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Alta nos preços das aparas e desafios do mercado de papel

A coleta de aparas no RS é lenta, os preços das aparas marrons sobem, enquanto fabricantes enfrentam dificuldades para repassar custos e manter rentabilidade

Com a recuperação na coleta de aparas no Rio Grande do Sul ocorrendo de forma lenta e a demanda por embalagens de papel em crescimento, estamos assistindo a uma repetição dos acontecimentos da pandemia, ou seja, os preços das aparas marrons estão em forte alta e sem indicação de estabilidade.

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A elasticidade de preços das aparas é bastante alta visto que, como já mencionamos várias vezes, o papel reciclado é matéria-prima de si mesmo e, qualquer problema que ocorra com sua oferta implica em fortes aumentos de preços, mesmo que a demanda por papéis não apresente um bom crescimento e, diferentemente do ocorrido na pandemia, os fabricantes de papel e caixas, com concentração de papel reciclado, não estão encontrando a mesma facilidade em repassar preços e enfrentam uma forte perda de rentabilidade, visto que o mercado ainda apresenta desequilíbrio entre a oferta de papel de fibra virgem e reciclado, com forte presença do primeiro.

Assim, ao pensar no futuro desse mercado, além do desempenho da nossa economia, temos que considerar a recuperação na coleta no Rio Grande do Sul e a presença do papel de fibra virgem, já que o outro fator impactante que é o incentivo à coleta de rua está normalizado, com os catadores recebendo por volta de R$ 0,50 o quilo de material coletado, e isso volta a estimular seu trabalho. Quanto à economia, não podemos esquecer o seu desempenho que, atualmente, vem sendo impulsionado pelo crescimento do consumo das famílias, o que impacta diretamente na demanda por embalagens de papel e ajuda a explicar os sucessivos recordes na expedição de caixas reportados pela Associação Brasileira de Embalagens em Papel (Empapel), mas, a administração das contas públicas gera incertezas principalmente em relação a 2025.

Com o impacto das chuvas no sul do País, ocorridas entre o final de abril e começo de maio, esperávamos um declínio no volume de vendas do comércio, mas não foi o que ocorreu. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em relação a maio de 2023 houve um crescimento de 8,1% na média nacional, e em relação ao mês anterior o crescimento foi de 1,2% para o País como um todo e de 1,8% no Rio Grande do Sul. Entre as categorias acompanhadas pelo Instituto, no comparativo de maio de 2024 contra maio de 2023, continuamos registrando três delas com desempenho negativo, mas todas diferentes das que estavam no campo negativo no comparativo anterior.

O segmento de livros, jornais, revistas e papelarias, que consideramos um indicativo do desempenho da indústria de papéis de imprimir e, por consequência, da disponibilidade de aparas brancas, voltou a apresentar resultado negativo, perdendo 9,9% do seu volume de vendas no período considerado e, agora, no acumulado do ano até maio, a categoria apresenta uma perda de 7,5%. Para dificultar ainda mais, no último dia 10 de julho a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) aprovou uma proposta de resolução que amplia o rol de medicamentos dispensados de trafegarem sem a bula impressa, sendo que papel de imprimir representa um grande mercado para gráficas e um grande consumo de papel.

A resolução dispensa o uso da bula em medicamentos de uso por profissionais da saúde nas amostras grátis e nos medicamentos vendidos em cartela nas prateleiras das farmácias. O volume não é grande, e a medida está sendo contestada pelo Ministério Público Federal, mas deve ser acompanhada com atenção, pois a generalização da dispensa de bulas é uma ameaça constante. No acumulado do ano até maio, o volume de vendas do comércio varejista brasileiro apresentou um desempenho 5,6% superior ao acumulado em igual período do ano anterior com todos os estados, permanecendo com desempenho positivo. Neste comparativo, o Rio Grande do Sul praticamente manteve o resultado dos anteriores e encerrou o período com um crescimento em seu volume de vendas de 6,7%, ficando acima da média nacional cujo resultado foi 5,9% superior. O melhor desempenho ficou com Rondônia e o pior com o Espírito Santo com percentuais de 19,5% e de 0,8%, respectivamente.

O desequilíbrio entre oferta e demanda de aparas manteve a forte alta de preços em junho último com o ondulado I e II sendo comercializados por R$ 985,99 e R$ 871,15 a tonelada fob depósito, com reajustes, em relação ao mês anterior, de 17,6% e 19,6%, e, no acumulado do ano, os preços estão com aumentos de 46,6% e 55,3% respectivamente. O cenário para os próximos meses fica confuso, pois, por um lado, a coleta está estimulada, as vendas nos supermercados crescem acima de 10%, e a tendência é que o Rio Grande do Sul volte a fornecer as quantidades de aparas que tradicionalmente fornece; por outro lado, a demanda por caixas está em alta e, sazonalmente, tende a ser maior no terceiro trimestre do ano.

Conforme dados da Empapel, a expedição de caixas, chapas e acessórios atingiu a marca de 2.051.951 toneladas no primeiro semestre, ficando 5,4% acima da expedição verificada neste mesmo período do ano anterior. O papel de fibra virgem, que apresenta custos mais controlados porque seus fabricantes são proprietários das florestas e produzem a celulose, ou seja, controlam melhor os custos da matéria-prima, continua presente no mercado em alto volume, mas, os fabricantes de papel reciclado terão que implementar aumentos se quiserem manter a rentabilidade que, tradicionalmente, já é baixa no setor.

Uma diferença para a pandemia é que, como falamos no início da coluna, os fabricantes de papel estão com mais dificuldade de repassar os custos das matérias-primas, ainda sofrendo com a presença de papel de fibra virgem. Como informado no boletim da Anguti de papéis de embalagem, em junho passado o papel miolo foi comercializado por R$ 3.588,48 a tonelada com impostos, conseguindo um reajuste de 3,7% em relação ao mês anterior e, no primeiro semestre, enquanto o valor médio das aparas foi reajustado em 52,3%, o papel miolo acumulou um reajuste de 7,9%, o que deixa os fabricantes em posição delicada.

Também observamos que, segundo os fabricantes de papel reciclado e caixas com os quais conversamos, a comercialização das caixas também está difícil, embora todos acreditem que deverá se normalizar nos próximos meses permitindo uma recomposição dos custos de produção. As aparas marrons continuam em alta no exterior encerrando o mês de junho cotada a US$ 159 a tonelada e ficam ainda mais caras se considerarmos a valorização do real. Nessa condição, ainda que a sua importação aumente, não está sendo considerada como uma alternativa para a normalização do mercado interno.

Em junho deste ano importamos 2,5 mil toneladas contra exportações de 2,3 mil toneladas o que, com certeza, não impacta o mercado interno. A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) iniciou a divulgação do valor CIF porto das importações e, em junho, o valor das aparas oriundas dos Estados Unidos ficou em US$ 263; a esse valor, devemos acrescentar as taxas de desembaraço, o recentemente criado imposto sobre importação com alíquota de 35% e o frete até a empresa importadora. Contudo, os fabricantes lembram que comparação entre valores não é tão simples, pois a qualidade do material oriundo dos Estados Unidos é superior à das aparas brasileiras já que se trata, basicamente, de apara de papel produzido com fibra longa e, praticamente, todo de primeira reciclagem. A estimativa dos importadores é que o rendimento da apara americana seja 20% melhor do que a nacional.

As exportações de papel miolo e testliner apresentaram um bom desempenho em junho, atingindo a marca de 8,2 mil toneladas em percentual 57,3% superior ao mês anterior e 62,5% acima de junho de 2023, sendo que o testliner representa, aproximadamente, 15,0% do total. As exportações de kraftliner também estão crescendo, embora, a nosso ver, ainda estejam aquém do que seria necessário para o equilíbrio entre o papel reciclado e de fibra virgem no mercado interno, mesmo quando consideramos o bom desempenho da expedição de caixas e chapas.

Até junho, conforme dados da Secex, 210,8 mil toneladas foram encaminhadas para o exterior, o que representou um aumento de 13,8% em relação a igual período de 2023, mas, ainda 25,3% abaixo das exportações de 2022 neste período. Outro produto que está em alta no exterior é a celulose, que encerrou o mês cotada a US$ 1.425 a tonelada na Europa cujo valor baliza os preços praticados no mercado brasileiro e, este preço alto – aliado ao fato do aparista estar mais forte financeiramente em função do melhor valor das aparas marrons – permitiu aumentos também das brancas que, em junho, foram comercializadas por: branca de 1ª, R$ 2.494,14 (+8,1%); branca II, R$ 1.446,25 (+14,9%) e branca III, R$ 945,00 (+8,0%).

Apesar do aumento em junho, as brancas apresentam uma situação complicada, já que o seu consumo está baixo e, apesar da sua geração continuar em declínio, aparentemente, existe um excesso de oferta do produto – o que chama a atenção é que isso vem ocorrendo mesmo com o alto valor da celulose. Até o momento, o único produto entre os acompanhados pela Anguti que não sofreu reajuste foi a apara de papel-cartão, o que poderá mudar, visto que a opinião de todos com quem conversamos é que a alta de preços continuará por mais alguns meses, principalmente se a demanda por caixas de papelão ondulado continuar forte.

Confira aqui a análise completa e os gráficos, na coluna Anguti, publicada na O Papel, edição de julho.

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