A inauguração oficial ainda não aconteceu neste mês de agosto de 2024, mas a Revista O Papel conseguiu uma entrevista exclusiva com Maurício Miranda, diretor de Engenharia da Suzano, responsável pelo Projeto Cerrado. Leia a seguir o conteúdo completo da entrevista sobre como a mais moderna fábrica de celulose foi idealizada desde a escolha do local de instalação, passando pela capacitação da mão de obra e escolha das mais modernas tecnologias para atingir a eficiência operacional com práticas sustentáveis. O resultado? “Uma operação altamente competitiva e ambientalmente responsável”, resume Miranda.
O Papel – Como foi feita a escolha da cidade de Ribas do Rio Pardo-MS para receber a unidade fabril?
Maurício Miranda, Diretor de Engenharia da Suzano, Responsável pelo Projeto Cerrado – O Mato Grosso do Sul já integrava uma de nossas maiores operações no município de Três Lagoas. O estado é uma região privilegiada, onde se pode investir e produzir com vantagens físicas e econômicas visíveis. Possui rotas diversas de escoamento e abastecimento de produtos, espaço para implementação de grandes polos industriais, oportunidades de aprimorar mão de obra, dentre outras vantagens.
Além disso, o Mato Grosso do Sul tem uma grande disponibilidade de florestas plantadas, matéria-prima para a produção de celulose. Ribas do Rio Pardo está localizada a uma distância média estrutural das florestas de aproximadamente 65 km para abastecimento da nova fábrica, sendo 50% dessa logística realizada por hexatrens e em terrenos planos, o que facilita o plantio mecanizado. Isso coloca a nova fábrica da Suzano no centro da floresta plantada e no coração do estado, conferindo assim vantagens essenciais para o desenvolvimento do empreendimento.
O Papel – Houve incentivos do governo no projeto? Quais?
Maurício – Como normalmente ocorre, o governo disponibiliza alguns benefícios fiscais para incentivar a implantação do empreendimento, eles contam com contrapartidas, dentre as quais a qualificação e a utilização da mão de obra local.
O Papel – Quais foram os investimentos da Suzano em Ribas do Rio Pardo para receber a fábrica?
Maurício – Para que a cidade de Ribas do Rio Pardo pudesse receber a nova fábrica da Suzano, foram necessárias diversas adaptações, abrangendo desde a construção de habitações até melhorias significativas na infraestrutura local e na segurança pública. A chegada da fábrica trouxe um aumento substancial na demanda por moradias. Para atender a essa necessidade, a Suzano construiu 954 casas na área urbana da cidade, das quais 210 já foram concluídas e 115 entregues às famílias dos colaboradores da companhia. Esse projeto de habitação não apenas garantiu moradia adequada para os trabalhadores, mas também ajudou a aliviar a pressão sobre o mercado imobiliário local, que estava em alta, devido ao crescimento populacional. A construção dessas casas gerou 320 empregos diretos, fortalecendo o desenvolvimento socioeconômico de Ribas do Rio Pardo.
A Suzano investiu, ao todo, R$ 57,3 milhões em obras e equipamentos no município por meio do Plano Básico Ambiental (PBA). Este plano abrangeu 21 projetos nas áreas de saúde, educação, desenvolvimento social, habitação e segurança pública. Entre as entregas mais recentes estão a nova Delegacia de Polícia Civil e a Casa de Apoio ao Trabalhador, com investimentos de R$ 8,3 milhões. Além disso, a empresa entregou uma nova unidade de Estratégia de Saúde da Família (ESF) no bairro Estoril II e um caminhão Auto Bomba Tanque Florestal (ABTF) ao Corpo de Bombeiros Militar. A construção de uma nova Unidade Operacional da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na BR-262, com um investimento de R$ 7,3 milhões, foi outra medida crucial para melhorar a segurança na região. Essa unidade, juntamente com um sistema de comunicação avançado e uma viatura equipada, garante uma maior eficiência no policiamento da área, especialmente com o aumento do tráfego gerado pelas operações da fábrica.
A companhia investiu R$ 12 milhões nas obras de ampliação do Hospital Municipal Dr. José Maria Marques Domingues, além de destinar R$ 470 mil em equipamentos para dar suporte à realização de novos exames no laboratório; também entregou um ônibus de saúde com dois consultórios totalmente equipados para consultas em áreas remotas no município. A companhia ainda entregou à Prefeitura de Ribas do Rio Pardo, uma Casa de Acolhimento para crianças e adolescentes e a unidade de Estratégia de Saúde da Família (ESF) Nova Esperança no bairro Estoril II.
O Papel – Sobre os diferenciais competitivos do Projeto Cerrado, o que pode nos contar?
Maurício – O maior diferencial da nova fábrica em Ribas do Rio Pardo é a sua capacidade de combinar eficiência operacional com práticas sustentáveis, resultando em uma operação altamente competitiva e ambientalmente responsável. A unidade será a mais competitiva em termos de custos de produção de celulose dentre todos os complexos fabris da Suzano.
A unidade tem capacidade de gerar energia renovável de forma autossuficiente. Com uma potência instalada estimada de 466 MW médios, a fábrica não apenas atende a todas as suas necessidades energéticas, mas também produz um excedente potencial de 180 MW médio, o suficiente para abastecer uma cidade de 2,3 milhões de habitantes. Esse processo será realizado na Caldeira de Força e de Recuperação Química utilizando três turbogeradores. Essa energia é gerada a partir de biomassa, especialmente do licor preto (lignina) e das cascas das árvores de eucalipto, por meio da queima desses materiais para produzir vapor, que, por sua vez, aciona turbinas e geradores de energia elétrica.
Os resíduos celulósicos e cinzas resultantes da queima de biomassa serão reaproveitados para a agricultura, contribuindo para a fertilidade do solo e a produtividade agrícola. Parte dos resíduos será destinada à reciclagem energética, utilizada como biomassa para geração de energia renovável.
A fábrica também será autossuficiente nos principais insumos químicos essenciais para sua operação.
Esse conjunto de fatores não só posiciona a Suzano como líder no setor, mas também reforça sua convicção na capacidade de desenvolver novos mercados para a celulose, explorando novas aplicações sustentáveis para essa fibra.
O Papel – Quanto à mão de obra para construção da fábrica, como foi o processo de contratação?
Maurício – O processo de contratação foi estratégico, com a empresa buscando não apenas atender às necessidades imediatas da construção, mas também preparar o terreno para a operação futura da fábrica. A construção da nova fábrica gerou um significativo impacto no mercado de trabalho local, com a fase de pico da obra empregando até 10 mil trabalhadores diretos. Na fase de operação, a Suzano criou 3 mil postos de trabalho, englobando funções diretas e terceirizadas nas áreas industrial e florestal. A capacitação foi um aspecto central desse processo, com a empresa investindo fortemente em treinamentos para formar profissionais qualificados.
Desde o início do empreendimento, em parceria com o Senai, a Suzano formou mais de 200 profissionais para a silvicultura e mais de 370 para a colheita. Para atender às demandas futuras, foram ofertadas 552 vagas em 2023 e 666 em 2024 para formação na colheita, além de qualificações em operação logística e industrial, com uma taxa de contratação significativa entre os formados.
Até o final de 2024 serão ofertadas mais de 700 vagas para a formação na colheita. Já na operação logística serão mais de 300 vagas de formação, e na operação industrial já foram qualificadas com cursos técnicos e pós-técnicos 198 pessoas (66,6% contratadas). Dos(as) contratados(as), 83% são de Ribas do Rio Pardo e região.
Além do impacto econômico direto, a Suzano tem se dedicado ao desenvolvimento social, oferecendo formação a pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Desde 2022, foram formados 251 profissionais na cidade, em parceria com o Senai, Senac e a prefeitura, em áreas de serviços e comércio. Esse investimento em qualificação profissional impulsiona o desenvolvimento econômico local e a geração de renda, o que contribui para atingir a meta da companhia de retirar mais de 200 mil pessoas da linha da pobreza até 2030.
O Papel – Quais foram os programas de capacitação e adaptação para os trabalhadores efetivos da fábrica e suas famílias?
Maurício – Para preparar os colaboradores para suas novas funções, a Suzano inaugurou um moderno Centro de Treinamento Industrial na região, projetado para capacitar até 500 pessoas simultaneamente. O centro possui 18 salas de treinamento, todas equipadas com recursos técnicos avançados, incluindo simuladores de última geração que replicam as condições reais dos processos industriais da nova fábrica.
A formação no centro é realizada em três fases: estudos dirigidos sobre os processos e equipamentos das áreas de atuação; capacitação técnica específica de cada área e treinamento prático com os simuladores de processos.
Além disso, a Suzano garantiu que a maior parte dos profissionais estivesse integrada ao time mais de um ano antes da entrada em operação da fábrica, proporcionando tempo suficiente para a preparação adequada.
O Papel – Quais foram os projetos sociais realizados pela Suzano na região?
Maurício – Como parte do PBA, além dos citados anteriormente, a Suzano entregou 50 unidades habitacionais de interesse social à Prefeitura de Ribas do Rio Pardo, que passaram a integrar o Projeto Habitacional João-de-Barro do município. Ao todo, a empresa investiu R$ 7,55 milhões na construção das casas para facilitar e promover o acesso à moradia à população de baixa renda do município.
Além desses investimentos estruturais, a Suzano está aportando R$ 13,8 milhões em projetos sociais destinados à promoção do desenvolvimento local. Esses projetos cobrem diversas áreas, como a educação, com o Programa Suzano de Educação que capacita professores; a geração de renda, com investimentos em agricultura familiar e apicultura, e a proteção dos direitos, incluindo a prevenção da violência contra crianças, adolescentes e mulheres. Esses investimentos também abrangem o apoio à infraestrutura comunitária e o relacionamento com a população, garantindo canais de comunicação direta entre a empresa e a comunidade.
Entre os principais projetos sociais na região, destacam-se o Projeto Vaca Móvel, que qualifica famílias de assentamentos para melhorar a produção e comercialização de leite, e o Projeto Rufião Móvel, que oferece melhoramento genético para rebanhos. O Projeto Sacola Verde é outra iniciativa importante, que destina parte da produção agrícola para 290 famílias em situação de insegurança alimentar. Além disso, a Suzano promove cursos preparatórios gratuitos para o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) e o Programa Agente do Bem, que visa a defesa dos direitos de crianças e mulheres.
Também está sendo promovida a geração de trabalho e renda no campo, com a implantação de canteiros para a produção de reserva alimentar para animais, preparando-os para o período de estiagem. Esses esforços são parte da estratégia da Suzano para promover o desenvolvimento sustentável e reduzir a pobreza na região, alinhando suas atividades empresariais com o bem-estar das comunidades locais.
O Papel– Quanto aos impactos ambientais, quais foram as medidas tomadas pela Suzano para reduzi-los ao máximo?
Maurício – A Suzano implementou as mais modernas tecnologias e sistemas para controle ambiental. As principais frentes ambientais do projeto incluem a gaseificação da biomassa para substituição de combustível fóssil nos fornos de cal – esta será a primeira fábrica da Suzano com tal tecnologia –; a redução de 70% dos sólidos industriais destinados a aterros; a devolução de cerca de 85% da água utilizada na linha de produção industrial ao curso de água após tratamento; a conservação da biodiversidade, com mais de R$ 80 milhões investidos nas Unidades de Conservação do Mato Grosso do Sul, por meio de compensação ambiental. Esse investimento faz parte do Programa Básico Ambiental, que destina R$ 57,3 milhões em diversas áreas de desenvolvimento social e infraestrutura em Ribas do Rio Pardo.
Para tratar os efluentes líquidos gerados, a Suzano implementou uma Estação de Tratamento de Efluentes (ETE), responsável pelo tratamento de 100% dos efluentes. Esta ETE utiliza processos biológicos e de separação de sólidos, como aeração, para garantir a remoção eficaz de contaminantes. Também há uma Estação de Tratamento de Água das Caldeiras (ETAC) para fornecer água desmineralizada e uma lagoa para o recebimento de efluentes, assegurando a adequada gestão dos efluentes líquidos.