Diversos analistas costumam afirmar que as exportações brasileiras são fortalecidas quando o real se desvaloriza frente ao dólar. A explicação para tal entendimento é a de que, ao se desvalorizar a moeda, o produto exportado pelo brasileiro se torna mais barato, em dólares, para o comprador internacional.
Mas esses mesmos analistas se esquecem de que, toda vez que o real se desvaloriza, o Custo Brasil aumenta. Consumimos diversos produtos negociados (ou afetados diretamente) em moeda estrangeira, o que impacta abertamente os custos industriais em um efeito cascata. Além do aspecto do custo administrativo e operacional, as companhias também são afetadas pelo aumento do custo financeiro, já que muitos dos grandes exportadores compram máquinas e equipamentos importados, cujos contratos de financiamento são realizados em moeda estrangeira.
Na coluna Estratégia e Gestão deste mês, eu escolhi fazer uma análise da influência da variação cambial nas exportações brasileiras. Para tanto, selecionei todos os produtos e subprodutos de apenas duas categorias: (a) celulose e (b) papel, papelão e seus múltiplos produtos fabricados a partir deles.
A Figura 1 sintetiza a evolução das exportações brasileiras de celulose, nos últimos dez anos. Para permitir a análise, a evolução do valor e volume das exportações, bem como a evolução da variação cambial, foram trazidas para a mesma base comparativa: janeiro de 2014.

Considerando o histórico, é fácil perceber uma conexão entre a variação do valor e a variação do volume do produto exportado. Contudo, a conexão da variação do câmbio com as duas já citadas é menos óbvia, ou seja, o câmbio mostrou um comportamento mais independente.
Repetindo a análise, agora com as exportações brasileiras de papel e papelão (ver Figura 2), tem-se a mesma conclusão: historicamente, as variações de valor e de volume exportado dessa categoria de produtos estão muito conectadas. Por outro lado, mais uma vez o câmbio possui uma trajetória histórica independente.
Mas o que isso significa? Em síntese, o câmbio não afeta as exportações brasileiras de celulose, papel e papelão tão drasticamente, como os analistas costumam divulgar – pelo menos nos últimos dez anos. Mas então ele é completamente irrelevante para as vendas internacionais dessas duas categorias de produtos?

A Figura 3 resume a análise final deste artigo. No caso das exportações de celulose, variações do câmbio (desvalorização do real frente ao dólar) explicam apenas 40% do aumento de valor exportado pelo País, no referido período. Por outro lado, esta mesma desvalorização explica quase 73% dos aumentos de volume remetido ao exterior.
Assim, mantendo-se no futuro o mesmo contexto macroeconômico e mercadológico atual, é correto afirmar que desvalorizar o câmbio vai ajudar as companhias de celulose brasileira: a estatística mostra que muito provavelmente haverá aumento do volume exportado. Contudo, o aumento no valor exportado não pode ser previsto na maioria das vezes.
Já olhando para as exportações de papel, papelão e seus diversos subprodutos, o histórico mostra que desvalorizações de câmbio explicam aproximadamente 1/3 dos aumentos de valor e volume das exportações dessa categoria de produtos.
Portanto, o câmbio em si responde apenas parcialmente pelo comportamento das exportações brasileiras de celulose e papel. Outros drivers devem ser computados para definir os rumos do mercado externo.
A própria configuração do DNA dos mercados explica muito do processo: na celulose há uma quantidade reduzida de produtores e consumidores mundiais, sendo todos de grande porte. Neste sentido, incrementos de preços ou de volumes são muito traumáticos e geralmente controlados. Já no mercado de papel e seus muitos subprodutos, há muitos produtores e muitos consumidores mundiais (sejam intermediários ou finais). Por isso, as dinâmicas de preços e quantidades são muito mais elásticas e ancoradas em inúmeras relações de curto prazo entre oferta e demanda.
Levando em conta o cenário brasileiro atual, onde há forte incremento de instabilidade fiscal do Estado, tendência do crescimento exponencial dos custos com impostos e desvalorização rápida do câmbio, não está claro que as companhias exportadoras do setor de celulose e papel irão se beneficiar com um mercado internacional mais significativo. É hora de abrir os olhos e repensar estratégias… o lema nunca foi tão importante: “é preciso estar preparado até mesmo nos momentos mais difíceis!”.
Leia aqui o texto com os gráficos publicados originalmente na Revista O Papel, edição de julho.