Cada vez mais o mercado de trabalho procura por novos talentos. Uma busca que pode ser traduzida, resumidamente, por uma série de qualificações: idiomas, especializações e até mesmo experiência profissional. Principalmente em um setor, como o de papel e celulose, que já enfrenta desafios na busca pela mão-de-obra qualificada, como os jovens querem ser percebidos neste mercado?
Essa é apenas uma questão. Atrair os talentos envolve compreender como eles estão se preparando para iniciar sua carreira, quais são as suas expectativas, entre outros fatores. Para responder estas e outras questões, a Revista O Papel entrevistou o recém-formado em Engenharia Industrial Madeireira, Wendel Pianca Demuner.
Um jovem determinado, objetivo e muito interessado em adquirir novos conhecimentos sobre o setor de celulose e papel. Assim é que se pode definir um pouco do jovem engenheiro, de 24 anos, que constrói sua carreira inspirado em seu pai, que atua há 33 anos no setor. Atraído por essa estabilidade e também por se identificar com a profissão, o jovem se dedica bastante para ter um futuro promissor.
Ele já conquistou, inclusive, o Prêmio Eucalipto pelo trabalho “Predição do impacto da madeira em fábrica kraft de eucalipto”, no Congresso e Exposição Internacional da ABTCP, realizado em 2011, quando era estagiário da gigante Fibria Celulose. Acreditando também na importância do idioma, Wendel se mudou para o Canadá, a fim de se aperfeiçoar na língua inglesa e conquistar mais oportunidades em nossa indústria que não para de crescer…
O Papel – Por que você escolheu este setor? Quais foram os principais motivadores?Wendel Demuner: Eu escolhi o setor de celulose e papel porque é uma das áreas de atuação do curso de Engenharia Industrial Madeireira. O meu maior motivador para iniciar esse curso na Universidade e seguir nesta área, com certeza, foi o meu pai, que trabalha na indústria de celulose – Fibria Celulose – há mais de 33 anos. Ele está sempre me incentivando e mostrando as ótimas oportunidades para seguir neste setor.
O Papel – Como você avaliava as oportunidades de trabalho e formação enquanto estudante? Quais eram as principais expectativas com o mercado de trabalho neste período? WD: Acredito que as oportunidades surgem de acordo com o interesse e vontade de crescer profissionalmente do estudante. Embora restrito para o profissional recém-formado, o mercado é amplo. Mas isso, só para quem realmente está apto a ingressar, ou seja, o estudante desde cedo precisa saber trabalhar a sua formação, e certamente, oportunidades aparecerão de acordo com o seu desenvolvimento e o que é alcançado.
O estudante em formação precisa sempre estar de olho sobre o que o mercado está pedindo no momento e o que está sendo pensado para o futuro. É de suma importância manter-se atualizado quanto ao que acontece no Brasil e nos países de ponta em tecnologia, como EUA, Canadá, Finlândia e Suécia e também através da ABTCP, TAPPI e das indústrias.
Aqui, projetos de iniciação científica desenvolvidos com indústrias certamente é uma grande janela de oportunidades para o estudante.
O Papel – Como você trabalhou sua candidatura nos trainees? Como selecionou as empresas?
WD: Eu ainda não procurei fazer nenhum processo pra trainee. Eu tive uma excelente oportunidade de estagiar na Fibria, durante um ano, o que me trouxe uma grande experiência e ajudou a abrir os horizontes. Logo após terminar o curso superior em fevereiro deste ano, decidi aperfeiçoar meu inglês aqui no Canadá. A decisão por estudar inglês foi por considerar esse ponto fundamental. Isso, se o estudante tiver ganância de querer se desenvolver profissionalmente. Neste caso, deve trabalhar essa questão desde cedo. Eu sugiro, inclusive, o estudante que tiver oportunidade fazer um intercâmbio durante a graduação. Além do inglês, passa a conhecer de forma mais ampla que o mundo não é estranho e que o mercado nada mais é do que uma grande “teia”.
O Papel – Quais as empresas mais desejadas pelos futuros profissionais, em sua opinião? WD: Acredito que a relação empresa x Universidade incentiva o desejo do estudante por uma empresa ou outra. Por exemplo, estudantes de Engenharia Industrial Madeireira, Engenharia Florestal ou Engenharia Química da Universidade Federal do Espírito Santo que pretendem seguir o setor estão mais propícios a desejarem a Fibria Celulose como espelho. Isso acontece pela proximidade, convênio e parceria através de trabalhos desenvolvidos entre elas.
Contudo, o estudante precisa ter conhecimento de toda a cadeia e não ficar restrito somente a uma empresa. No Brasil, eu destacaria algumas do setor de celulose e papel: Fibria, Cenibra, Suzano e Klabin, que são bastante almejadas pelos estudantes. Empresas com sede fora do Brasil também, como a Stora Enso, por exemplo.
Eu acredito que as empresas também precisam buscar parcerias fortes e incentivadoras com as Universidades e “ajudar” a formar esses profissionais. Afinal, são eles quem no futuro contribuirão positivamente para o setor.
O Papel – Hoje, o Brasil vive neste setor uma escassez da mão-de-obra qualificada. Você concorda com esta afirmação? WD: Sim, concordo. Existem muitas Universidades no exterior com os mais elevados padrões tecnológicos em laboratório para pesquisa e desenvolvimento e uma forte correlação com o mundo. No Brasil, temos sim ótimas Universidades, como o exemplo da Universidade Federal de Viçosa, que tem uma excelente estrutura para pesquisa e professores como o Dr. José Lívio e Dr. Jorge Colodette, que estão sempre em contato com o mundo, conhecendo novas tecnologias e novos desafios. Toda essa bagagem é transmitida a nós e passando essa bagagem de conhecimento para os estudantes da graduação, mestrado e doutorado. Tudo isso influencia em uma qualificação positiva do estudante para o mercado. Mas em geral, o Brasil está sim carente na formação de profissionais mais qualificados.
Normalmente estudar em uma Universidade no exterior não faz parte dos planos futuros da maioria dos estudantes. Esta é uma questão que parece incomum, mas é algo menos complexo, bem menos. Se o estudante tiver um bom currículo com bons estágios, trainees, publicações, projeto de iniciação científica, boas indicações / cartas de recomendação, TOEFL, ele, certamente, será um forte candidato a ser aprovado em um mestrado ou um Doutorado em qualquer escola no exterior, com bolsa de estudos e moradia em campus.
Assim, surgem os profissionais diferenciados no mercado. Quando falamos em mão-de-obra especializada é isso: desenvolver uma carreira com a mesma qualificação de qualquer profissional estrangeiro.
O Papel – Como você avalia o aprendizado na universidade, aplicado na prática? Você acredita que as universidades em geral atendem essa necessidade por mão-de-obra qualificada?WD: A academia nos prepara para muita coisa, mas a verdadeira experiência em indústria, isso não é possível ser passado na academia. Essa questão também varia de acordo com a Universidade e o que ela oferece, como convênios com empresas, visitas técnicas, viabilidade e condição de laboratórios, entre outros. Todas essas questões influenciam na formação do aluno. Mas em geral, acredito que estudantes de graduação não estão aptos e preparados o suficiente para exercer cargos de responsabilidades específicas. Hoje, as indústrias buscam profissionais altamente capacitados, com no mínimo um grau de mestrado ou especialização, experiência e outras características que um graduado ainda não possui.
O Papel – Durante o período de formação e após a sua graduação, quais foram os principais desafios que você enfrentou?WD: Conseguir estágio em uma grande empresa foi um desafio. Realizei um estágio supervisionado no Centro de Tecnologia da Fibria Celulose, com grandes profissionais renomeados internacionalmente. Durante esse estágio, tive os maiores desafios durante minha graduação: em um estágio, o estudante tem que ter um comportamento igual a qualquer empregado da empresa, mostrar total empenho / interesse, estar sempre atento a detalhes, boa relação interpessoal, espírito de liderança, saber trabalhar em equipe, procurar ser um diferencial para quando essa fase acabar, ser lembrado. Para mim, isso foi um grande desafio e um grande aprendizado.
Hoje, posso falar: nenhum estudante poderia se formar sem realizar um bom estágio em uma grande empresa. A visão adquirida através disso é incomparável.
O Papel – Qual é o principal diferencial desejado que pelas empresas hoje, em sua opinião?WD: Se a empresa está à procura de “jovens profissionais” certamente ela vai avaliar o que o estudante buscou durante a graduação. Estágios, projetos de pesquisa, trabalhos realizados com o perfil da empresa, perfil do estudante (networking, relação interpessoal), espírito de liderança, premiações, diferenciais. (O estudante é quem faz sua própria carreira).
Mas em geral, as empresas buscam profissionais mais completos. Em minha opinião, o profissional recém-formado precisa estar mais preparado para enfrentar desafios requeridos no cotidiano de uma empresa e não tem que ter pressa para conseguir um emprego (a não ser que precise). Os jovens também precisam estudar mais, se especializar mais, buscar ser um profissional com habilidades distintas, assim, sua posição na empresa certamente será diferenciada.
O Papel – Como você pretende trabalhar a sua carreira profissional?WD: Meu próximo objetivo é realizar o exame TOEFL iBT e em seguida ingressar meu Masters Degree em Nanotecnologia / Nano celulose em uma Universidade no exterior ainda esse ano. Em seguida, eu ainda não pensei se vou querer ingressar logo em um Doutorado, ou se vou querer ir para a indústria antes disso – para conquistar mais experiência. Esse é um ponto para decidir um pouco mais a frente.
O Papel – Qual a dica que você deixaria para aqueles que estão iniciando os estudos nessa área? WD:
• A indústria precisa de pessoal diferenciado, portanto, trabalhe a sua carreira para entrar na indústria em posição privilegiada e estratégica;
• Durante a graduação, procure desenvolver projetos de pesquisa e realizar estágios em grandes empresas/indústrias, pois esse é o principal link Estudante x empresa – extrair o máximo de aprendizado;
• Muitos assuntos no setor já estão saturados, o estudante precisa ter uma visão de futuro para ingressar em um mestrado com um tema inovador, diferenciado e de interesse industrial/comercial – No meu caso, vou iniciar meu Masters Degree em Nanotecnologia – Nano celulose / Busque esse tema em congressos, conferencias, entre em contato com profissionais do setor;
• Seja ousado nos seus objetivos, queira buscar longe seus ideais.