Inserida em um universo de oportunidades, a indústria de celulose e papel já desfruta de uma série de otimizações e melhorias de processo trazidas pelos novos conceitos e métodos que contemplam a atual transformação digital. A revolução tecnológica em curso apresenta-se em detalhes operacionais de pequeno a grande porte e posiciona os parques fabris do setor no patamar mais elevado do estado da arte – deixando espaço, contudo, para agregar incrementos promissores à chamada indústria do futuro.
De acordo com a contextualização de Flávio Maeda, head de Serviços Digitais da AFRY para América Latina, na última década, a indústria de celulose e papel experimentou avanços relevantes, impulsionados pela inovação tecnológica e pela busca por eficiência e sustentabilidade. “A adoção de tecnologias de automação e digitalização tem sido uma das maiores transformações registradas na indústria de celulose e papel. Sistemas avançados de controle de processos, sensores inteligentes e análise de dados em tempo real permitem uma operação mais eficiente e preditiva. Há alguns anos, os processos dependiam muito mais da intervenção manual e eram menos integrados digitalmente”, compara, constatando os avanços atuais. “Antigamente, as inspeções eram manuais, com operadores colhendo dados em campo por meio do papel, utilizando-se de pranchetas. Dessa forma, as inspeções eram feitas com pouca frequência e a manutenção era reativa. Hoje, algumas grandes empresas de papel e celulose já têm utilizado sensores sem fio (IoT) para inspecionar a saúde de equipamentos críticos em tempo real. Os dados são reunidos em Centros de Confiabilidade de Ativos e transformados em informação, em tempo real, permitindo que as equipes de manutenção possam atuar de forma preditiva, ou seja, antes que os equipamentos falhem, resultando em grande economia para as empresas”, detalha.
Outras áreas que foram grandemente favorecidas pela transformação digital, nos últimos anos, são as de Melhoria Contínua e Excelência Operacional. Em tais áreas, os dados são o principal insumo para encontrar oportunidades de melhoria, e as equipes já trabalham, por natureza, com decisões baseadas em dados. Com a digitalização e o consequente aumento da coleta de dados, essas áreas têm sido altamente beneficiadas. Um exemplo é o cálculo da Eficiência Geral dos Equipamentos (Overall Performance Effectiveness – OEE), um dos KPIs mais importantes para a Excelência Operacional, que antigamente era calculado por meio de registros em papel realizados pelos operadores, e hoje, na maioria das empresas do setor, essa rotina já foi digitalizada, com sensores coletando as paradas de equipamento com muito mais precisão e permitindo a gestão da OEE em tempo real”, continua Maeda.
Gabriel Morgan da Silva, gerente de Serviços e Internet Industrial da Valmet, concorda que a evolução tecnológica salta aos olhos quando observamos a cadeia produtiva do setor, desde dispositivos como acionamentos, motores, drives, DCSs (Digital Control System ou Sistema Digital de Controle) e sistemas operacionais até a tecnologia mais intrínseca à produção, como os materiais usados como matéria-prima para fabricação dos equipamentos, que se tornaram mais resistentes e leves devido à modernização.
“Atualmente, dispomos de sistemas de DCSs como o DNA, da Valmet, que já inclui medidas robustas de cibersegurança, mantendo a produção conectada e com ferramentas de monitoramento de alta qualidade integradas ao fornecimento padrão. Além disso, o ecossistema por trás da digitalização dos nossos clientes utiliza serviços de nuvem por meio da AWS, datashop com o SnowFlake e outros parceiros para garantir a robustez necessária, permitindo acesso seguro aos dados e suporte na tomada de decisão diária na fábrica”, elenca, sublinhando que os auxílios operacionais antes realizados diretamente in loco hoje dão espaço a ferramentas conectadas, que permitem observar em tempo real o que se passa na fábrica para auxiliar de forma remota e até mesmo executar serviços a distância.
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Ainda de acordo com Morgan, outra série de ferramentas que se mostraram extremamente mais eficazes nos últimos anos foram os sistemas de controle avançados, chamados de APCs (Advanced Process Controls). “Esses, por sua vez, entregam um excelente rendimento com otimização do processo e hoje em dia, inclusive, avaliando as interações entre as mais diversas áreas, entregando o que chamamos de Mill Wide Optimization, ou seja, otimização de forma holística na planta.”
Na avaliação de Rafael Sirtoli, diretor de Operações da ANDRITZ Brasil, os avanços tecnológicos recentes transformaram significativamente a rotina da indústria de celulose e papel. “Foram décadas até sairmos de sistemas manuais para automático, avançamos nos últimos anos com monitoramento on-line e controles avançados, e agora estamos nos aproximando da planta autônoma.” Entre os avanços mais expressivos listados por Sirtoli, destacam-se a inteligência artificial e a robótica, que, além de aumentarem drasticamente a eficiência operacional, proporcionam operações mais seguras e sustentáveis. “Sistemas automatizados e robóticos já são amplamente utilizados em várias etapas do processo, desde a colheita da matéria-prima até a embalagem do produto final, e agora conectados com a inteligência artificial proporcionam mais produtividade, com autonomia, segurança e qualidade”, pontua.