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ABTCP 2024 reúne setor florestal para debater tendências em curso

Abertura do evento promovido anualmente pela ABTCP destacou compromisso da indústria de celulose e papel com crescimento sustentável

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A Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP) está promovendo o ABTCP 2024 — 56º Congresso e Exposição Internacional de Celulose e Papel. O evento realizado no Transamerica Expo Center, em São Paulo (SP), teve início hoje e segue até a próxima quarta-feira, 3 de outubro, com uma programação repleta de atualidades e pautas relevantes sobre o setor florestal.

Ao dar as boas vindas ao público presente, Darcio Berni, diretor executivo da ABTCP, ressaltou que o evento faz parte da agenda nacional e internacional do setor, refletindo uma relevância tradicional e ao mesmo tempo crescente. “Nesta edição, em especial, preparamos uma programação intensa de atividades ao longo dos próximos três dias, em linha com as demandas do setor”, adiantou sobre o Congresso que tem como pauta central A transformação digital dos processos produtivos promovendo ganhos em circularidade e em ações inovadoras da agenda ESG.

As palestras técnicas do programa somam-se às apresentações de keynotes e palestrantes convidados, além dos trabalhos exibidos em formato de pôster. A exposição, por sua vez, distribui-se em dois pavilhões totalmente ocupados, reforçando o potencial científico e tecnológico que a indústria de celulose e papel tem para fortalecer a competitividade atual e consolidar os próximos caminhos, sempre embasado por uma sustentabilidade crescente.

Também presente na solenidade de abertura, Alexandre Lanna, presidente do Conselho Executivo da ABTCP, destacou a importância da atuação conjunta dos conselhos que formam as equipes da ABTCP. “Em uma parceria estratégica com entidades do setor, como a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) e a Associação Brasileira de Embalagens em Papel (Empapel), e universidades diversas, temos trabalhado em prol de um aspecto fundamental para sustentar o crescimento do setor: a formação de pessoas.”

Ari Medeiros, diretor de Operações Industriais da Veracel e presidente do Congresso ABTCP 2024, informou que a Universidade Setorial da ABTCP aproveitou a oportunidade do encontro anual para reforçar o seu compromisso com a educação e o desenvolvimento profissional do setor, lançando três cursos — entre eles, a Trilha de Aprendizagem em ESG, relacionada à pauta central do Congresso. ”A expectativa é que o Congresso reúna um público de 1,2 mil participantes para conferir os resultados dos cerca de 150 trabalhos selecionados pelo Comitê Avaliador da ABTCP, número expressivo que mostra a diversidade de engajamento do setor, unido pelos propósitos comuns de valorizar as pessoas e transformar o nosso País”, sublinhou.

Porta-vozes participam da solenidade de abertura do ABTCP 2024 e formalizam início de evento que reúne a cadeia produtiva do setor florestal. Crédito: ABTCP/Gladstone Campos

Na sequência, Fernando José Borges Gomes, Chefe do Departamento de Produtos Florestais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e coordenador do Comitê Unificado de Avaliadores de Trabalhos Técnicos da ABTCP, concedeu um reconhecimento à estudante Isabela Cabral Ferreira, mestranda em Engenharia Química na Universidade Federal de Viçosa (UFV), pelo trabalho que avaliou os aspectos técnicos e operacionais da fabricação de papéis de embalagens, utilizando complexos poliméricos com celulose nanofibrilada, que obteve a melhor pontuação da Categoria Estudante do ABTCP 2024.

Sandro Ávila, vice-presidente do Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (IPEF), enfatizou a importância do evento presencial para promover a integração de todos os elos da cadeia produtiva do setor. “Os últimos 40 anos foram determinantes para o processo de desenvolvimento que trilhamos e para o patamar que alcançamos. Para chegar até as atuais taxas de eficiência e produtividade, tivemos muitos avanços em pesquisa, ciência e conhecimento aplicado. Contudo, não podemos deixar de falar de alguns riscos emergentes, a exemplo das aceleradas consequências da mudança climática e da falta de mão de obra que assola todo o setor industrial brasileiro”, contextualizou, lembrando que o setor de celulose e papel é parte indispensável da solução estrutural necessária.

“Esta união do setor, que emblematicamente é representada pela recente unificação dos escritórios da ABTCP, Empapel e Ibá, fortalece os diferenciais que temos para contribuir ativamente com a construção de um futuro mais sustentável”, concordou o Embaixador José Carlos da Fonseca Jr., presidente-executivo da Associação Brasileira de Embalagens em Papel (Empapel).

Na Sessão Plenária, Paulo Hartung, presidente da Ibá, detalhou as tendências vivenciadas pelo setor florestal. Ele informou que a carteira de investimentos do setor de árvores cultivadas, prevista para os próximos três anos, contempla um montante de R$ 105 bilhões, posicionando-se entre os maiores aportes privados do Brasil. “Em 2023, o setor registrou um crescimento de 280 mil hectares. A indústria de árvores cultivadas desempenha um papel vital na economia atual, não apenas pelo desempenho exuberante, mas principalmente pela significativa contribuição no combate às mudanças climáticas, dando assim norte à caminhada rumo a uma nova economia verde.”

Ainda de acordo com os dados informados por Hartung, 220 mil hectares do total de crescimento registrado no ano passado aconteceram no Mato Grosso do Sul, assim como cerca de R$ 70 bilhões, do total investido nos próximos anos, serão aportados no Estado.

A solenidade de abertura do ABTCP 2024 contou com a presença de Eduardo Riedel, governador de Mato Grosso do Sul. “Perceber a força de determinado setor da economia é sempre satisfatório, uma vez que é possível visualizar como o setor tem ajudado a transformar o Estado.” Riedel ainda frisou que os investimentos privados na região estão em linha com os pilares que pautam as ações e políticas públicas adotadas. “O nosso propósito é aliar prosperidade, inclusão, economia verde e tecnologia, tornando o ambiente mais atrativo para a industrialização, a partir dessas bases. O setor de celulose e papel é, como mostram os números, uma das estrelas desse processo”, constatou.

“O nosso propósito é aliar prosperidade, inclusão, economia verde e tecnologia, tornando o ambiente mais atrativo para a industrialização, a partir dessas bases. O setor de celulose e papel é, como mostram os números, uma das estrelas desse processo”, constatou o governador do Mato Grosso do Sul. Crédito: ABTCP/ Gladstone Campos

Painel ESG

O Painel ESG, realizado no início da tarde do primeiro dia do ABTCP 2024, trouxe Caio Zanardo, CEO da Veracel, e Fernando Bertolucci, diretor executivo de Tecnologia, Inovação e Sustentabilidade da Suzano, para apresentar as frentes de trabalho das agendas ESG definidas pelas empresas. Acompanhados pelo embaixador Fonseca Jr., os porta-vozes também participaram de um debate moderado por Medeiros, presidente do ABTCP 2024.

Questionados sobre os pontos de atenção mais relevantes para o momento, que serão ainda mais demandados pela sociedade daqui a duas décadas, eles mostraram visões complementares sobre o tema. Enquanto Zanardo apontou que a valorização da biodiversidade tende a ter relevância crescente, Bertolucci exemplificou que alguns Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, como redução da desigualdade e promoção da paz e justiça, refletem aspectos sociais desafiadores em curto, médio e longo prazos.

Já a evolução no valuation do agronegócio, com práticas ESG catalisadas pela transformação digital, foi abordada por Hamilton Caio Gouvea, consultor independente. “Iniciei um MBA de Digital Business na USP/ESALQ para atualizar conhecimentos. Resolvi estudar o tema ESG, pois algumas pessoas de renome insistiam que o assunto já não era tão importante para alcançar maior valor nas empresas. Nos últimos 40 anos, surgiram as empresas de ativos intangíveis e o mundo mudou para a Era da Conectividade — basta ver que antigos conglomerados construídos com base em ativos físicos estão desaparecendo. A Amazon vale hoje algo como o PIB do Brasil, mesmo tendo um faturamento muito menor. E se surgirem empresas sustentáveis na “Amazônia Física”, com as tecnologias da Amazon, quanto podem valer? Como trabalho com alimentos e agroindústria há 30 anos, acredito que há um novo tipo de empresa de alto valuation surgindo no horizonte, aquela capaz de unir Digital-ESG-Tecnologia para gerar um novo significado neste que é um dos setores mais criticados da economia”, embasou sobre o tema.

A Sessão Técnica ESG ainda contou com a participação do palestrante convidado Marcio Castro, diretor executivo da Onearth Carbon, que abordou o papel da tecnologia na aceleração de projetos climáticos industriais. Ele ressaltou que para colocar ações em prática, é preciso mensurar as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e atualizar a forma de captação de dados, apresentando os diferenciais da plataforma oferecida pela climate tech.

“Como trabalho com alimentos e agroindústria há 30 anos, acredito que há um novo tipo de empresa de alto valuation surgindo no horizonte, aquela capaz de unir Digital-ESG-Tecnologia para gerar um novo significado neste que é um dos setores mais criticados da economia”, embasou Gouveia. Crédito: ABTCP/Gladstone Campos

Painel Florestal

Destaque como um dos dez trabalhos mais bem avaliados pelo Comitê Avaliador do ABTCP 2024, o estudo apresentado por Dalton Longue Júnior, professor e pesquisador da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), apresentado na Sessão Técnica Florestal, surgiu da demanda de uma fabricante de celulose, que notou que as toras de eucalipto, mesmo descascadas em campo, estavam chegando no pátio da fábrica com resíduos de casca acima de valores considerados normais. “Isso vinha causando grande acúmulo devido à impossibilidade da queima de todo material na caldeira de biomassa e à possibilidade de causar vários impactos negativos no processo de produção de polpa celulósica”, relatou sobre o trabalho que consistiu na elaboração de uma metodologia prática e mensurável da quantidade de casca nas toras de eucalipto descascadas em campo, com base no volume e na massa de casca em relação à massa de madeira processada.

Já o keynote Rodrigo Hakamada, professor na área de Manejo Florestal e Mudanças Climáticas da ESALQ/USP, abordou o desafio relacionado aos recursos humanos no setor florestal, principalmente em relação aos cargos de nível superior. “Profissionais melhor capacitados resultam em melhores resultados para a indústria, assim como profissionais melhor capacitados possuem uma visão mais estratégica e holística do negócio, observando aspectos técnicos, econômicos e socioambientais com o mesmo peso”, pontuou sobre a relevância do debate.

A programação do primeiro dia do ABTCP 2024 também contou o Fórum de Mulheres, com moderação de Silvana Sommer, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento Industrial da Klabin. A convidada Bibiana Rubini, da CMPC, compartilhou sua trajetória pessoal e profissional, destacando a importância de mentorias e do apoio de pessoas dentro e fora de casa para o crescimento da mulher no ambiente de trabalho. Ela enfatizou como a abertura de portas feita por uma mulher pode abrir uma trilha para outras.

Bárbara Bonfim, presidente do Conselho Diretor da Rede Mulher Florestal, trouxe importantes números sobre participação das mulheres no setor de base florestal: atualmente, 45% das pessoas formadas em Engenharia Florestal são mulheres, porém, o número não se reflete no setor, já que é formado por apenas 18% delas. Além disso, elucidou Bárbara, a presença de mulheres nos cargos de direção não passa de 20% em nenhuma das áreas do setor de base florestal. A desigualdade salarial entre homens e mulheres ainda persiste, chegando a ser 26% menor para as profissionais em altos cargos executivos do setor.

Com a finalidade de contribuir com a mudança da desigualdade de gênero, a ABTCP apresentou a criação do grupo CT Mulheres, cujo objetivo é promover ações, encontros e debates acerca do tema – Crédito: ABTCP/Gladstone Campos

Exposição ABTCP – Arena de Inovação

O primeiro dia da Arena de Inovação, iniciativa da Rede de Inovação da ABTCP para conectar startups inovadoras que desejam apresentar soluções técnicas relacionadas à sustentabilidade, economia circular e transformação digital, trouxe importantes debates sobre digitalização e segurança cibernética no setor industrial. Moderado por Durval Garcia Jr., diretor de Projetos de Inovação da Alcance Innovation Consulting, o evento atraiu uma boa audiência, superando as expectativas de público.

O primeiro painel, intitulado “Cibersegurança na Indústria 4.0: Fortalecendo a Resiliência Digital nas Fábricas de Papel e Celulose”, contou com as apresentações de Flávio Mine, especialista em Engenharia de Confiabilidade na CENIBRA, e Mauro Libânio, Cybersecurity Tech Leader na Siemens Energy. As apresentações enfatizaram a resiliência digital e como as indústria de papel e celulose estão lidando com os desafios de integrar novas tecnologias, como sensoriamento e comunicação em nuvem, a infraestruturas antigas. “A indústria de papel, por exemplo, possui uma infraestrutura tradicional, muitas vezes anterior às novas tecnologias digitais, gerando grandes desafios para integrar sistemas modernos com equipamentos mais antigos”, destacou o moderador.

Ele destacou ainda que os dois painelistas chamaram a atenção para a vulnerabilidade cibernética nas indústrias, com exemplos de ataques causados por falhas humanas, como o uso inadequado de dispositivos externos. “Na grande maioria das vezes, o problema cibernético vem do mau uso do usuário ou da falta de procedimentos e protocolos”, disse, ressaltando a importância da conscientização e de protocolos rigorosos de segurança. Flávio Mine destacou a importância de encontrar soluções para backups confiáveis de dados operacionais, especialmente em caso de ataques que possam paralisar as operações.

O segundo painel, “Tecnologias Habilitadoras e sua aplicação no desenvolvimento de Inovações”, contou com as apresentações de Péricles Teles, Sênior Sales Manager no Instituto Atlântico (EMBRAPII), Vinícius Bravim, diretor de Operações na Timenow, e Gobério Maia, do Senai CETIQT. As apresentações destacaram como essas entidades estão ajudando o setor com soluções tecnológicas inovadoras. A Timenow, por exemplo, apresentou sua plataforma de inovação aberta, que conecta startups para desenvolver soluções em conjunto com grandes indústrias.

A Arena de Inovação também serviu como um espaço para fomentar o networking entre os participantes. “O que a gente espera agora é que essas aproximações gerem projetos de inovação”, disse Garcia Jr., animado com a interação entre as empresas. Para o segundo dia do evento, a programação inclui debates sobre economia circular e recuperação de resíduos, com destaque para a apresentação de Nilton Saraiva, diretor-presidente da Ibema, e o case de recuperação de fibra a partir de sacos de cimento.

Para conferir demais detalhes sobre todas as participações da Sessão de Abertura do ABTCP 2024 e outros destaques da programação, confira a revista O Papel de outubro. A edição trará a cobertura completa do evento e circulará a partir da segunda quinzena do mês.

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