A economia nacional continua apresentando bons resultados e as projeções expressas no Boletim Focus do Banco Central apontam para uma evolução de 3,5% no PIB do país em 2024, o que fica ainda mais significativo, se considerarmos que, ao final de 2023, os economistas previam um crescimento de apenas 1,54% para essa variável este ano. Naturalmente, o mercado de embalagens segue a mesma tendência e, no caso das caixas de papelão, ainda temos o benefício adicional das vendas da Black Friday e do Natal, embora, no primeiro caso, as vendas concentradas no sistema on-line impliquem em maiores dificuldades para recuperação das aparas, cuja coleta fica mais dependente dos, nem sempre eficientes, sistemas públicos de coleta seletiva.
Na verdade, conforme números divulgados pelo IBGE, todos os principais materiais utilizados na produção de embalagem estão com crescimento significativo nos dez primeiros meses de 2024 frente a igual período do ano anterior. Mas destoando um pouco dos números da Empapel, as embalagens de papel e, neste caso, todos os tipos de embalagens, apresentaram o pior desempenho com uma evolução de 3,9%, bem abaixo das embalagens de vidro, metais e madeira que cresceram acima de 10,0% no período considerado.
Independente de quanto foi o crescimento, o ano se encerra com os fabricantes apresentando um bom volume de vendas e, mais importante, com uma boa rentabilidade das suas operações e, como já mencionamos anteriormente, as preocupações ficam para o próximo ano, cujo desempenho está bastante incerto com alguns fabricantes de papel reportando alguma preocupação com o abastecimento de aparas, pois os feriados de Natal e 1.º do ano cairão no meio da semana, o que deve diminuir a entrada de matéria-prima nas fábricas.
Na coluna anterior mostramos preocupação com o desempenho do volume de vendas nos dez setores do comércio acompanhados pelo IBGE, que tinha mostrado enfraquecimento com quatro dos dez setores ficando no campo negativo. Agora, no comparativo interanual do mês de outubro, o panorama ficou bem diferente e apenas um dos setores permaneceu com queda em seu volume de vendas, porém, infelizmente, foi o de livros, jornais, revistas e papelarias que registrou uma queda de 9,3%. Os supermercados que, embora no campo positivo, tinham perdido força no comparativo anterior, voltaram a registrar um robusto crescimento de 6,1% em outubro de 2024 contra outubro de 2023, em um resultado que deverá se manter até o final do ano, uma vez que as vendas da Black Friday foram boas e o mesmo deve acontecer no Natal.
No acumulado dos dez primeiros meses do ano, além dos livros, apenas os combustíveis e lubrificantes permanecem no campo negativo, e a média nacional mostra uma evolução de 5% em um resultado que vem em linha com o desempenho das caixas de papelão ondulado.
Ainda no acumulado do ano até outubro, o volume de vendas no Espírito Santo passou para o campo positivo e, agora, todos os 27 estados brasileiros mostram bom desempenho, sendo que o melhor resultado ficou com o Amapá, onde o volume de vendas evoluiu 19,3% e, na média nacional, como dissemos anteriormente, cresceu 5,0%.
Os três maiores geradores de aparas: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais registraram evolução de 5,0%, 1,7% e 4,0%, respectivamente, e no Rio Grande do Sul, onde a coleta já está normalizada, as vendas cresceram 7,8% no período considerado.
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Em outubro deste ano a expedição de caixas e chapas, divulgada pela Empapel, bateu um novo recorde ao atingir a expressiva marca de 391,2 mil toneladas, representando em volume 8,7% acima do observado em igual mês de 2023, superando em perto de 20 mil toneladas o recorde anterior registrado em 2020. Com este resultado o acumulado dos dez primeiros meses de 2024 ficou 5,5% acima do verificado no ano passado.
Ao que tudo indica, mesmo com o alto volume de expedição de caixas, a oferta e demanda por aparas marrons está em equilíbrio, e os preços se mantiveram pelo 5.º mês consecutivo, com o ondulado I e II encerrando novembro comercializados por, em média, R$ 1.164,07 e R$ 1.019,02 a tonelada fob depósito respectivamente.
Kraftliner
As exportações de kraftliner foram de 40,4 mil toneladas em outubro, aproximando-se dos volumes recordes obtidos no Primeiro semestre de 2022, ano em que, no total, foram exportadas 465,3 mil toneladas e, sem dúvida, estão, juntamente com a alta demanda por embalagens, permitindo o equilíbrio entre papel reciclado e de fibra virgem no mercado interno.
Historicamente, o mês de dezembro e os primeiros meses do ano marcam uma maior oferta e menor consumo de aparas marrons, com consequente queda de preços, entretanto, com os feriados de Natal e Ano Novo caindo no meio da semana é quase certo uma redução na entrada de material durante 15 dias e, caso o consumo de embalagens inicie o ano em bom nível, o mercado de aparas poderá não sofrer os efeitos sazonais deste período.
O valor do papel miolo, em novembro 2024, permaneceu estável em relação a outubro 2024, indicando que seus fabricantes repassaram os aumentos no custo de produção sofrido com a alta dos preços das aparas ocorrido no segundo trimestre do ano, com o produto sendo negociado por, em média, R$ 4.536,96 a tonelada com impostos, o que representou um aumento de apenas 0,13% em relação ao mês anterior, mas, de 36,9% em relação a novembro de 2023.
Os fabricantes consultados indicam que a demanda permanece acima do esperado para esta época do ano, mas o abastecimento de aparas permanece tranquilo e vem permitindo um esforço pela melhora na qualidade da matéria-prima. O repasse de preços vem sendo mais difícil para os fabricantes de papel maculatura, cujo mercado, para alguns de seus fabricantes, não melhorou nos mesmos moldes do papel miolo.
No mercado externo os preços das aparas de ondulado (OCC) continuam em queda e, em novembro último foram negociadas a US$ 127 a tonelada, porém, a desvalorização do real anula as vantagens da redução de preços no exterior e se, adicionalmente, considerarmos a atual estabilidade na oferta interna do material, observamos que as importações estão perdendo volume, atingindo, em novembro, a marca de apenas 1,8 mil toneladas, sendo este um pouco acima das exportações de 1,6 mil toneladas, o que elimina qualquer influência no mercado interno.
As compras nos Estados Unidos continuam ocorrendo basicamente pela melhor qualidade da fibra longa que podemos considerar como aparas de papéis de fibra virgem, o que confere uma maior qualidade ao papel. Mas devemos observar que também existe uma pequena exportação de aparas para os Estados Unidos que, até novembro de 2024, totalizou 459 toneladas.
O fluxo internacional dos papéis miolo e testliner voltou a apresentar crescimento nas exportações que, em novembro deste ano, atingiram o volume de 4,2 mil toneladas. Contudo, as importações continuaram acima da média mensal com um volume de 1,6 mil toneladas no mês de referência. Como comparação, a média mensal no ano, até novembro, ficou em 5,4 mil toneladas para as exportações e de 700 toneladas para as importações.
Caso o real continue se desvalorizando, acreditamos que, em 2025, o saldo comercial favorável às exportações de papel deverá apresentar aumentos, levando mais aparas brasileiras para o exterior.
As aparas brancas também estão mantendo preços estáveis. Todavia, ao contrário das marrons, seus valores estão em níveis insuficientes para uma remuneração adequada aos aparistas. Em novembro passado registramos os valores médios de R$ 2.661,11; R$ 1.446,00; e, R$ 874,00 a tonelada fob depósito, respectivamente, para a branca de 1.ª, branca II e branca III.
No exterior, os preços da celulose brasileira continuam em queda, atingindo, ao final de novembro 2024, o valor de US$ 1.077 a tonelada na Europa e de US$ 551 a tonelada na China, com projeções de queda ainda para os próximos meses. E se considerarmos o aumento na produção de papéis sanitários integrada à produção de celulose, não vemos boas perspectivas para as aparas brancas em 2025, ainda mais que a Suzano deve iniciar a conversão em sua nova fábrica no Espírito Santo, recebendo, inicialmente, papel fabricado nas suas outras unidades até 2026 quando também inicia a produção de 60 mil toneladas ano de papel tissue no estado.