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Perspectivas globais para o mercado de celulose e papel

Conferência de Produtos Florestais da Fastmarkets América Latina destacou as incertezas e adaptações necessárias na cadeia produtiva da indústria de base florestal

O mercado da indústria de base florestal tem apontado incertezas quanto aos impactos do Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento ou European Union Deforestation-Free Regulation (EUDR), especialmente para o Brasil. Além disso, novos investimentos em capacidade integrada na produção de papéis tissue na China, e a crescente demanda por cavacos de madeira no leste asiático acendem um alerta pela necessidade da fibra. Para o mercado papeleiro, a substituição dos plásticos pelas empresas, os desafios com a adoção de matérias-primas mais sustentáveis versus custos para adaptação da produção e aparas de pós-consumo de qualidade configuram-se como um cenário de oportunidades para solucionar gargalos de competitividade das empresas.

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Todos esses pontos foram amplamente discutidos durante a 19.ª Conferência de Produtos Florestais, realizada nos dias 13 e 14 de agosto, em São Paulo-SP, com a participação de seus analistas, representantes da indústria e de associações do setor. O evento foi promovido pela Fastmarkets, principal fornecedora de informações de mercado para a indústria global de produtos florestais.

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O mercado global de celulose

Para os produtores de celulose, o cenário é de ajustes. Uma quantidade relativamente grande de nova capacidade entrará no mercado até o final de 2024, o que criará uma pressão sobre os estoques para os produtores e reduzirá as taxas de utilização, na visão de Patrick Cavanagh, economista sênior para celulose e produtos florestais da Fastmarkets. Dessa forma, as baixas taxas de operação de papel e papelão na China continuarão sendo um obstáculo para o aumento dos preços. Ainda assim, as operações dolarizadas serão favorecidas à medida que os preços vão se ajustando. Cavanagh indicou que o potencial de crescimento para a celulose de fibra curta branqueada continua positivo devido a vários fatores: a substituição da celulose de fibra longa e o fechamento de capacidades, o crescimento no papel tissue e papelão para caixas acima de 3% até 2028, e o aumento do preço mínimo devido aos preços dos cavacos de fibra curta.

Cavanagh indicou este último como tendência para o mercado. O maior consumidor mundial de celulose de mercado de eucalipto, a China, está investindo pesadamente em sua própria capacidade, com importações de cavacos de fibra curta, mas adiantou que a sua continuidade é incerta. “Atualmente, a maioria das fábricas de papel tissue não é integrada e poucas utilizam fibra reciclada. Algumas máquinas integradas e semi-integradas apresentam custos minimamente inferiores em comparação com as não integradas, e a idade média dessas fábricas na China é de cerca de oito anos”, explicou.

“Quando o preço da celulose de mercado de eucalipto cai para menos de US$ 120 dos custos de fibra para os produtores de celulose chineses, torna-se mais econômico comprar celulose de mercado para apoiar as linhas de celulose integradas por fibra. Assim, o preço dos cavacos de fibra curta está ajudando a definir o preço mínimo para a celulose de mercado de eucalipto”, detalhou o economista. Nesse sentido, disse Cavanagh, o aumento da capacidade integrada na China representa tanto um desafio quanto uma oportunidade para os produtores de celulose de mercado de eucalipto, resultando em maior volatilidade nos preços, mas também em margens médias mais altas.

“Os preços mais altos dos cavacos de fibra curta ajudarão a sustentar as margens para produtores de celulose de fibra curta branqueada de menor custo, evitando a queda dos preços da celulose durante as correções. As linhas integradas que compram celulose ajudarão a reduzir os estoques excedentes e a minimizar as quedas, enquanto a indústria de papel e papelão da China dependerá mais da capacidade integrada quando os preços da celulose estiverem ciclicamente elevados”, pontuou.

Cavanagh também abordou as vantagens de custo de produção da celulose de fibra curta na América Latina. Em todo o mundo, a redução de capacidade e fechamentos das fábricas de fibra longa estão abrindo espaço para o crescimento da celulose de fibra curta. Em um período de 24 anos, a América do Norte reduziu sua produção em 2,99% e houve redução também na África e Oceania. Enquanto isso, Ásia e Europa registraram crescimento de 5% e 4%, respectivamente, sendo a América Latina responsável pela grande expansão, com 27,1% desse mercado. O grande impulsionador para isso, conforme Cavanagh, foram os custos relativamente baixos da madeira na América do Sul.

É uma preocupação, mas ainda assim o aumento de preços da madeira registrados nos últimos anos para a região, especialmente para uma produção onde dois terços do seu custo de produção advêm da madeira e do transporte. Do lado da demanda, a China continua absorvendo a produção. Também no período de 24 anos, a região passou a consumir mais 24,78 milhões de toneladas, enquanto nas demais regiões a variação se manteve estável. A produção total de celulose global foi de 70,1 milhões de toneladas em 2023. E 50% desse total foi de celulose de fibra curta e 31% de fibra longa, o restante nas demais especificações. A maior destinação foi destinada à produção de papéis tissue, respondendo por 41% do total, seguido por papéis gráficos com 28%, papéis especiais e cartão com 27% e containerboard com 4%. Para o mercado de fibra curta, a China consumiu 47% deste total.

Ainda sobre os movimentos no mercado de celulose, uma palestra de Marcos Madruga, analista de investimentos florestais da Fastmarkets, abordou o Chile, um dos principais exportadores de madeira. Madruga indicou que o país enfrenta uma escassez crescente, o que está levando a um aumento nos preços dos cavacos de madeira. “De 2018 a 2023, as exportações de cavacos de eucalipto caíram pela metade, e as previsões indicam que, em 2024, as exportações serão inferiores a 2,3 milhões de toneladas, o menor volume registrado”, apontou.

Nesse contexto, ele explicou que o projeto MAPA da Arauco, localizado na região do Bío-Bío, está impulsionando a demanda interna, com uma expansão que aumentará o consumo de madeira de eucalipto em 60%, para mais de 4 milhões de metros cúbicos por ano. “Isso está contribuindo para uma possível elevação nos preços da madeira para celulose no mercado interno, já que a oferta disponível para exportação está diminuindo”, indicou.

No contexto global, a China, que é o maior importador de cavacos de madeira do mundo, está ampliando sua capacidade de produção de celulose. Em 2022, a China importou mais de 18 milhões de toneladas de cavacos, superando o Japão como o principal importador. Com novos projetos de celulose planejados para 2024 a 2025, que adicionarão mais de 5 milhões de toneladas de capacidade de produção, a China precisará aumentar suas importações de fibra de madeira, com uma dependência crescente de fornecedores externos.

Enquanto isso, o Sudeste Asiático, particularmente o Vietnã, tem se consolidado como um fornecedor chave de cavacos de madeira. O Vietnã, o maior exportador mundial, viu suas exportações de cavacos de madeira crescerem de 4 milhões de toneladas em 2010 para mais de 15 milhões de toneladas em 2022. Espera-se que o país supere 16 milhões de toneladas em exportações até 2026. “Com a oferta global de madeira para cavacos não conseguindo acompanhar a demanda crescente, o Chile enfrentará desafios para manter sua posição como um fornecedor significativo. A competição intensificada e a redução das exportações podem fazer com que os preços da madeira para celulose subam no mercado chileno, enquanto as empresas de celulose chilenas ainda têm espaço para aumentar seus custos de produção e manter a competitividade regional e global”, analisou Madruga.

Complementando o cenário sobre a disponibilidade de madeira de eucalipto, Carlos Anibal Almeida, VP Executivo de Florestal e Suprimentos da Suzano, discorreu sobre os desafios e oportunidades para o Eucawood. O foco principal foi discutir a relação entre oferta e demanda, bem como os impactos das mudanças climáticas, como incêndios florestais e pragas, na produtividade florestal.

“As projeções de longo prazo indicam um aumento esperado na demanda, aliado a uma redução na oferta devido às áreas de colheita limitadas e à produtividade estagnada. O mercado antecipa uma crescente dependência do Eucawood para diversas aplicações, incluindo biomassa para energia e novos projetos de celulose, mas o desequilíbrio entre oferta e demanda deverá resultar em contínuos aumentos de preços e em uma competição acirrada pelos recursos disponíveis na próxima década”, contextualizou.

Nesse sentido, o executivo da Suzano enfatizou a importância da construção de uma base florestal sólida para enfrentar os desafios do mercado. Para tal, a companhia tem adotado estratégias para melhorar a produtividade que incluem a introdução de novos materiais genéticos e clones para aprimorar as taxas de crescimento, bem como práticas de silvicultura de precisão adaptadas a microrregiões específicas. Além disso, há um foco em mapeamento ambiental e pesquisas para otimizar o manejo florestal, com o uso de tecnologias avançadas.

O primeiro dia do evento foi marcado ainda por fireside chats e apresentações dos CEOs das empresas, e os moderadores da conferência. Participaram do evento Walter Schalka e Beto Abreu, da Suzano, Cristiano Teixeira, da Klabin, Francisco Ruiz-Tagle, da CMPC, Praveen Singhavi, da Bracell, e Flavio Deganutti, da Paracel.

Celulose Solúvel e Fluff

Quem recebe sinal verde é o mercado das demais fibras celulósicas. Hema Kalantingal, economista da Fastmarkets, indicou que a demanda por fibras celulósicas manufaturadas está em crescimento. “Entre os principais drivers impulsionadores, observa-se um crescimento robusto do lyocell, especialmente na China. A demanda por hi-alpha está correlacionada com o crescimento econômico mais amplo. Ao mesmo tempo, a China está impactando a demanda por fluff de alta qualidade, bem como as mudanças demográficas indicam uma expansão na capacidade de produção, incluindo o fluff feito a partir de fibra curta”, resumiu Hema.

Os números apresentados indicam que as fibras celulósicas manufaturadas (MMCF) expandiram 85% entre 2010 e 2023. Durante o mesmo período, 80% da celulose solúvel foi consumida em MMCF. No geral, as fibras totais cresceram 50%. Diversos fatores têm impulsionado esse aumento da demanda. A sustentabilidade e a conscientização dos consumidores são aspectos cruciais, especialmente em comparação com as fibras de fontes não renováveis. Além disso, há investimentos crescentes em lyocell, com o apoio do governo chinês, e a substituição de plásticos por não-tecidos.

A capacidade de produção de fibras celulósicas manufaturadas dobrou na última década, com a capacidade de lyocell crescendo mais rapidamente do que as fibras celulósicas totais nos últimos anos.

Como perspectivas, Hema apontou um crescimento de cerca de 2% ao ano entre 2024 e 2025 para o mercado global de fibras têxteis, enquanto as MMCF terão um crescimento anual de 4%. As taxas de operação de viscose e lyocell na China estão altas, com as taxas de operação do lyocell subindo de menos de 50% em 2022 para mais de 70%. A alta diferença de preços entre o algodão e a viscose na China incentivou a substituição.

Para o mercado de celulose para viscose, existe um cenário positivo, mas sem novas capacidades confirmadas, e o consumo global de celulose hi-alpha permanecerá estável. O crescimento econômico continuará a impulsionar os mercados finais. As taxas, contudo, são menores do que as das fibras têxteis, mas esse mercado deve crescer mundialmente a uma taxa média de 3% ao ano até 2025, com demanda impulsionada principalmente pela indústria de produtos farmacêuticos e cosméticos.

O mercado global de papel

No cenário macroeconômico, Alejandro Mata, diretor na Fastmarkets para Embalagens e Papéis Gráficos na Europa, afirmou que o EUDR está prestes a causar uma transformação significativa no mercado global, reconfigurando as cadeias de suprimento e impondo novos desafios para as empresas. “Embora o regulamento não afete diretamente os produtos de papel reciclado, cerca de 55% do papel e papelão global pode ser impactado. As novas regras exigirão que as empresas se adaptem para minimizar os custos e evitar penalidades”, indicou.

Camila Jaramillo, economista da Fastmarkets, corroborou os apontamentos, indicando que o mercado global de papel kraft apresenta várias oportunidades de crescimento para os próximos dois anos, mas enfrenta desafios significativos devido a essas novas regulamentações, custos crescentes e questões políticas globais.

Na Europa, os motores tradicionais do setor desaceleraram desde o final de 2022. A área da construção na zona do euro tem mostrado declínio contínuo nos últimos 24 meses, registrando um dos piores desempenhos em abril de 2024. A produção química e industrial também tem contraído nos últimos 12 meses. “Em 2023, os materiais de construção representaram 43% da demanda por sacos de papel. Apesar da substituição de plásticos, o comércio eletrônico e a embalagem flexível terem mostrado uma demanda mais resiliente em 2023, esses fatores ainda não foram suficientes para compensar a contração”, ressaltou Camila.

A economista apontou ainda que, globalmente, a substituição de plásticos pode adicionar cerca de 0,5% ao crescimento anual da demanda por kraft entre 2024 e 2027. No entanto, as regulamentações para plásticos de uso único variam por região. Na América do Norte, não há uma regulamentação uniforme; nove estados dos EUA têm proibições sobre sacos plásticos de uso único, com mais dois entrando em vigor em 2024. Na Europa, a Diretiva de Embalagens e Resíduos de Embalagens (PPWD – Packaging and Packaging Waste Directive) e a EUDR definem as regras para todos os países da UE. Na América Latina, a legislação sobre substituição de plásticos é limitada a países como Colômbia, Chile e Peru, com soluções locais em outros países.

“Na América Latina, a demanda por papel kraft é impulsionada principalmente pela construção e produção de cimento, além da indústria de ração animal e alimentos. A demanda por sacos de papel na América do Norte se recuperou em 2021, mas os motores de demanda enfraqueceram em 2023. A demanda global por papel kraft está prevista para se recuperar com um aumento de 6% na demanda na Europa e na América Latina em 2024”, acrescentou.

Quanto ao mercado de sack kraft, Camila apontou que a Europa continua sendo o principal produtor e exportador líquido, com quase metade da capacidade mundial. No entanto, as exportações líquidas diminuíram substancialmente em 2023, embora estejam aumentando em 2024. “A Rússia, que teve um aumento significativo nas exportações para a Ásia, pode se tornar um concorrente relevante no mercado Ásia-Pacífico, o que representa um risco para o setor europeu”, lembrou.

Já a China aumentou fortemente suas importações de papel kraft em 2024, com um aumento de 72% em relação a 2023. A escassez e os preços elevados de fibras virgens e recicladas estão impulsionando as importações, que devem se estabilizar na segunda metade do ano. “A substituição de plásticos por papéis kraft está em alta, refletindo a tendência crescente em busca de soluções mais ecológicas. A inovação e a adaptação das fábricas para atender às novas demandas de embalagens sustentáveis serão fundamentais para o sucesso futuro no mercado de papel kraft”, resumiu Camila.

No painel sobre o setor de conversão de OCC/papelão ondulado na América Latina, líderes como Fernando Celani, presidente da Cartonifício Valinhos S.A.; João Paulo Moura Sanfins, diretor da Resiban do CRB Group; Fabio Suetugui, gerente da Repapel; Amando Varella, CEO da Papirus; Rodrigo Ruffo, gerente de Vendas e Aplicações de Sistemas de Fibra da Voith; e Marina Faleiros, líder de equipe da Fastmarkets para a América Latina e gerente regional Brasil, discutiram as oportunidades e desafios do setor.

Os participantes destacaram a necessidade de maior alinhamento entre aparistas e produtores para impulsionar a economia circular. Enfatizaram a alta demanda por aparas de pós-consumo de boa qualidade, não industriais, e abordaram estratégias para melhorar a coleta, triagem e integração da fibra OCC no processo de produção de papelão ondulado. Além disso, exploraram novas tecnologias e processos para otimizar a eficiência, reduzir o desperdício e melhorar o desempenho dos produtos.

João Paulo Moura Sanfins e Fabio Suetugui destacaram a diferença na estruturação da cadeia de reciclados entre papel e plástico, e sugeriram que a indústria de papel possa se beneficiar de uma abordagem similar à do plástico, com negociações mais estruturadas para estabilizar o fornecimento. Além disso, disseram que existe uma influência negativa do controle de preços e leis sobre a indústria e que o setor está buscando benefícios fiscais e políticas públicas para melhorar a situação.

Amando Varella, da Papirus, falou sobre a utilização de aparas de papel cartão, suas origens e desafios. Ele destacou a importância de cooperativas e parcerias para garantir o fornecimento de aparas de papel cartão pós-consumo.

Fernando Celani, da Cartonifício Valinhos, comentou sobre o impacto da pandemia na oferta e demanda de aparas de papelão ondulado, observando a volatilidade de preços e a necessidade de estabilizar a cadeia de fornecimento. Enfatizou a importância de encontrar um equilíbrio para evitar grandes variações de preço.

Rodrigo Ruffo, da Voith, abordou a aceleração na busca por eficiência tecnológica durante a pandemia. Destacou a necessidade de sistemas robustos para processar matérias-primas variadas e a importância de investimentos em equipamentos e treinamento para melhorar a coleta e a reciclagem de papel.

Abordando oportunidades para as empresas produtoras, no painel “Perspectiva Regional – Andina/Pacífico”, representantes comentaram sobre como as indústrias da região podem utilizar inovações para atender às demandas dos consumidores latino-americanos, priorizando a responsabilidade na origem dos recursos e a preservação ambiental. Os participantes Jorge Luzuriaga, diretor da Amexiccor GAK; Isabel Cristina Riveros Pineda, diretora da Câmara da Indústria de Celulose, Papel e Papelão da Associação Nacional de Empresários da Colômbia (ANDI); e Guillermo Cely, diretor de Vendas e Marketing da Carvajal Pulp & Paper, destacaram ainda a importância de uma maior integração entre empresas e associações para fortalecer o setor, identificar oportunidades de colaboração e criar uma indústria latino-americana mais robusta e competitiva.

O mercado de produtos de papel na América Latina

O mercado de produtos de papel na América Latina enfrentou uma queda acentuada na demanda entre 2023 e 2024, influenciado por diversos fatores. Rafael Barisauskas, economista sênior da Fastmarkets, destacou que o fenômeno El Niño causou condições climáticas instáveis, prejudicando as colheitas de frutas e reduzindo as exportações. Esse impacto foi agravado por altos estoques e uma demanda reduzida de usuários finais e produtores de papelão ondulado. Além disso, a produção industrial foi afetada por custos elevados de capital e uma demanda enfraquecida, como efeitos colaterais da pandemia. A renda disponível das famílias diminuiu devido à alta inflação e aos cortes em programas sociais, o que aumentou o endividamento e reduziu o poder de compra.

No entanto, Barisauskas prevê uma recuperação no mercado de embalagens para 2025 e 2026. “Espera-se que a demanda por papel de embalagem de papelão ondulado aumente 2,5%, enquanto o papel de embalagem de papel-cartão e outros tipos não corrugados deve crescer 2,6% na média anual durante o período. A recuperação será sustentada por uma demanda resiliente em toda a região, estoques saudáveis que estimulam a atividade de usuários finais e dos produtores de papelão ondulado, e custos de capital mais baixos, resultado da redução das taxas de juros e da inflação mais moderada. A melhora nas condições econômicas deve levar a uma leve recuperação da renda disponível, embora os níveis de dívida ainda permaneçam elevados”, disse ele durante o evento.

O setor de papel para impressão e escrita tem enfrentado turbulências significativas, com crises consecutivas entre 2016 e 2018 e 2020 e 2022. As dificuldades atingiram varejistas, editores e grupos de mídia, com uma queda abrupta na demanda seguida de uma recuperação. “A crise publicitária subsequente levou a uma mudança nos investimentos em marketing, com recursos sendo direcionados para canais alternativos e reduzindo os investimentos em mídia e produção de conteúdo”, destacou Barisauskas. A previsão para 2025 e 2026 é de uma queda na demanda por papel não revestido de 1,3% e de 1,9% para papel revestido. “As taxas de operação podem experimentar um alívio parcial devido à normalização das condições de mercado”, disse.

Outros fatores moldam o mercado de papel e embalagens, como a crescente substituição de plásticos, impulsionada por novas regulamentações e tendências ESG, além do protecionismo global, que redesenha os fluxos comerciais e impacta o comércio internacional. “A competição com produtores de baixo custo, especialmente da China e dos EUA, está se intensificando para os fabricantes latino-americanos. A região está cada vez mais dependente de importações de papelão ondulado, com um aumento de 209 mil toneladas entre 2020 e 2023, enquanto a produção caiu para 73 mil toneladas no mesmo período. A capacidade ociosa na produção em embalagens não corrugadas também cresceu, com um incremento de mais de 300 mil toneladas no mesmo período”, contextualizou. A penetração de importações chinesas na América Latina aumentou significativamente, subindo 178 mil toneladas entre 2020 e 2023.

Já as novas tarifas comerciais de 30% a 35% no México podem redesenhar os fluxos comerciais e impactar a dinâmica de importação. O nearshoring, prática de realocar a fabricação mais perto dos mercados finais, tem ganhado destaque no setor de papel e embalagens na América Latina, especialmente no país. Esse movimento é impulsionado pela necessidade de reduzir riscos na cadeia de suprimentos, diminuir custos de transporte e aproveitar a proximidade com o mercado dos Estados Unidos. “Os custos trabalhistas no México são cerca de 12% a 15% menores do que na China. Além disso, a integração demográfica e econômica da região fronteiriça entre os EUA e o México, que abriga mais de 90 milhões de pessoas, destaca ainda mais o potencial do nearshoring na área”, acrescentou Barisauskas.

Já para o Brasil, a penetração das suas exportações de papel na América Latina cresceu de 12% em 2020 para 18% em 2024, com um volume total de 0,87 milhão de toneladas em 2023. “O crescimento das exportações de kraftliner e os acordos comerciais, como o Mercosul, favorecem a integração e o aumento das exportações de alimentos, impulsionando as exportações brasileiras a países vizinhos. No entanto, a implementação do EUDR poderá afetar as exportações de produtos alimentícios e, consequentemente, de papel para a América Latina”, disse Barisauskas.

Ele também analisou as mudanças no principal destino das exportações brasileiras de papel, a Argentina, onde a inflação cria um dilema entre crescimento e bem-estar social, mas ainda assim com melhores perspectivas para 2025 e 2026. “A Argentina se destaca no mercado de papel, mas enfrenta desafios com altas despesas públicas e um ciclo de pobreza exacerbado por políticas anti-inflacionárias. A demanda por embalagens deve se recuperar, enquanto o consumo de papéis impressos continua a cair devido à mudança para o digital. A austeridade pública e o corte em investimentos reduzem gastos não essenciais, mas a Argentina ainda é forte na leitura e no mercado editorial competitivo, dominado por pequenos editores”, apontou.

No painel “Revolução das Embalagens: mesa redonda de CEOs sobre disrupção, sustentabilidade e crescimento na América Latina”, líderes do setor de embalagens discutiram as forças disruptivas que estão moldando a indústria. Participaram Nilton Ferreira Saraiva Junior, CEO da Ibema Papelcartão; Sérgio Ribas, CEO da Irani Papel e Embalagem; Douglas Dalmasi, diretor de Negócios de Embalagens da Klabin; Daniel Pereira Ternes, diretor Estratégico da Divisão de Celulose e Papel da Nalco; e Sandy Oliveira, repórter de Preços da Fastmarkets.

Os desafios apontados incluem a competição com importados e altos custos, especialmente para empresas não integradas. Empresas como Klabin e Irani continuam a investir na verticalização das operações. Apesar das dificuldades atuais, há uma perspectiva positiva para crescimento a médio e longo prazo, especialmente com melhorias contínuas no produto. Soluções sustentáveis e inovação estão em alta, com um foco crescente em processos eficientes e redução de custos. A resistência do papel é uma área chave de inovação, com esforços voltados para aumentar a eficiência e reduzir o uso de água e químicos. A substituição do plástico é uma prioridade, com desenvolvimentos em barreiras de papel, embora ainda haja desafios para alcançar escalas industriais.

Além disso, a reciclagem de papel está se tornando uma tendência crescente, com o Brasil apresentando um alto percentual de papel reciclado. No entanto, há oportunidades para melhorar a qualidade da reciclagem. Investimentos em novas tecnologias e processos são essenciais para otimizar a reciclagem e atender à demanda crescente por produtos sustentáveis.

O evento contou também com o painel “Atendendo às necessidades dos consumidores em tissue e produtos de consumo”, que discutiu como as mudanças demográficas, como o envelhecimento da população, e as novas expectativas dos consumidores por sustentabilidade, conveniência e produtos premium estão moldando o mercado de tissue e produtos de consumo em território nacional. Entre os pontos abordados, o atacarejo tem se destacado por ser uma opção mais barata e eficiente, oferecendo maior margem para a indústria e o consumidor. Este modelo de varejo simplificado e de baixo custo tem se expandido rapidamente, transformando-se em centros completos de compras.

Os palestrantes discutiram também como esse mercado evoluiu para atender às novas demandas e como o setor está se adaptando a mudanças tecnológicas e econômicas. A digitalização e automação estão se tornando tendências importantes para melhorar a eficiência e reduzir custos. Além disso, há uma discussão sobre a importância da manutenção e modernização das plantas para enfrentar crises e garantir a competitividade. A conversa também abordou outras tendências de mercado. O Brasil, por exemplo, é um grande consumidor de fibra longa, mas há um movimento global em direção a produtos com fibras alternativas e mais sustentáveis. A sustentabilidade e a adaptação às necessidades do consumidor são vistas como aspectos cruciais para o futuro do setor.

Participaram dessa discussão Eduardo Aron, diretor Geral de Tissue da Bracell; Stephanie Hsia, economista de Tissue da Fastmarkets; Carlos Gall, diretor de Vendas para a América Latina e Tecnologia em Máquinas de Tissue da Andritz; e Luciano Barboza, diretor Geral da Indaial Papel.

Confira aqui o PDF da matéria publicada na O Papel

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