O terceiro dia do ABTCP 2024 – 56º Congresso e Exposição Internacional de Celulose e Papel, promovido no Transamerica Expo Center (SP) entre os dias 1 e 3 de outubro, ofereceu uma programação ampla e variada, contemplando palestras nas Sessões Técnicas de Papel, Recuperação e Energia, e Biorrefinaria.
O keynote da Sessão Técnica de Biorrefinaria, Diego Stéfani Teodoro Martinez, do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano) do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), debateu a relevância dos estudos relacionados à toxicidade e segurança de novos materiais de celulose que estão sendo produzidos para diferentes aplicações, incluindo não só o setor de papel como o de cosméticos e compósitos e áreas como medicina, agricultura e remediação ambiental. “Para atingirmos esse propósito futuro, temos de estudar, de maneira integrada e proativa, os potenciais impactos desses novos materiais e seus derivados para a saúde humana, animal e ambiental”, esclareceu, ao mostrar exemplos de resultados de pesquisas desenvolvidas no LNNano do CNPEM.
A Sessão Técnica de Recuperação e Energia recebeu o keynote Júlio César Tôrres Ribeiro, vice-presidente da Cenibra. Graduado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestre em Tecnologia de Celulose e Papel pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Ribeiro iniciou a carreira como engenheiro trainee na área de Manutenção Mecânica da Cenibra, em 1993. As passagens que consolidaram a trilha profissional do atual vice-presidente da companhia incluem cargos em áreas diversas, como Recuperação e Utilidade, Manutenção e Engenharia, Industrial e Florestal. “A indústria de celulose e papel oferece uma série de oportunidades e possibilidades de caminhos a serem percorridos”, elucidou, a partir da própria trajetória.

O trabalho apresentado por Kátia Dionisio de Oliveira, pesquisadora sênior CNPQ (Fixação Recursos Humanos) do Grupo de Pesquisa em Processos Catalíticos Sustentáveis (proCatalis), na Sessão Técnica de Biorrefinaria, esteve entre os dez mais bem avaliados pelo comitê do ABTCP 2024. A pesquisa teve como fundamentação científica principal a transformação de resíduos florestais em combustíveis renováveis (bio-óleo). “A iniciativa para o desenvolvimento do trabalho surgiu em um momento oportuno, no qual a sociedade como um todo tem se conscientizado cada vez mais sobre os desafios de encabeçar práticas sustentáveis. Essas práticas estão diretamente relacionadas com cadeias produtivas mais limpas no setor industrial, assim como no consumo de produtos que estão diretamente elencados na economia circular. Paralelamente, nos últimos anos, o governo federal vem investindo fortemente em pesquisas relacionadas ao tema, cujos esforços têm se consolidado por meio da iniciativa de políticas públicas”, contextualizou a autora.
Também posicionada no ranking dos artigos melhor avaliados pelo comitê da ABTCP, a pesquisa apresentada por Katiane Segantini, cientista de laboratório da Solenis, na Sessão Técnica de Papel, deu o enfoque ao desenvolvimento de uma nova tecnologia livre de fluoroquímicos para resistência a óleos e graxas para aplicações em embalagens para contato com alimentos do tipo polpa moldada. “Determinar a taxa de transmissão de vapor de água (WVTR) é um dos ensaios mais requiridos para todos que estão desenvolvendo novas embalagens sustentáveis, uma vez que essa variável é considerada o ‘inimigo silencioso das embalagens’. Todos queremos comer uma batata frita crocante ou um alimento suculento, características que dependem do WVTR, entre outros fatores”, justificou a relevância do tema. “Desde que iniciei a jornada em busca de alternativas sustentáveis, há aproximadamente quatro anos, visando a substituição de plástico de origem fóssil, tenho estudado esse método, suas formulações e como realizar as aplicações. Não somente eu como um time de muitos membros, espalhados pelo mundo, trabalhando concomitante para avançarmos nesses desenvolvimentos”, completou sobre o trabalho e sobre a criação de uma rede de apoio científico.
O palestrante convidado Felipe Souto da Silva, pesquisador/posdoc na Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostrou como a lignina, co-produto da indústria de celulose e papel, pode ter seu uso ampliado, indo além do aproveitamento energético. “Trata-se de um material com potencial em diversas áreas e aplicações tecnológicas, como tem sido observado por diversos trabalhos reportados na literatura. Contudo, uma série de impasses ainda tornam a lignina um obstáculo para aproveitamento como matéria-prima apreciável, comparando-a com o petróleo. Assim como foi preciso refiná-lo para que se alcançassem os diversos empregos que se têm hoje, é preciso um investimento preliminar no ‘refinamento’ da lignina para que se possa extrair dela todo o seu potencial”, constatou na apresentação que fez parte da Sessão Técnica de Biorrefinaria.

Segundo dia do ABTCP 2024 aborda oportunidades futuras e desafios da agenda ESG
Dia 1 – ABTCP 2024 reúne setor florestal para debater tendências em curso
Exposição ABTCP 2024 – Arena de Inovação – dia 3
A Arena de Inovação, iniciativa da Rede de Inovação da ABTCP, desempenhou um papel essencial na Exposição Internacional de Celulose e Papel, promovendo a interação entre startups e grandes empresas do setor. De 1 a 3 de outubro, o espaço foi dedicado a explorar soluções tecnológicas e sustentáveis, com foco na transformação digital e na economia circular, atendendo às necessidades específicas da indústria.
No terceiro dia, 3 de outubro, o eixo temático foi a sustentabilidade. A programação teve a abertura conduzida por Umberto Cinque, Head técnico da ABTCP, destacando o papel da inovação no desenvolvimento de soluções sustentáveis. Na sequência, o primeiro painel abordou o tema “Inovação em Embalagens: Desenvolvendo Soluções Seguras e Sustentáveis para Barreiras em Papel”, apresentado por Carlos Augusto Soares do Amaral, da Klabin, e Maria Teresa Borges, da Suzano, com moderação de Durval Garcia Jr., diretor de Projetos de Inovação da Alcance Innovation Consulting. Eles discutiram as oportunidades e desafios no uso de papel para embalagens com barreiras sustentáveis, a partir da celulose microfibrilada (MFC), essenciais para o futuro.
“Maria Teresa enfatizou os desafios regulatórios, principalmente a falta de aprovação do uso do MFC em determinadas aplicações pela Anvisa. Além disso, ela mencionou a necessidade de desenvolver métodos analíticos para avaliar a eficácia das barreiras e as dificuldades tecnológicas de aplicação. Carlos Augusto trouxe uma visão internacional, destacando os avanços e desafios na Europa, enfatizando que a substituição total do plástico não é o foco, mas sim o uso em áreas onde o plástico é menos eficiente”, explicou Garcia Jr.
A questão da regulamentação foi discutida, com a introdução do conceito de “Sandbox regulatório” como uma solução para permitir inovações enquanto as regulamentações são ajustadas, com a contribuição de Mabel Alvarado, CEO da Alcance Innovation Consulting.
Na sequência, Germano Siqueira, diretor de Inovação da GrowPack, compartilhou suas experiências em novas tecnologias aplicadas à sustentabilidade. “A startup utiliza palha de milho para fabricar embalagens de polpa moldada, mas destacou a possibilidade de trabalhar com misturas de fibras para aprimorar as propriedades de resistência das embalagens, o que é promissor para o setor florestal”, comentou o moderador.
Realizando um balanço sobre os três dias de Arena de Inovação, Durval Garcia Jr. destacou a importância de transformar as discussões levantadas nesse período em ações concretas. “Agora temos uma lição de casa: pegar tudo o que foi discutido, ver o que pode ser melhorado, o que deu certo e transformar isso em projetos e oportunidades de negócio. Temos startups, empresas parceiras, muita coisa boa na mão, e precisamos aproveitar o momento. Nosso objetivo é claro: fomentar inovação e gerar negócios. Estou muito animado com o que vem por aí.”

A edição de outubro da revista O Papel contará com a cobertura completa do ABTCP 2024, incluindo mais detalhes sobre as apresentações dos keynotes, palestrantes convidados e autores mais bem pontuados pelo comitê avaliador.