A Rede Mulher Florestal lançou hoje, 5 de março, a nova versão do Panorama de Gênero do Setor Florestal com apontamentos que demonstram importantes desafios a serem superados e oportunidades para a implantação de melhorias a partir das iniciativas das empresas em relação às mulheres e outras questões ligadas à gênero.
No início de seus trabalhos, a organização independente criada no ano de 2018 e formada por um grupo de pessoas e empresas do setor de base florestal com o objetivo de promover e auxiliar a inclusão e diversidade em uma indústria predominantemente masculina, observou que uma pergunta básica precisava ser respondida: quantas mulheres trabalhavam no setor e onde elas estavam?
Foi a partir desta pergunta que a organização criou o documento que propõe a mensuração da diversidade de gênero no setor. O panorama teve sua primeira edição publicada em 2020 e contou com 21 organizações respondentes, o que representou um marco significativo e o ponto de partida na promoção das ações em prol da equidade entre homens e mulheres. Já nesta edição e na anterior o número foram 32 organizações respondentes.
Os resultados da pesquisa foram apresentados em evento online que contou com a participação das suas representantes Bárbara Bomfim, atual presidente, Maria Harumi Yoshioka, diretora; Tatiana Arriel, secretária executiva; Mouana Sioufi Fonseca, gerente de relações institucionais e responsabilidade social da Bracell e Carla Garcia, coordenadora de melhoramento energético da Veracel.
Conforme o Panorama de Gênero do Setor Florestal, nas diferentes regiões das organizações, comparada ao panorama de 2021, houve crescimento no número de mulheres apenas nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, como mostra o gráfico abaixo:
No setor de Celulose e Papel houve um aumento de 3% no número de mulheres nos quadros das empresas subindo de 37% para 40%.
Infelizmente a proporção entre mulheres e homens comparada ao panorama de 2021 diminuiu de 19% para 18% em 2023.
Já em relação a cor e raça das mulheres nas organizações, a composição fica em 51% de mulheres brancas, 47% de mulheres pretas ou pardas, 2% de mulheres de pele amarela e zero por cento de indígenas.
Quando falamos sobre a proporção de mulheres e homens por área e cargo, temos uma maior presença de mulheres nas áreas: administrativas, meio ambiente, qualidade, certificação e social, saúde e segurança do trabalho, além de viveiros e pesquisa e desenvolvimento, enquanto nos setores de colheita e carregamento, proteção florestal e patrimonial e estradas florestais a predominância dos homens é quase absoluta.
Quando vemos a evolução da participação de mulheres por áreas comparada aos panoramas de 2022 e 2021, houve um aumento em todos os setores, exceto nas áreas de abastecimento, comercial e viveiros.
Em relação à proporção de homens e mulheres por cargo, a única em que as mulheres são maioria é na área de diretoria de RH, enquanto na diretoria de sustentabilidade ficam 50 a 50.
Chama atenção o fato de que o número de CEOs mulheres diminuiu de 12% para 10% e no setor de diretoria de sustentabilidade existe uma queda ainda maior de 67% para apenas 50%.
Houve também uma apuração sobre as políticas e práticas para inclusão das mulheres no setor. Em todas as empresas que responderam à pesquisa, houve um aumento nas ações para inclusão e diversidade.
Mais profundo ainda é o estudo das ações adotadas pelas organizações por diferentes grupos minoritários.
Além do crescimento das políticas de inclusão feminina, ocorreu um aumento nos grupos de pessoas com necessidades especiais, étnico raciais, na comunidade LGBTQIA+, gerações, comunidade trans e de pessoas com outras identidades de gênero, ficando apenas as classes sociais com a mesma porcentagem.
Infelizmente um problema grave que persiste mesmo após tantos anos é a diferença salarial entre homens e mulheres. Nos cargos de alta gestão essa diferença é de quase 26%, nos cargos de liderança média vemos uma pequena melhora, mas ainda existe uma diferença de 18%.
Diante deste panorama geral, fica a pergunta: Quais são as barreiras que ainda persistem para a promoção da equidade de gênero no setor de base florestal?
Segundo o estudo, as empresas apontam como desafios o domínio masculino no setor, a escassez de profissionais capacitadas para trabalhar na área, a discriminação de gênero, a falta de sensibilidade dos líderes em relação à maternidade e a amamentação e até mesmo o assédio sexual.
Mas, embora tenhamos barreiras e um longo caminho para percorrer, algumas empresas têm implementado práticas e políticas de grande importância para que as mulheres continuem empregadas após a licença maternidade/ adoção. Vide gráfico abaixo:
O documento apresenta ainda os Casos de Sucesso nas empresas do setor. São exemplos:
Bracell
1. Projeto Dona Dela Bracell
Neste projeto, que tem como objetivo impulsionar autonomia financeira das mulheres e o empreendedorismo feminino, foram oferecidas capacitações gratuitas sobre empreendedorismo e gestão do negócio por profissionais especializadas na área. Cinco mulheres do grupo de empreendedoras receberam um prêmio financeiro de R$ 10 mil cada para investirem no seu negócio e algumas se tornaram fornecedoras da Bracell.
2. Programa de fomento a negócios de impacto
O primeiro deles é a iniciativa fábrica de fardamentos. Nele, uma cooperativa de mulheres costureiras receberam infraestrutura e treinamento necessário para trabalhar com costura para a área industrial.
O segundo é o programa Farmácia Verde, que estimula o empoderamento feminino e o desenvolvimento local para geração de renda através da cadeia produtiva das plantas medicinais e aromáticas.
Veracel
1. Construção de unidade de beneficiamento de mariscos:
Realizado desde 2016 na cidade de Belmonte, na Bahia, a Veracel investe em infraestrutura e equipamentos para o funcionamento da unidade de beneficiamento de peixes e mariscos. O trabalho regional é feito pelas chamadas “Catadoras de Mariscos”, que passa de geração em geração, de avós para mães e de mães para filhas.
Atualmente, a unidade de beneficiamento é a única instituição com estrutura adequada para colocar produtos certificados e com rastreabilidade no mercado, possibilitando que o trabalho das Catadoras chegasse a nível nacional.
2. Programa de liderança feminina:
O programa contempla uma trilha completa e robusta que prevê o engajamento da liderança direta, além de ferramentas de avaliação e de autoconhecimento.
Através da mudança de mentalidade e crenças, liderança com visão pessoal, aumento no valor estratégico e fortalecimento de sua presença, o programa, que ainda está em sua turma piloto, possui 25 mulheres que já são líderes ou apresentam potencial a curto e médio prazo, sendo que após o término do programa elas já possuem vagas em aberto para preencher dentro da Veracel.
Sylvamo:
Promoção de habilitação para veículos pesados para mulheres:
Com foco em inclusão e diversidade e o intuito de alavancar a carreira das mulheres nas operações da Sylvamo foi promovida a habilitação na categoria D (veículos pesados) para 10 profissionais da área florestal.
A partir de sua capacitação as mulheres ficaram aptas para treinarem e ocuparem a posição de condutoras de máquinas de colheita e silvicultura.
A empresa teve o cuidado de possibilitar que cada mulher fosse habilitada de acordo com a suas necessidades e no seu tempo. Hoje, oito mulheres já estão habilitadas.
Tratando-se de cargos ocupados tradicionalmente por homens, os profissionais que já ocupam esta função receberam treinamento para quebrar paradigmas e o resultado foi a receptividade que tiveram com as mulheres recém-chegadas.
Assista aqui a live de lançamento no YouTube: