Ao ser construída em 1945, a unidade industrial da MD Papéis, situada em Limeira, tinha o propósito de atender a uma demanda crescente por produtos celulósicos para embalagens. O projeto inicial seguia a premissa de promover o reaproveitamento dos resíduos gerados pela indústria transformadora de embalagens e dos descartes feitos pelos usuários finais dos produtos à base de celulose.
“Embora a sustentabilidade ambiental ainda não se mostrasse urgente, o projeto visava à sustentabilidade econômica no uso das fibras disponíveis para a fabricação de papelcartão”, contextualiza Aldinir Nascimento, diretor de Operações da MD Papéis.
Nos anos seguintes, a empresa investiu no aprimoramento tecnológico para reaproveitamento das fibras descartadas, ampliando o enfoque ao viés ambiental do conceito de sustentabilidade. “Em meados da década de 1960, o mercado ainda não tinha um controle efetivo e confiável no manejo da madeira utilizada para fabricação de celulose”, justifica Nascimento, sublinhando que, atualmente, o cenário é bem diferente.
“Hoje, temos uma indústria de celulose forte e responsável, pautada por práticas ambientalmente adequadas. O objetivo da MD Papéis, contudo, é garantir que as fibras sejam reaproveitadas quantas vezes for possível, reduzindo o descarte precoce de materiais que podem ser reaproveitados e diminuindo assim os impactos que o descarte irresponsável de qualquer material pode causar”, enfatiza sobre os pilares econômico, ambiental e social que formaram o DNA da empresa.
Além do enfoque estratégico ser direcionado à criação de soluções sustentáveis para embalagens, o modelo adotado pela MD Papéis é essencial não só para o equilíbrio ambiental e social como para o equilíbrio econômico, uma vez que gera renda para a população mais vulnerável ao adquirir resíduos celulósicos de cooperativas, como aponta Nascimento.
O Grupo Formitex, empresa controladora da MD Papéis, está igualmente engajado com a agenda ESG (Environmental, Social and Governance), buscando atuar em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), sobretudo aqueles que são diretamente impactados por seus negócios.
“Estamos fortemente comprometidos com a Agenda 2030 da ONU, integrando os ODS prioritários em nossa estratégia de negócios e operações diárias”, informa Naiana Prosini, coordenadora de Compliance & Governança Corporativa do Grupo Formitex. “Reconhecemos o nosso impacto e, por isso, valorizamos a transparência e o diálogo aberto com a comunidade. Exploramos maneiras de garantir que as nossas atividades contribuam simultaneamente para o desenvolvimento socioeconômico local, preservação do meio ambiente, garantia da qualidade de vida, respeito ao patrimônio histórico e justiça social. Também atuamos para transformar a indústria brasileira por meio de qualidade, tecnologia e segurança em nossas operações, visando a resultados cada vez melhores e contribuindo ativamente para um mundo mais sustentável e inclusivo.”
Ao exemplificar como todas as frentes de trabalho se desdobram na rotina operacional, Naiana informa que o Comitê ESG do Grupo Formitex, órgão de assessoramento vinculado diretamente à alta administração do Grupo, tem a finalidade de promover e monitorar tais práticas. “Formado por representantes dos pilares ESG e presidido pelo CEO do Grupo, o Comitê atua em conformidade com as diretrizes estabelecidas pela legislação vigente e em consonância com as diretrizes e políticas internas em vigor, visando à integração de temas ESG em todas as áreas de atuação do Grupo”, explica.
“Ao integrar os ODS da ONU à nossa estratégia, transformamos desafios ambientais em oportunidades e reafirmamos o nosso compromisso com um futuro mais sustentável para todos”, traduz Sabrina Carvalho, engenheira ambiental corporativa do Grupo Formitex. “Para nós, sustentabilidade vai além de um compromisso: é uma prática integrada a todas as nossas operações. Com foco em inovação e responsabilidade, adotamos iniciativas que consolidam nossa posição como referência em sustentabilidade no setor de celulose e papel, a começar pela economia circular, que desempenha a função de alicerce das nossas operações.”
Preocupação global com questões ambientais alavanca investimentos em embalagens sustentáveis
O uso de papelcartão para a produção de embalagens se fortalece como uma tendência ambientalmente vantajosa quando comparado ao uso de outros materiais.
“Como um produto biodegradável que se decompõe naturalmente, o papelcartão destaca-se entre as opções mais inteligentes e sustentáveis para o mercado de embalagens de forma geral”, define Rafael Rigon, gerente de Produção da MD Papéis.
“Também é importante mencionar que a reciclagem do papel tem uma importância crucial na transição para uma economia circular latente, não apenas por ser um material reciclável, mas por todo um conjunto de práticas que minimizam seu impacto ambiental, promovendo sustentabilidade e oferecendo uma abordagem fundamental para o desenvolvimento de um modelo econômico mais responsável, tão necessário nos dias atuais”, adiciona.
Estendendo a análise à percepção do mercado sobre o reaproveitamento de recursos, Nascimento pondera que a prática ainda se mostra mais desafiadora que o conceito. “As grandes indústrias consumidoras de embalagens valorizam muito o conceito de sustentabilidade, porém muitas ainda não abrem mão de aspectos técnicos só disponíveis em materiais de fibras virgens”, revela o diretor de Operações.
Para driblar o impasse, a MD Papéis aposta no desenvolvimento de soluções técnicas para habilitar o papelcartão reciclado à confecção de embalagens funcionais e, muitas vezes, sofisticadas. “Nos últimos anos, temos trabalhado para não nos limitarmos simplesmente ao desenvolvimento de produtos, mas também no desenvolvimento de conceitos e de processos”, informa Nascimento.
Com foco no desenvolvimento de conceitos e de processos, a MD Papéis tem hoje boas parcerias com indústrias nacionais, grandes consumidoras de embalagens. “Aproveitamos rejeitos dos processos produtivos dessas empresas e transformamos em papelcartão novamente, para que as mesmas empresas reutilizem nas embalagens dos seus produtos”, detalha.
Rigon ressalta que o segmento como um todo apresenta uma infraestrutura já bem estabelecida para a reciclagem, com vários participantes neste mercado, já que o papel reciclado pode ser utilizado para produzir uma série de novos produtos de papel. “Ao longo dos seus 80 anos de história, a MD Papéis participa dessa cadeia com maestria, ao promover a reciclagem em todas as suas linhas de produtos, a partir da utilização de aparas pré e pós-consumo, e com o diferencial de proporcionar sólidas parcerias na conversão de embalagens focadas no processo de economia circular.”
Estudos para ampliação e modernização do parque industrial da MD Papéis estão em andamento
A atual capacidade produtiva anual da MD Papéis é de 40 mil toneladas, divididas em linhas de produtos direcionadas a diversos segmentos. “Temos desde produtos compostos por 50% de aparas até produtos contendo 100% de aparas recicladas. A linha Printkot atende às demandas com maior exigência de rigidez, enquanto a linha Triplex atende às áreas editoriais ou embalagens que necessitam de impressão nas duas faces do papel, e a linha Ecopack atende a mercados de acoplagem e embalagens em geral. Ainda dispomos de produtos personalizados destinados a grandes clientes do ramo de cosméticos/perfumaria”, elenca Marcos Heragles, gerente industrial da empresa.
Entre os diferenciais da unidade fabril de Limeira, Heragles cita a flexibilidade e a agilidade nas trocas de fabricação, com atendimento a gramaturas menores (190 g) e extremas (550 g), garantindo o menor prazo possível de entrega a partir da capacidade de produzir pequenos lotes a clientes específicos. “Fabricamos produtos personalizados, de acordo com características especificadas pela exigência do cliente. Também desenvolvemos novos produtos alinhados às necessidades dos end users. Vale destacar a proximidade da nossa área industrial com as gráficas, buscando melhoria contínua nos nossos produtos e auxiliando-as no ganho de performance.”
Heragles evidencia que os investimentos focados na melhoria contínua dos processos fabris estão sempre atrelados a melhorias ambientais. “Investimos no fechamento de circuito de água da fábrica, chegando a reduzir 77% do consumo de água fresca (captada do rio). Trabalhamos constantemente na redução energética, adquirindo equipamentos de alto rendimento e evitando desperdícios no processo. Recentemente, adquirimos uma caldeira a biomassa, tendo maior eficiência na geração de vapor e contribuindo com a sustentabilidade ambiental do negócio. Ainda automatizamos os principais controles de processo, diminuindo as perdas e dando maior eficiência na fabricação”, enumera exemplos práticos.
A qualificação técnica da equipe da MD Papéis desponta como mais um diferencial da companhia. “Por meio de inspeções preditivas e preventivas, conseguimos ter um elevado índice de disponibilidade operacional. As equipes operacionais e de manutenção são treinadas constantemente, seja reciclando conceitos já conhecidos, seja trocando conhecimento com fornecedores ou se capacitando em instituições de ensino”, conta Heragles, completando que, atualmente, a empresa está investindo nas adequações listadas nas NR10 e NR12, bem como no Diálogo Diário de Segurança (DDS) para ratificar a cultura de segurança.
Já os atuais investimentos em tecnologia estão direcionados ao Projeto Zaya, que almeja impulsionar a automação e a integração, aumentando a eficiência operacional da empresa e posicionando-a como referência em compliance e inovação. “Também estamos avançando nos estudos para ampliação e modernização do parque industrial. Há duas vertentes a serem consideradas: Retrofit da nossa MP3, considerando atualizações tecnológicas e ganho de escala produtiva em até 40%, com incremento de qualidade do produto final, e construção de um novo site com aquisição de uma linha totalmente nova, com capacidade produtiva de 120 mil toneladas/ano de papelcartão”, antecipa Heragles.
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