A indústria siderúrgica no Brasil é um dos setores estratégicos na economia do país. Representando cerca de 3% do PIB nacional, o Brasil é nono maior produtor de aço do mundo, tendo uma produção que ultrapassa dois milhões de toneladas por ano, produção de dois milhões de toneladas, de acordo com o Portal Siderurgia Brasil.
Contudo, a produção do aço vem atrelada a um alto custo ambiental. A indústria é responsável por até 11% das emissões de CO2 e 7% de todos os Gases de Efeito Estufa (GHG), o que se deve a necessidade do uso de combustíveis fósseis como fonte de calor para os altos-fornos na produção convencional.
Foi com o objetivo de reduzir este impacto ambiental de forma eficaz que surgiu o aço verde.
O Aço Verde tem os mesmos aspectos e a mesma qualidade do aço convencional, a diferença está no uso de fontes renováveis e limpas de energia no processo produtivo. Dentre as fontes possíveis, atualmente, estão o uso dos processos elétricos, o uso da sucata, do Hidrogênio Verde (produzido através da eletrólise da água) e do carvão vegetal, oriundo de áreas reflorestadas, que sequestram carbono da atmosfera.
“No processo produtivo do aço, o carvão vegetal entra com zero emissões de carbono, já que este produto é proveniente das florestas”, explica Adriana Maugeri, presidente da Associação Mineira da Indústria Florestal – AMIF. Além disso, a partir do momento em que as remoções florestais forem aceitas no cenário global, o papel das florestas na remoção do carbono fará com que esse processo passe de neutro para negativo, complementa.
Entretanto, a substituição do carvão requer algumas adaptações, por exemplo, na grande maioria dos casos, os fornos que utilizam carvão mineral não são os mesmos utilizados no caso do carvão vegetal. “O Carvão mineral é um carvão mais resistente devido a sua fonte fóssil, sendo mais duro, ele pode ser jogado dentro dos grandes fornos sem se partir, enquanto o carvão de origem vegetal não tem tanta resistência no formato em que se apresenta hoje”
Ainda assim, a utilização do carvão vegetal nos fornos comuns não está descartada, existe a possibilidade de aproveitar os resíduos do carvão, chamados de finos. Eles são utilizados no processo para controle de temperatura. Segundo Adriana, apenas o uso dos finos do carvão vegetal para o caso dos fornos que não tem a adaptabilidade para receber carvão vegetal, já é uma grande ajuda no processo de carbonização do produto final.
Falando ainda sobre desafios, existe a questão do preço. O Brasil possui apenas uma jazida de carvão mineral, localizada na região sul do país o que não é suficiente para suprir a demanda das indústrias, então, o Brasil importa grande parte desse carvão mineral o que implica ainda o custo do transporte.
Existem ainda outros fatores que devem ser levados em conta, explica Maugeri, embora mesmo importado, o carvão vegetal tenha um custo menor do que o mineral, não se pode deixar de lado o fato de que é necessário um projeto florestal, sete anos de manejo florestal, que não é barato, o custo processo produtivo, e depois o transporte para que ele chegue na siderúrgica.
“Logo, a decisão do uso do carvão vegetal, hoje, mais do que nunca, é uma decisão de benefícios financeiros que você tem com o seu produto, seja na comercialização, em créditos de carbono ou no processo produtivo. Então, a decisão da metalurgia, em geral, é uma decisão estratégica da companhia, porque ela tem outras possibilidades de ganho”.
No lado positivo da equação, temos o papel do governo, lembra Adriana. Aqui em Minas Gerais, o estado simplificou alguns processos tributários e licenciamento que estavam engessando a produção da floresta. Já no âmbito federal, o governo possui o plano de transformação ecológica que vem sendo tratado tanto na transição energética, quanto na economia circular, explica.
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“O que temos de mais concreto, é novo Plano Safra 2025, que vai ser lançado no meio do ano, nele, o governo incluiu um estímulo à produção florestal, uma redução nas taxas de juros para projetos que tiverem a produção de uma floresta atrelada, isso porque o governo entendeu que produzir madeira renovável de forma legal não só traz uma alternativa para recuperar pastagens degradadas, que é realmente um norte muito forte do ministério da agricultura, mas você reduz a pressão sobre a floresta nativa, reduz o desmatamento, que é um sangramento do nosso país”.
No âmbito privado, o cenário também se mostra positivo, já que os CEOs tem deixado bem claro que a rota carvão vegetal é uma rota disponível em escala e custo que favorece a descarbonização da ecologia e eles vão continuar investindo nela.
Uma das nossas associadas, exemplifica Adriana, a Bionow, subsidiária da Vale, está desenvolvendo um bricket de carvão, uma espécie de carvão condensado, aglomerado, sem uso de aditivos, apenas com processos térmicos, permitindo ganho de resistência e aumento do poder calorífico. Essa inovação permite que o carvão vegetal seja exportado para outras cidades ou outros países.
Somando todos os aspectos positivos e os benefícios do Aço Verde para o meio ambiente, à disponibilidade de terras em locais onde há facilidade de escoamento e a aptidão dos solos degradados para a cultura das florestas necessárias para produção de carvão vegetal, resultam no enorme potencial que o Brasil tem de se tornar polo da siderurgia sustentável.
