O mercado de papel tissue vem apresentando crescimento significativo no Brasil. Nos últimos 15 anos, de acordo com a Indústria Brasileira de Árvores – IBÁ, o consumo de produtos tissue no Brasil aumentou 56,3%, atingindo a marca de 1,4 milhão de toneladas em 2024.
Porém, quando comparado a outros países da América Latina, o consumo anual de papel tissue no Brasil, de 6 kg per capita, se mostra muito abaixo da média. O Chile, que possui população menor do que o País, consome hoje a média de 14 kg por ano.
Ou seja, somando a elevação de renda habitual do brasileiro, que segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), subiu 3,77% em 2024 e o aumento dos padrões de higiene no país, o Brasil possui um grande potencial de crescimento do setor.
Tendo este potencial em vista, grandes players do mercado fizeram importantes aportes em capacidade e aquisições no setor como a Bracell Papéis, que recentemente adquiriu a OL Papéis, e a Suzano, que fez aquisição de ativos do negócio de tissue da Kimberly-Clark.
Além disso, em entrevista ao Newspulpaper, Eduardo Aron, diretor geral da Bracell Papéis, disse que a empresa tem investido de forma consistente para ampliar a capacidade produtiva e acompanhar o crescimento do mercado de tissue.
“A nossa fábrica de Lençóis Paulista é um marco nessa estratégia. Com um investimento de R$ 2,5 bilhões, essa unidade é uma das mais modernas e sustentáveis do mundo, ampliando nossa capacidade total para 290 mil toneladas/ano, das quais 240 mil toneladas provêm dessa operação”, afirmou Aron.
Na mesma linha, Luis Bueno, vice-presidente executivo de bens de consumo e relações corporativas da Suzano, durante o evento Suzano Investor Day 2024, realizado em dezembro, também falou ao Newspulpaper sobre os investimentos da empresa.
“A Suzano fez um investimento de R$ 650 milhões para construção de uma nova fábrica de papel tissue localizada em Aracruz, no Espírito Santo. Essa nova planta aumentará em 60 mil toneladas a nossa produção de papel tissue, o que vai elevar a capacidade total para 340 mil toneladas, incluindo as plantas no Pará até Mogi das Cruzes, em São Paulo”, disse Bueno.
Embora haja uma visão positiva do mercado para as empresas, Rafael Barisaukas, economista para América Latina na Fastmarkets e professor de economia na FECAP, explica que apesar de o Brasil ser um grande produtor de matéria prima, é importante lembrar que a indústria brasileira de tissue é exposta aos preços internacionais de celulose e de químicos, uma vez que a produção doméstica tende a ser direcionada ao mercado externo, que paga em dólares.
“A variação cambial afeta diretamente os custos do setor de forma agregada. Analisando os últimos anos, a taxa de câmbio média passou de R$4,90/US$ em dezembro de 2023 para R$6,11/US$ ao final de 2024, uma valorização de 25%, que tem elevado ininterruptamente o custo produtivo do mercado de tissue desde abril de 2024”, pontuou o economista da Fastmarkets.
Apesar disso, Barisauskas acrescenta que em 2024 os preços do papel higiênico, medidos pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), caíram 1,50% no ano versus 2023, enquanto absorventes higiênicos subiram 1,13% no período, valores muito abaixo da variação total do INPC de alta de 4,77% no ano e do IPCA a 4,83%, de acordo com o IBGE.
“Assim, a indústria naturalmente vê margens mais apertadas e uma maior competição pelo market share da venda na ponta. Principalmente aos produtores não-integrados, que ficam muito mais expostos à volatilidade na compra de insumos”, completa o especialista.
Então o que esperar para o setor de tissue em 2025?
Apesar dos desafios, a Bracell segue avançando com um projeto estratégico para instalar duas novas máquinas de papel, que aumentarão a capacidade produtiva da empresa em 120 mil toneladas/ano. “Essa expansão nos prepara para atender de forma ainda mais eficiente à crescente demanda do mercado interno e às oportunidades internacionais”, disse Aron.
Quanto a produtos, a linha Supra segue como o grande destaque da Bracell Papéis no segmento premium, oferecendo papel higiênico com diferenciais de sofisticação, maciez e alta qualidade. “Voltado para consumidores que buscam conforto e performance superiores, isso reforça nosso compromisso com a excelência e a inovação, consolidando-se como referência no mercado”, acrescentou o executivo.

Já a marca Familiar, reconhecida pela relação entre qualidade e preço competitivo, continua ampliando sua presença e atendendo diferentes perfis de consumidores. Com versões acessíveis e confiáveis, garante uma alternativa de alto custo-benefício para o dia a dia.
“No segmento de papel toalha, contamos com a marca Absoluto, que se destaca pela resistência e alto poder de absorção, sendo ideal para múltiplos usos. Com um portfólio que equilibra inovação, qualidade e variedade, seguimos ampliando nossa presença no mercado e fortalecendo nossa competitividade”, completou o diretor da Bracell Papéis.
Para ele, com essa estrutura, a empresa está cada vez mais preparada para novas oportunidades de crescimento.
Já para a Suzano, Bueno explicou que, com o aumento de capacidade nas plantas, a empresa está ampliando seu portfólio de produtos para atender diferentes públicos de distintas categorias.
“Estamos lançando o Neve Ultracomfort, que terá folhas quádruplas para atender o público que consome papel higiênico premium. Para o público que consome produtos de preço médio, temos o Mimmo, enquanto para o público que procura produtos com preço baixo, temos o Max”, disse o vice-presidente executivo de bens de consumo e relações corporativas da Suzano.

Segundo Barisauskas, a projeção é a continuidade de um cenário bastante desafiador para empresas do setor. “Esperamos alta para os demais indicadores relacionados aos custos de produção, com alta nos preços internacionais de celulose, aumento na taxa de câmbio e demais custos como energia e trabalho. Na ponta de venda, também projetamos alta nos preços, mas a uma taxa muito inferior à dos custos, o que deve significar um ambiente desafiador e com margens apertadas”.
Apesar disso, ele estima que em 2025 o consumo de tissue no Brasil continue crescendo, e atinja 1,5 milhão de toneladas ao final do ano, o que significará uma alta de 2,7% ante 2024.