O setor de base florestal vem apresentando um crescimento importante nos últimos anos. De acordo com o relatório anual da IBÁ – Indústria Brasileira de Árvores deste ano, o segmento ultrapassou, pela primeira vez a marca de 10 milhões de hectares de árvores cultivadas, criou 2,69 milhões de empregos diretos e indiretos, atingiu 6, 91 milhões de hectares de área conservada – o que equivale a uma área maior que a do estado do Rio de Janeiro – segue sendo o maior exportador de celulose do mundo, tendo um comércio internacional de 12, 7 bilhões de dólares e plantando 1,8 milhão de árvores por dia, através de práticas sustentáveis.
Segundo Paulo Hartung, presidente da Ibá, “Esses números refletem um setor que apostou em ciência aplicada, formação de capital humano e que foi para o mundo bater nas portas e abrir mercados, produzindo resultados extraordinários para os brasileiros e brasileiras e trazendo divisa para que o Brasil possa adquirir aquilo que não produz”.
Diante de todos esses dados, fica a pergunta: Qual o futuro do setor de base florestal?
Durante o evento HDOM Summit 2024, que ocorreu nos dias 26 e 27 de novembro, representantes da CMPC, Klabin e Suzano responderam ao questionamento.
CMPC
Hoje a CMPC possui 10 plantas no Brasil, tendo mais de 6 mil colaboradores próprios. É a maior produtora de papéis higiênicos, a segunda maior produtora de sacos de papéis e a segunda maior produtora de celulose.
Este ano a empresa foi considerada a mais sustentável do mundo no setor florestal pela segunda vez consecutiva, segundo o índice Dow Jones Sustainability Indexes, o que reflete os compromissos firmados em 2019 com metas de sustentabilidade em três âmbitos: ambiental, social e governança.
No âmbito ambiental, a CMPC se comprometeu a reduzir em 50% a sua emissão de gases de efeito estufa até 2030; reduzir 25% o uso industrial da água por tonelada de produto até 2025; zerar os resíduos industriais encaminhados a aterros até 2025 e adicionar 100 mil hectares de área de conservação e proteção ambiental até 2030.
No âmbito social, colocou metas de aumento de 25% da presença de mulheres na empresa, mais 30% de mulheres em cargos de liderança e alcanço da meta de 2,5% de colaboradores com deficiência, até 2025.
Em governança, 30% de melhora em processos até 2025 vindo de inovação digital e dados, 20% de cumprimento de metas alcançado por meio de inovações tecnológicas e 10% de vendas nas três áreas de negócios devem ser para novos produtos ou novos negócios.
Na data o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin e o governador do Estado, Eduardo Leite, realizaram o desligamento da caldeira movida à carvão da planta de Guaíba, o que representa uma importante etapa de conclusão do projeto e uma redução de 60% do volume de emissões de gases de efeito estufa.
Foram R$ 2,5 bilhões de reais investidos na modernização da planta industrial e em mais 31 iniciativas de controle e gestão ambiental.
“O BioCMPC representa uma indústria inovadora, descarbonizada, verde, uma indústria competitiva e uma indústria exportadora. Queremos fortalecer ainda mais a indústria nacional, sobretudo, uma que seja exportadora e nos coloca em posição de destaque no mundo”, exaltou Geraldo Alckmin.
Já sobre o Projeto Natureza, investimento de 24 bilhões da empresa que tem como objetivo: estimular a silvicultura produtiva, as áreas de plantio de eucalipto por meio de fomento à produtores rurais, melhorias na infraestrutura rodoviária e portuária do Estado do Rio Grande do Sul, a criação do Parque Ecológico Barba Negra – que busca proteger e valorizar a reserva natural – e a instalação de um parque industrial composto por uma planta com capacidade anual de 2,5 milhões de toneladas de celulose branqueada de eucalipto.
Em entrevista ao Newspulpaper, Augusto Robert, Diretor de Assuntos Coorporativos da CMPC do Brasil, forneceu uma atualização sobre o projeto. Segundo ele, no mês de setembro de 2024 foram entregues os termos de referência do projeto à FEPAM – Fundação Estadual de Proteção Ambiental do Rio Grande do Sul, e atualmente, a CMPC está desenvolvendo o EIA/RIMA – Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental, que deverá ser apresentado nos próximos meses.
Quanto aos prazos, a expectativa, conforme Robert, é obter a licença prévia de construção no início de 2026, e no mesmo ano, receber a licença de instalação para apresentar ao conselho da empresa para assim garantir o financiamento e dar início as obras do projeto. “Já sobre o início das operações, a previsão é que ocorra na metade do ano de 2028”, disse Robert.
Suzano
Beto Abreu, CEO da Suzano, iniciou seu discurso dizendo que “ao analisar o setor de papel e celulose, é visível que o setor está dando certo. A industrialização está acontecendo, ao contrário do vem acontecendo com o restante do país, que vive um processo de desindustrialização”.
De acordo com o CEO, o setor tem diversas vantagens no Brasil, uma geografia e clima favoráveis, competitividade do ponto de vista de terra e de temperatura. Além disso, os projetos que estão sendo construídos são extremamente eficientes do ponto de vista de tecnologia, de automação, de processo industrial, e de manutenção.
O principal desafio do setor hoje e que deve ser uma preocupação para os próximos anos, disse o Abreu, é a falta de acesso à mão de obra e a capacitação dos recursos humanos.
A Suzano completou 100 anos em 2024, e para Beto, o sucesso da companhia é fruto de um balanço bastante positivo entre o curto prazo e o longo prazo, onde é possível olhar gestão, eficiência, execução de processo, e ao mesmo tempo pensar muito no longo prazo. O que favorece acionistas que estão pensando agora nos próximos 100 anos, e não no próximo trimestre ou no próximo ano.
Isso demonstra a cultura da Suzano o que precisa estar dentro dos processos, como por exemplo no fato da companhia reinvestir 90% da geração de caixa operacional. Ou seja, é preciso garantir o oxigênio das organizações, sem perder reinvestimento, estratégia, preocupação com inovação, tecnologia e sustentabilidade
Para o executivo, o próximo ciclo é uma oportunidade para o setor olhar de forma coletiva e intensa para o impacto que pode gerar na sociedade brasileira. “Será uma obrigação do empresário em um país como o Brasil, liderar e ser protagonista na questão climática, abraçando essa agenda para fazer a diferença daqui para a frente”, apontou.
Foi através dessa visão que a Suzano inaugurou no dia 5 de dezembro de 2024 O Projeto Cerrado, em Ribas do Rio Pardo. A cerimônia contou com a presença de diversas autoridades como o presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, a ministra do Estado do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e o governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel
Com três geradores, a unidade será autossuficiente em energia, tendo um excedente de 180 megawatts (MW) médios, o equivalente ao abastecimento de uma cidade com 2 mil habitantes. Além disso, não haverá consumo de combustível fóssil na operação. A planta terá o menor custo caixa de produção do mundo graças a uma média de 65 quilômetros de distância entre a unidade e as florestas.
Durante o HDOM Summit, Abreu disse ainda que em 2024 serão plantados 200 mil hectares de eucalipto com pegada de carbono negativa e que os investimentos no Mato Grosso do Sul vão continuar.
Klabin
Na sequência, Sandro Ávila, diretor Florestal da Klabin, apontou como positivo para o setor o avanço em mecanização, que deve avançar nos próximos anos até o alcanço de taxas de 60 a 70% de mecanização da circulatória.
Segundo Ávila, o desafio está na falta de times e agendas, na união de colaboração e injeção financeira em instituições de pesquisa.
Na mesma linha do CEO da Suzano, o diretor elencou o aumento da falta de profissionais capacitados. Para Ávila, os profissionais preparados para tecnologia e desenvolvimento, já estão chegando em final de carreira e a dificuldade maior está em transmitir esses conhecimentos e encontrar pessoas que queiram trabalhar em áreas mais remotas, além das questões climáticas, que já estão sendo vivenciadas no Brasil e que merecem destaque.
Para Ávila, a grande vantagem onde o Brasil pode se sobressair e ganhar competitividade é na área de florestas. Para ele, “a solução dos desafios nos próximos anos são parcerias de todos os tipos, tanto na pesquisa, quanto no desenvolvimento através de uma agenda positiva com o poder público que pode dividir o risco, a energia e a questão financeira com o setor privado.”