A recente decisão dos Estados Unidos de impor tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio repercute no setor florestal brasileiro, especialmente devido à relação entre a siderurgia e a demanda por carvão vegetal. A medida anunciada pelo governo de Donald Trump impacta diretamente as exportações brasileiras e abre um novo capítulo na disputa comercial com a China, que pode gerar tanto desafios quanto oportunidades para o Brasil. O país é o quarto maior fornecedor de ferro e aço aos EUA – 54% das exportações brasileiras desses produtos são para o país.
O Instituto Aço Brasil demonstrou preocupação com a decisão, ressaltando que a restrição pode sobrecarregar o mercado interno brasileiro com produtos estrangeiros de países que perdem espaço nos EUA, ampliando a concorrência predatória. A Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) compartilha da mesma inquietação, alertando para um possível aumento da oferta desses produtos no Brasil a preços abaixo do mercado. No entanto, especialistas apontam que a medida também pode fortalecer a posição do Brasil em outros segmentos, como commodities e agronegócio.
Segundo Marcelo Schmid, consultor do Grupo Index/Arvor Business Advisory, em sua mais recente publicação, a indústria siderúrgica brasileira é grande consumidora de carvão vegetal, cuja produção é diretamente ligada ao setor florestal. Minas Gerais, um dos principais polos da siderurgia no país, pode sentir os efeitos da redução nas exportações de aço para os EUA, afetando a demanda por carvão vegetal e pressionando o mercado interno. “É preciso cautela e paciência diante das estratégias de negociação do governo norte-americano”, afirma Schmid, destacando que os Estados Unidos também dependem das importações brasileiras de aço.
Ele complementa ainda que, “considerando especificamente o comércio dos principais itens da cadeia do aço – carvão, aço e máquinas e equipamentos – Estados Unidos e Brasil formam uma corrente de comércio de US$ 7,6 bilhões, sendo os Estados Unidos superavitários em US$ 3 bilhões. Ou seja, a parceria comercial tem sido favorável para os Estados Unidos”, pontuou Schmid afirmando que “ao longo dos próximos meses, à medida que a retórica da mesa de negociação vier para os acordos comerciais, talvez percebamos que os Estados Unidos precisam muito mais de nós do que imaginam.”
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também emitiu comunicado lamentando a decisão do governo dos Estados Unidos, dizendo que está atenta à implementação das taxas e, junto ao governo brasileiro, buscará diálogo com os EUA na tentativa de reverter a decisão.
“Essa medida é prejudicial tanto para a indústria brasileira quanto para a norte-americana. Lamentamos a decisão e vamos atuar em busca do diálogo para mostrar que há caminhos para que seja revertida. Temos todo o interesse em manter a melhor relação comercial com os EUA, que hoje são o principal destino dos produtos manufaturados do Brasil, mas precisamos conciliar os interesses dos setores produtivos dos dois países”, afirmou o presidente da CNI, Ricardo Alban.
Por outro lado, a consultoria Martinelli Advogados avalia que o Brasil pode se beneficiar dessa nova configuração do comércio internacional. O advogado Lucas Moreira Gonçalves destaca que a guerra comercial abre espaço para que o Brasil aumente sua participação em mercados antes dominados pelos EUA e pela China. “A China já ampliou suas importações de soja e carne bovina do Brasil, e há um movimento de diversificação de fornecedores de celulose e minério de ferro”, explica Moreira. A crescente busca por cadeias de suprimentos seguras pode favorecer ainda mais o setor florestal brasileiro, que já se destaca na produção sustentável de madeira e biomassa.
O Instituto Aço Brasil, por sua vez, defende a reabertura do diálogo entre Brasil e Estados Unidos para restaurar o acordo de exportação firmado em 2018, que permitia cotas de aço sem a incidência da tarifa integral. A entidade reforça que o Brasil não pratica a chamada “circunvenção”, ou seja, não serve de intermediário para a reexportação de produtos siderúrgicos de outros países para os EUA.
Diante desse cenário, o setor florestal brasileiro precisará monitorar os desdobramentos das disputas tarifárias e se posicionar estrategicamente para minimizar impactos e maximizar oportunidades. Enquanto a incerteza predomina, a capacidade de adaptação e a exploração de novos mercados serão decisivas para garantir a competitividade da indústria florestal e sua conexão com os setores de siderurgia e biomassa.
Resumo – Impactos da Tarifa dos EUA de 25% sobre o aço para o Setor Florestal Brasileiro
Necessidade de monitoramento e adaptação: O setor florestal precisa acompanhar os desdobramentos tarifários e explorar novos mercados para minimizar impactos e fortalecer sua competitividade.
Repercussão no setor florestal: A medida afeta indiretamente a demanda por carvão vegetal, essencial para a siderurgia, impactando Minas Gerais e outras regiões produtoras.
Concorrência interna no Brasil: Com a restrição nos EUA, produtos estrangeiros podem inundar o mercado brasileiro, pressionando os preços e afetando siderúrgicas nacionais.
Dependência comercial entre Brasil e EUA: O comércio bilateral de aço e seus insumos soma US$ 7,6 bilhões, com os EUA superavitários em US$ 3 bilhões, o que pode levar a negociações mais flexíveis no futuro.
Possíveis oportunidades comerciais: A guerra comercial pode abrir espaço para o Brasil ampliar sua participação em mercados de commodities, como celulose, soja e carne bovina, antes dominados pelos EUA e China.
Dados sobre o comércio de ferro e aço
- O Brasil exportou US$ 4,1 bilhões FOB desses produtos para os EUA em 2024. É o principal destino das exportações brasileiras desse produto.
- Esse total correspondeu a 54,4% das exportações brasileiras desses produtos para o mundo.
- O valor corresponde a 1,2% das exportações brasileiras totais de bens.
- Os produtos citados no decreto presidencial correspondem a 10,4% do valor exportado brasileiro para os Estados Unidos em 2024.
- Além dos Estados Unidos, os demais principais parceiros comerciais do Brasil na exportação de produtos de ferro e aço citados no decreto presidencial das tarifas incluem México (4,6% do valor exportado), Canadá (3,7%), Peru (2,7%), República Dominicana (2,7%) e França (2,3%).
- O Brasil foi a 4ª principal origem das importações americanas dos produtos de ferro e aço citados no decreto no ano de 2023, com 8,2% do total importado. Os principais países dos quais os EUA importam esse produto são Canadá (23,4% do total importado), México (12,4%) e Coreia do Sul (9,7%).
Fonte: MDIC/ Reprodução CNI