A COP 29 – Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que ocorreu entre os dias 11 e 23 de novembro contou com um estande exclusivo da CNI – Confederação Nacional da Indústria onde representantes dos principais setores da indústria brasileira participaram de painéis de discussão com o intuito de compartilhar conhecimento e discutir temas de grande importância para a redução dos impactos das mudanças climáticas no mundo. Marina Negrisoli, Diretora de Sustentabilidade da Suzano, maior fabricante de celulose do mundo, que participou de importantes discussões no evento, concedeu entrevista exclusiva para o portal Newspulpaper.
Newspulpaper: Qual o potencial do setor de celulose e papel no processo de descarbonização no Brasil e no mundo?
Marina Negrisoli: O setor de celulose e papel tem grande potencial para apoiar o Brasil no cumprimento das NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas, em português) e, consequentemente, no processo de descarbonização da economia global. Em comparação com outras indústrias de base, nosso setor é um dos que apresentam menores índices de emissão. Além disso, as áreas de plantio e conservação contribuem para o sequestro e retenção de gases de efeito estufa presentes na atmosfera.
A Suzano possui metas ambiciosas de longo prazo e, assim como outras empresas do setor, pode contribuir decisivamente para a substituição de produtos de base fóssil, como o plástico, por alternativas renováveis. A meta da Suzano de disponibilizar 10 milhões de toneladas de produtos de matéria-prima de fonte renovável que possam substituir derivados do petróleo até 2030, esse é um exemplo desse compromisso.
Newspulpaper: Como você vê o impacto das medidas que a Suzano tem adotado para redução das consequências das mudanças climáticas nos últimos anos?
Marina Negrisoli: A Suzano vem monitorando e reportando suas emissões de carbono ao longo dos últimos anos, de forma transparente e acessível para o público em geral – mais informações aqui. Em linha com essa governança, a companhia estabeleceu, em 2020, compromissos públicos de descarbonização e redução das emissões, colocando-se à frente de uma agenda global que tem felizmente avançado nos anos recentes.
Um exemplo relevante da Suzano nessa direção é o Projeto Cerrado, em Ribas do Rio Pardo (MS). A unidade, a maior linha única de produção de celulose do mundo, tem como diferencial a gaseificação da biomassa para a substituição de combustíveis fóssil nos fornos de cal. Na prática, essa tecnologia permite à fábrica ser independente do uso de combustíveis fósseis em situações regulares de operação. Outro diferencial é o grande volume excedente de energia limpa que será gerada na unidade e será disponibilizada ao sistema elétrico nacional.
Em paralelo, a Suzano tem avançado no desenvolvimento de produtos que podem substituir materiais fabricados a partir do uso de fontes fósseis. Essa atuação se dá internamente ou por meio de apoio a startups, atraindo investimentos e fomentando a pesquisa e o desenvolvimento. Essas ações refletem o compromisso da empresa em ser um vetor de mudança e contribuir para a transição rumo a uma economia ambientalmente mais sustentável.
Newspulpaper: Qual a importância dos investimentos para o fluxo de capital global nas ações climáticas?
Marina Negrisoli: Entendemos que a pauta climática deve envolver toda a sociedade, e é papel da iniciativa privada não apenas investir, mas também promover o engajamento de governos, academia e outros stakeholders nessa agenda. Se por um lado os investimentos precisarão ser condizentes com a escala necessária para viabilizar o que foi estabelecido no Acordo de Paris, por outro os governos precisarão construir regramentos que deem visibilidade ao investimento de longo prazo. Estamos falando, portanto, de frameworks regulatórios que ofereçam transparência, confiança e previsibilidade no retorno desse investimento. Durante as discussões em Baku, um dos temas centrais foi como governos podem criar essas condições.
Olhando para a Suzano, nosso modelo de negócio e os resultados alcançados pela companhia nos últimos anos demonstram que é possível aliar sustentabilidade e resultados financeiros. E trabalhamos diariamente para fortalecer essa agenda, não apenas na COP, mas em nossas interações frequentes com diferentes stakeholders. Temos ciência, contudo, que avanços mais significativos em escala mundial dependem de uma profunda e ampla articulação entre empresas, governos e outros agentes. Este é um tema que estamos priorizando em fóruns como este (COP).
Newspulpaper: Quais medidas podem ser adotadas futuramente pelo setor de celulose e papel para o controle do clima e a descarbonização nos próximos anos?
Marina Negrisoli: O setor de celulose tem o potencial de integrar as agendas de clima, biodiversidade e questões sociais, contribuindo de forma relevante para as demandas futuras da sociedade e da economia globais. Há muitas empresas alinhadas ou buscando estarem alinhadas a frameworks globais que visam integrar essas agendas, como o Protocolo da Biodiversidade (GBF). Mas é importante reforçar que nosso setor já está avançado nessa integração.
Para aproveitar as oportunidades futuras, é essencial continuarmos investindo em pesquisa e tecnologia, desenvolvendo produtos que substituam os fósseis e valorizando iniciativas como o pagamento por serviços ambientais para quem realiza manejo sustentável.
Newspulpaper: Quais as expectativas para a COP 30, que será realizada em 2025 aqui no Brasil?
Marina Negrisoli: As expectativas para a COP 30 são positivas e elevadas. O evento, a ser realizado em Belém, coincidirá com os 15 anos do Acordo de Paris, momento no qual os países revisarão e renovarão suas metas climáticas (NDCs). Esta é uma oportunidade única para a articulação de uma NDC mais ambiciosa, condizente com os desafios climáticos que já são uma realidade. Espera-se também que a COP 30 avance na integração das agendas de biodiversidade e clima, abordando questões financeiras e econômicas que viabilizem as adaptações necessárias.
Do ponto de vista interno, é uma oportunidade histórica para reforçar o protagonismo do Brasil nas discussões globais sobre sustentabilidade e para que o País possa retomar uma posição de destaque na geopolítica global a partir da força de sua bioeconomia.