A Complexidade Do Mercado De Energia Elétrica No Brasil

    A COMPLEXIDADE DO MERCADO DE ENERGIA
    ELÉTRICA NO BRASIL
    PARTE 2

    No segundo artigo da série “A Complexidade do Mercado
    de Energia Elétrica no Brasil”, vou apresentar a
    vocês, leitores, alguns aspectos relacionados ao preço
    final da energia elétrica do consumidor comum,
    ou seja, o consumidor domiciliar e as atividades de comércio e
    serviço de micro e pequeno porte. Para os consumidores rurais
    e os de grande porte (indústria, comércio e serviços), como é de
    se esperar, há um vasto emaranhado de normas para tornar a
    atividade empresarial mais difícil.
    Conforme foi abordado no artigo da Parte 1 (Revista O Papel
    – julho/2021), o mercado de energia elétrica no Brasil possui,
    resumidamente, os seguintes atores: usinas geradoras de energia,
    empresas de transmissão de energia, companhias de distribuição
    de energia elétrica, o consumidor e o ente Estatal (União,
    Estados e Municípios). O papel de cada um está sintetizado a
    seguir:
    • Geração: reúne as usinas que geram energia elétrica utilizando
    diferentes tipos de geração (hidrelétricas, termelétricas,
    usinas atômicas, fotovoltaicas e eólicas) e os mais diversos
    portes. As usinas devem estar conectadas às linhas de
    transmissão de energia elétrica.
    • Transmissão: engloba as empresas que transportam a energia
    elétrica entre a usina de geração e as estações/subestações
    de energia. Como a própria ANEEL (Agência Nacional
    de Energia Elétrica) define em sua ampla gama de relatórios,
    ela optou por deixar este segmento como “monopolista”.
    • Distribuição: companhias que conectam os consumidores
    às estações/subestações de energia. São responsáveis por
    realizar a medição do consumo de energia e a cobrança da
    tarifa de energia de cada consumidor final. Dependendo da
    legislação municipal, também é responsável pela execução e
    manutenção da iluminação pública. Assim como na transmissão,
    a ANEEL considera este segmento um monopólio
    regional para cada empresa participante.
    • Consumo: corresponde a todos os consumidores finais de
    energia elétrica, pessoa física ou privada, seja ente privado
    ou público, de todos os portes e atividades econômicas.
    • Regulação, fiscalização e tributação: compreende os entes
    federados (União, Estados e Municípios) que realizam em
    cada esfera o planejamento, a coordenação e o controle do
    sistema nacional de energia elétrica. Implementa normativas,
    direciona políticas públicas e determina as alíquotas dos
    impostos sobre o consumo.
    Também já foi comentado que o sistema normativo que regra
    a geração, distribuição e consumo de energia elétrica no País
    é complexo e pouco eficiente. Uma das principais explicações
    para isso se deve ao fato do centralismo do controle do sistema
    nacional, que acaba gerando distorções a cada nova adequação
    legal e muito pouca competitividade. Em resumo, o resultado é
    uma tarifa elevada para o consumidor e, dependendo da região
    do País, um serviço de qualidade contestável (quedas de energia,
    oscilações frequentes que provocam a queima de aparelhos
    elétricos e impossibilidade de aumento de consumo de energia
    elétrica via instalação de novos grandes consumidores).
    Um dos conceitos usados pela ANEEL e que demonstra de
    forma incontestável a baixa qualidade do setor no Brasil diz respeito
    às perdas de energia. São definidos dois conceitos: perdas
    técnicas e perdas não técnicas.
    • Perdas Técnicas: são perdas de energia que ocorrem naturalmente
    ao longo da rede de transmissão (energia elétrica
    que se transforma em calor, que se dissipa em núcleos
    de transformadores etc.). De concreto, quanto mais longa
    a distância de transporte da energia, maior é o percentual
    de perdas. O mesmo ocorre pelo uso de equipamentos com
    manutenção deficitária ou tecnologicamente ultrapassados.
    • Perdas Não Técnicas: considera toda a diferença restante
    entre a quantidade de energia gerada e o que é efetivamente
    faturado dos consumidores. Entram nessa contabilidade
    o furto de energia (“gatos” ou ligações diretas da rede), a
    fraude/adulteração de medidores, os erros e/ou incertezas
    de medição nas unidades consumidoras e outros.
    A Figura 1 mostra o panorama geral de perdas de energia
    do SIN (Sistema Interligado Nacional). Infelizmente os dados
    disponíveis mais atuais são de 2019. De todo modo, a situação
    não é boa. Em termos de Perdas Técnicas, temos atualmente
    uma taxa média de 8% para o País, patamar que tem se mantido
    estável ao longo tempo. Considerando as diferentes realidades
    estaduais, temos uma amplitude significativa deste indicador:
    entre 2% e 12%. A mesma Figura mostra uma situação muito
    mais dramática no caso das Perdas Não Técnicas, cujo índice
    nacional médio é atualmente de 6%, alcançando em alguns estados
    36% de perdas.
    Caso ambos os percentuais sejam somados (Perdas Técnicas
    e Não Técnicas), temos então o percentual de Perdas Totais. E é
    nesse cenário que o leitor deve ficar perplexo em saber que, na
    média nacional, quase 15% da energia gerada pelo País se perde.
    A Figura 2 mostra as diferentes realidades de Perdas Totais de
    Energia em cada estado. Vê-se claramente que estados majoritariamente
    da região Norte e Nordeste, incluindo o Rio de Janeiro,
    são campeões em perdas de energia. No sentido contrário, os
    bons exemplos nacionais são o Paraná e Santa Catarina, nesta
    ordem. Importante destacar que em dez estados, há presença de
    mais de uma companhia distribuidora, por isso nestes é mostrado
    uma amplitude de valores.
    E como já foi destacado na Parte 1 da série de artigos sobre
    o mercado de energia, todos os custos das inconsistências do
    sistema e baixa competitividade entre as empresas são pagos
    pelo consumidor final. E isso tudo se reflete na Tarifa de Energia
    Elétrica.
    A composição média da Tarifa de Energia Elétrica brasi-leira pode ser vista na Figura 3. De imediato, se vê que quase
    1/3 do custo médio de energia no País se deve à elevadíssima
    carga tributária, já que este custo não gera nenhum benefício
    direto ao sistema e ao consumidor. O imposto de maior impacto
    é o ICMS, de cunho estadual. Mais da metade do valor da
    tarifa é composta pelos custos de geração de energia (no artigo
    anterior apresentamos uma média nacional atual de cerca
    de R$ 235/MW), somados à transmissão, os custos adicionais
    de variação de bandeiras tarifárias (quando há necessidade de
    ligação das usinas termelétricas vencedoras dos leilões de energia
    de reserva) e os custos de iluminação pública. Também entram
    nessa conta os subsídios setoriais e de tipos especiais de
    consumidores (como agricultura familiar e população de baixa
    renda). O restante dos custos se refere à distribuição.

    E a complexidade do entendimento do SIN não para por aí.
    Além das Bandeiras Tarifárias (que variam entre Verde, onde
    não há custo adicional de energia para o consumidor, passando
    para Amarela, Vermelha I e Vermelha II, cada qual imputando
    acréscimos de preços à tarifa), o País também implementou o
    conceito de Posto Tarifário, o que resumidamente é uma variação
    do valor da tarifa de acordo com o período do dia. Assim,
    parte dos consumidores está sujeito a uma Tarifa Convencional
    (cujo valor é fixo ao longo de todo o dia), enquanto parte dos
    consumidores está condicionado ao pagamento de diferentes
    valores de tarifa ao longo do dia. Esta segunda alternativa chama-
    se Tarifa Branca, e prevê custos de energia mais altos para os
    períodos de pico de consumo.
    A Figura 4 mostra o exemplo da Tarifa Branca adotada por
    uma das Distribuidoras de Energia em operação no País. Em
    caráter meramente ilustrativo, selecionei a empresa Copel Distribuição.
    Importante destacar que os valores mostrados não
    contemplam a Taxa de Iluminação Pública e os Impostos. No
    exemplo selecionado, a tarifa convencional da empresa é de
    R$ 0,56/KW, independente da fase do dia. Já na Tarifa Branca,
    o horário entre 18h e 21h representa o pico de preços tarifários,
    justamente o momento em que as famílias estão em casa após a
    chegada do trabalho e da escola.
    Por fim, para encerrar a presente análise, está disponível
    na Figura 5 um ranking das tarifas de energia elétrica
    de cada estado. Mais uma vez, os valores de impostos e
    de iluminação pública não foram acrescidos. Considerando
    os valores médios nacionais, o Distrito Federal é o líder
    com a menor tarifa de energia elétrica. Cabe destaque para
    a elevada Tarifa Branca – Ponta dos estados do Paraná, Rio
    Grande do Sul, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Estes quatro
    estados possuem mais de uma Distribuidora de Energia
    Elétrica e a realidade de custos é bastante variável em regiões
    dentro do mesmo estado.

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