O ano de 2025 inicia com um cenário econômico desafiador para o Brasil, conforme indicam as análises dos especialistas do Rabobank, Maurício Une e Renan Alves. A inflação, que fechou 2024 em 4,8%, superou a meta de 4,5%, mantendo-se acima do intervalo de tolerância pela terceira vez nos últimos quatro anos. O principal fator que pressionou o índice foi a alta nos preços de alimentos e combustíveis, destacando-se o aumento de 20,8% no preço das carnes e de 9,71% na gasolina. Além disso, o subitem plano de saúde apresentou elevação de 7,87%, contribuindo com 0,31 pontos percentuais para o IPCA anual.
Outro destaque relevante foi o desempenho da produção industrial, que registrou retração de 0,6% em novembro, refletindo queda em todas as quatro grandes categorias econômicas e em 19 das 25 atividades acompanhadas. Entre os setores com maior contribuição negativa, estão os de veículos automotores, reboques e carrocerias, além de produtos derivados do petróleo e biocombustíveis. Mesmo com esse resultado, a produção industrial encerrou o ano 1,8% acima do patamar pré-pandemia.

No varejo, o cenário também foi de retração. As vendas no varejo ampliado — que incluem veículos, insumos para construção civil e atacado de alimentos — caíram 1,8% em novembro, acumulando crescimento anual de apenas 2,1%. Sete das dez categorias analisadas mostraram queda na margem, com destaque negativo para veículos (-7,6%) e móveis e eletrodomésticos (-2,8%).
Em relação ao mercado externo, a balança comercial encerrou 2024 com um superávit de US$ 74,6 bilhões, o segundo maior da série histórica, atrás apenas do saldo registrado em 2023. No entanto, as exportações totais do ano apresentaram queda de 0,8% a/a, totalizando US$ 337 bilhões, enquanto as importações subiram 9%, alcançando US$ 262,5 bilhões. Os produtos mais exportados foram óleos brutos de petróleo, com US$ 44,8 bilhões, seguidos pela soja, que somou US$ 13,3 bilhões. Já do lado das importações, os destaques foram os óleos combustíveis de petróleo, com US$ 15,2 bilhões, e os fertilizantes, que alcançaram US$ 13,6 bilhões.
No mercado de trabalho, a taxa de desemprego fechou novembro de 2024 em 6,1%, a menor da série histórica iniciada em 2012. Ajustada sazonalmente, a taxa ficou em 6,5%, evidenciando um mercado de trabalho aquecido. A renda média real cresceu 3,1% a/a, e a massa salarial aumentou 7,2% a/a, atingindo R$ 336,7 milhões. Entretanto, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) revelou que a criação líquida de empregos formais em novembro foi de 106,6 mil vagas, abaixo das expectativas do mercado.
O Rabobank projeta que, em 2025, a inflação continuará elevada, fechando o ano em 4,7%. O mercado de trabalho aquecido, associado ao crédito ativo e ao consumo das famílias, deve sustentar a inflação dos serviços. Por outro lado, a produção industrial e o comércio exterior devem enfrentar dificuldades, com o PIB crescendo de forma moderada, em torno de 1,8%.
Produção industrial e Balança Comercial
No setor externo, espera-se que a balança comercial alcance um superávit de US$ 76,9 bilhões em 2025. A desvalorização do real pode favorecer as exportações, tornando os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional. No entanto, as exportações de produtos agrícolas, como a soja, deverão ser acompanhadas de perto, já que fatores climáticos e variações cambiais podem influenciar significativamente os resultados.
Apesar de um cenário de juros elevados — com a taxa Selic projetada para permanecer em patamares altos até o segundo semestre de 2025 —, o investimento estrangeiro direto (IED) continua sendo uma fonte relevante de financiamento para o déficit em conta corrente, que deve alcançar US$ 56,6 bilhões, o equivalente a 2,7% do PIB. O Rabobank estima que o IED alcance US$ 70 bilhões, garantindo uma relativa estabilidade no financiamento externo.
Para empresas do setor de celulose e papel, esse panorama econômico exige atenção redobrada às questões de custo e eficiência. O aumento nos preços de insumos, como energia e combustíveis, deve impactar a competitividade das indústrias, ao passo que a desvalorização cambial pode beneficiar exportadores. A inovação tecnológica e a busca por soluções sustentáveis continuarão sendo fatores essenciais para garantir crescimento e sustentabilidade nesse cenário desafiador.
Ainda conforme o Rabobank, 2025 será um ano de crescimento moderado, inflação controlada, mas acima da meta, e com desafios significativos tanto no mercado interno quanto no externo. Empresas de diversos setores, especialmente as exportadoras, terão de equilibrar custos e explorar oportunidades em um ambiente econômico instável.