A indústria de árvores cultivadas reconhece a importância de promover ativamente a presença e o desenvolvimento de profissionais mulheres em suas empresas, associações e na sua cadeia de valor, embora ainda haja uma jornada de aprendizado e compromisso a ser percorrida. Esse cenário de inquietação é impulsionado pelo compromisso crescente em gerar um impacto positivo na sociedade. Além disso, reflete a importância da promoção da diversidade de gênero, reconhecendo o valor intrínseco da inclusão e da equidade de oportunidades no setor.
O mais recente Panorama de Gênero da Rede Mulher Florestal (RMF) revela avanços, ainda que modestos, ante a premência do tema. A conclusão é que ainda há muito trabalho a ser feito para transformar a indústria florestal em um ambiente mais representativo e diverso. Segundo o levantamento da RMF, hoje as mulheres representam 18% da força de trabalho do segmento florestal. Isso significa uma sutil queda em relação à pesquisa anterior, feita em 2021, quando somavam 19%. Porém, mostra um aumento comparado a 2019, ano em que foi feito o primeiro levantamento e mulheres eram apenas 13% das equipes. Vale lembrar que as mulheres representam hoje 52% da população brasileira, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e constituem 45% das pessoas formadas em engenharia florestal, segundo dados da Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais (SBEF). A discrepância entre o cenário nacional e a indústria florestal aponta para a importância de se fomentar ambientes de trabalho mais inclusivos.
São conhecidos os obstáculos que afastam as profissionais de muitos mercados. Os percalços começam com as expectativas sociais tradicionais sobre o papel da mulher, passam por vieses inconscientes nas decisões de contratação e resultam em discriminação de gênero. Aquelas que furam a bolha precisam ainda lidar com inúmeras questões que dificultam o seu crescimento e progresso dentro das empresas, como desigualdades salariais e falta de políticas equitativas. Abordar esses desafios requer um compromisso contínuo com a promoção da diversidade.
Para evitar um teto de vidro na abordagem do tema, não basta atrair talentos, é necessário criar uma cultura interna de inclusão e permanência feminina. Segundo o levantamento, atualmente os cargos com maior participação de mulheres são os de diretoria de Recursos Humanos (56%), diretoria de Sustentabilidade (50%) e diretoria Jurídica (46%).
Ciente da necessidade de avançar na pauta, a IBÁ, desde 2021, quando foi criado o Comitê Diretor ESG, vem atuando na agenda de diversidade. Em 2022, iniciou um projeto de capacitação e treinamento, que contou com encontros mensais de mais de mil participantes. Em 2023, foi a vez de olhar para fora, e o programa se dedicou a ouvir experiências e buscar inspirações em empresas de diferentes setores, como Ambev, Meta, Natura e Shell. Agora, em 2024, com o apoio do Comitê, a agenda de diversidade está sendo trabalhada a partir de questões específicas mapeadas pelas empresas associadas sobre a diversidade de gênero.
A jornada que vem sendo construída não se justifica apenas pela possibilidade de mostrar bons resultados a stakeholders, mas também pelo comprovado papel positivo que a diversidade desempenha no ambiente organizacional. Segundo a McKinsey & Company, na América Latina, empresas com equipes executivas diversas têm 14% mais probabilidade de superar a performance de seus pares na indústria. Os ganhos passam pelo aumento da colaboração entre membros, a proposição de novas ideias e a propensão para inovar.
A IBÁ apoia a Rede Mulher Florestal e sua pesquisa para que o setor possa ter formas de medir e acompanhar a evolução do tema com clareza. Essa iniciativa reverbera a discussão de que ainda existem muitos pontos a serem endereçados e abre espaço para que as oportunidades de aprendizado e desenvolvimento sejam avaliadas para avançarmos nessa jornada.
Vamos juntas e juntos! O documento do Panorama de Gênero do Setor Florestal 2023 está disponível em: https://www.redemulherflorestal.org/publicacoes. Acesso em: 10 mar. 2024.
Por: Márcia Silva de Jesus Taiana Guimarães, Doutora em Ciência Florestal e especialista em Sustentabilidade na Ibá e Arriel Gladstone Campo, Secretária-executiva da Rede Mulher Florestal
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