À medida que os impactos da mudança climática se tornam mais perceptíveis e exigem alterações no modelo econômico atual de forma cada vez mais ágil, os atributos sustentáveis que o papel e o papelão oferecem ao setor de embalagem os fortalecem entre as opções mais apropriadas ao amadurecimento da bioeconomia, proposta que visa promover uma transição viável para a economia de baixo carbono.
Se poucos anos atrás o apelo sustentável para o uso do papel e do papelão em embalagens girava em torno das respectivas capacidades de biodegradação, hoje o leque de vantagens competitivas ambientais e econômicas é bem mais amplo. Na definição de Patrícia Kaji Yasumura, gerente técnica do Laboratório de Celulose, Papel e Embalagem da Unidade de Materiais Avançados do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), o papel e o papelão são os novos – porém, consolidados – materiais em evidência para embalagens. “Com o fortalecimento da economia circular, a capacidade da embalagem ser reciclada passou a ser valorizada e a ideia de considerar a vida do produto ‘do berço ao túmulo’ mudou para ‘do berço ao berço’”, pontua ela, citando o conceito apresentado em um livro-manifesto publicado em 2002 pelo arquiteto americano William McDonough e pelo engenheiro químico alemão Michael Braungart.
Na prática, não só a reciclabilidade e a biodegradabilidade despontam como os grandes atrativos do papel e do papelão como substituintes dos materiais de origem fóssil destinados às embalagens, mas também a origem renovável deles. “O papel vem de árvores cultivadas exatamente para a sua produção. Devidamente certificadas por órgãos competentes, essas florestas plantadas para fins industriais sequestram carbono ao longo de todo o ciclo de crescimento, contribuindo com a mitigação dos efeitos climáticos. Além de ter sua matéria-prima principal vinda de fontes renováveis, o papel de imprimir e escrever e os papéis para embalagem são altamente reciclados, conferindo ainda aspectos de circularidade aos produtos. Juntos, portanto, os diferenciais de renovabilidade, biodegradabilidade e reciclabilidade são fundamentais para o emprego crescente de papel e do papelão em embalagens”, descreve Fabio Arruda Mortara, presidente da Two Sides Brasil e América Latina.
Vale destacar que a mudança de visão global em relação à sustentabilidade levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a estabelecer, em 2016, os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). “A Agenda 2030 da ONU foi um grande impulsionador de entrada do setor de celulose e papel em novos mercados em embalagem”, sinaliza Patrícia.
De fato, o contexto atual confere ao papel e ao papelão novas oportunidades de mercado, concorda o embaixador José Carlos da Fonseca Jr., presidente executivo da Associação Brasileira de Embalagens em Papel (Empapel) e diretor de Relações Internacionais da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ). “Por inúmeras vezes, acompanhamos previsões sobre o declínio ou até mesmo o fim do uso do papel – inclusive, mais recentemente, com o avanço da digitalização. Contudo, a realidade atual vem desmentindo fortemente as previsões apocalípticas sobre o uso do papel em geral. Trata-se de um produto que está sempre se reinventando e iniciando ciclos novos. A vitalidade renovada dos diversos tipos de papel fica ainda mais perceptível se considerarmos a demanda crescente por embalagens de papel e papelão.”
Segundo os dados mais recentes da Empapel, o segmento de papelão ondulado vem apresentando crescimento mensal contínuo desde outubro de 2023. Desde o início da série histórica do Índice Brasileiro de Papelão Ondulado (IBPO), em 2005, maio deste ano registrou recorde entre todos os meses de maio, com relação à expedição de papelão ondulado em toneladas, com um volume de expedição de 353 mil toneladas, valor que representa um aumento de 2,8% em relação ao volume expedido em maio do ano anterior. Ampliando a análise aos resultados do primeiro semestre deste ano, houve uma alta de 5,4% em relação ao mesmo período de 2023. A projeção de crescimento para o ano todo é de um incremento mínimo de 2,8% em 2024, com margem para índices superiores. O segmento de papel-cartão, por sua vez, tem demonstrado resiliência ao longo deste ano. De acordo com os resultados mais atuais da IBÁ – de janeiro a maio último –, houve um crescimento de 8,2% na produção de papel-cartão, em comparação ao mesmo período de 2023.
Além da conscientização crescente sobre consumo responsável, Fonseca Jr. acredita o bom momento experimentado pela indústria de celulose e papel, em especial pelos segmentos de papel-cartão e papelão, aos esforços e investimentos destinados à inovação, que refletem, entre outros avanços, em incrementos de qualidade dos produtos direcionados ao setor de embalagem. “O tripé inovação, digitalização e sustentabilidade pautou o tema central da Drupa, evento global líder da indústria gráfica e tecnologias de impressão, deste ano. As novas impressoras gráficas, que abarcam tecnologias e conceitos de Inteligência Artificial, vêm alavancando o processo de descomoditização das embalagens. Neste contexto, produtos de melhor qualidade tendem a ganhar market share”, contextualiza a partir do que acompanhou no evento realizado na Alemanha, entre maio e junho últimos.