
- Racionalização de capacidade: Especialmente na China, onde o setor de papel enfrenta excesso de produção, com taxas operacionais abaixo de 70%.
- Reconstrução na Europa Oriental: A reconstrução na Ucrânia pode gerar maior demanda por madeira serrada, aumentando a disponibilidade de fibra residual para fábricas de celulose, especialmente na Finlândia.
A Fastmarkets também destacou a necessidade de atenção a interrupções inesperadas no fornecimento, como falhas mecânicas ou cortes abruptos de produção. Essas situações podem apertar o mercado rapidamente, criando picos de preços momentâneos.
Previsões para 2025
Os analistas acreditam que o tempo de inatividade de fábricas será uma variável central no próximo ano. A continuidade de cortes de produção no primeiro semestre será essencial para reequilibrar o mercado, especialmente no segmento de celulose de fibra curta. A Fastmarkets estima que cerca de 2 milhões de toneladas de paralisações adicionais seriam necessárias para estabilizar os preços globalmente.
Por fim, a restauração da confiança do consumidor na China e o fortalecimento da demanda global permanecem como os maiores desafios e oportunidades para o setor em 2025. Sem um aumento significativo no consumo, particularmente no mercado chinês, o mercado de celulose de mercado continuará enfrentando incertezas.
Do lado da demanda, o cenário permanecerá aquecido, com crescimento contínuo nos segmentos de embalagens e tissue.

“O setor de celulose entra em 2025 com desafios complexos, mas também com oportunidades estratégicas. Ações coordenadas para racionalizar a capacidade, fomentar estímulos econômicos e enfrentar interrupções de produção podem ajudar a reequilibrar o mercado. No entanto, a volatilidade permanece alta, exigindo atenção redobrada de produtores e stakeholders para navegar no cenário global em transformação”, concluiu Cavanagh.