A tragédia que estamos observando no Rio Grande do Sul deve impactar o mercado de aparas nos próximos meses. Estimamos que o estado gere aproximadamente 300 mil toneladas anuais de aparas e é um exportador do material, consumindo em seu território um volume equivalente a apenas 35% da sua coleta.
Assim, o setor será impactado de duas formas. Primeiro, com a paralisação quase total da coleta, o estado deixará de fornecer material que, além das fábricas locais, abastece principalmente os estados de Santa Catarina e Paraná. Estes serão obrigados a suprir suas necessidades buscando matéria-prima na Região Sudeste, o que provocará um desequilíbrio em toda a cadeia das aparas.
Em um segundo momento, iniciado o processo de recuperação do estado, teremos uma maior quantidade de resíduo de papel sendo coletado, o que deve aumentar o volume de material. Contudo, o problema será a sua qualidade, já que o nível de contaminação e sujeira trará problemas para sua reciclabilidade, exigindo uma grande atuação dos aparistas do estado, sendo que muitos estão com seus depósitos inundados.
Por outro lado, o estado representa 6,5% do PIB brasileiro, e sua atual situação deve impactar negativamente a economia nacional e o consumo de papel para embalagens que, de uma forma geral, vem apresentando uma boa evolução no mercado interno e, inclusive, com aumento nas exportações. Nos primeiros meses do ano, as exportações estão 21,4% acima das observadas em igual período do ano anterior, embora ainda inferiores às observadas em 2022.
Sem dúvida, teremos que esperar a normalização no Rio Grande do Sul para avaliarmos o real impacto sobre o mercado de embalagens e, consequentemente, sobre o de papel e de aparas.
As informações do volume de vendas, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), continuaram no campo positivo no comparativo de março de 2024 contra igual mês de 2023, com um crescimento de 5,9%. No entanto, temos um sinal de alerta, pois, no comparativo de fevereiro, tínhamos apenas três dos dez setores avaliados pelo Instituto no campo negativo, e agora esse número subiu para seis. Isso deixa todo o crescimento concentrado em quatro setores, entre eles o de supermercados, que registraram uma variação positiva de 9,4% no período. Como já dissemos, isso implica em um bom desempenho no consumo de embalagens e na geração de aparas de caixas de papelão ondulado.
Lamentavelmente, quem não sai do campo negativo é o segmento de livros, jornais, revistas e papelaria, cujo desempenho em março de 2024 ficou 18,2% abaixo do registrado em março de 2023. Interessante observar que este desempenho se reflete na geração das aparas brancas, mas o mercado não vem conseguindo reagir, com a demanda ainda em níveis baixos.
Vamos ter que esperar alguns meses para termos os dados de maio consolidados, que permitirão avaliar as consequências dos acontecimentos no Rio Grande do Sul. Contudo, considerando o grande volume de doações que estão sendo encaminhadas para o estado e que parte destas doações está sendo adquirida nos varejistas, é provável que não tenhamos um impacto muito forte.
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