Em meio à piora das expectativas para a economia brasileira em 2025, o setor de papelão ondulado deve mostrar força e crescer 2,6%, segundo a última projeção Fastmarkets RISI divulgada em nosso último Latin America Paper Products Monitor, com base nos dados apurados pela Empapel.
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O desempenho positivo contrasta com o cenário geral da economia brasileira, que viu suas projeções de crescimento caírem para menos de 2% no ano desde janeiro, em meio à alta nas expectativas para inflação e juros e piora do humor do mercado em relação à economia brasileira.
O que explica essa resistência do setor de embalagens? A resposta está no que ele embala. Cerca de 80% do papelão ondulado expedido no Brasil vai para produtos que não saem da lista de compras das famílias: cerca de 65% para alimentos e quase 15% para itens de higiene, cosméticos e produtos de limpeza.
Quando o orçamento aperta por um curto período, as pessoas podem até trocar de marca ou adiar a compra de um celular novo, mas continuam comprando comida e produtos de limpeza básicos – o que, em economia, chamamos de bens essenciais.
O momento econômico atual combina muitos desafios: as famílias seguem altamente endividadas, os preços no mercado estão subindo (sobretudo os de alimentos), preocupações com as contas do governo e incertezas no comércio mundial.
A inflação, que deveria ficar em 5% em 2025, agora pode chegar a 5,6% segundo as últimas expectativas do mercado, comendo ainda mais do poder de compra dos brasileiros. Essa situação já faz empresários e comerciantes perderem a confiança num futuro próximo.
Esse pessimismo pode virar um círculo vicioso perigoso – uma profecia autorrealizável. Quando todos ficam com medo do futuro ao mesmo tempo, gastam menos, investem menos, e isso acaba realmente esfriando a economia, transformando o medo em realidade.
É provável que vejamos isso acontecer no segundo semestre deste ano, com quedas nas vendas e na produção industrial diante da piora dos índices de confiança da indústria, dos empresários e do comércio.
Outro ponto forte para o setor de embalagens no Brasil é a exportação. Com o dólar alto (e subindo), os produtos brasileiros ficam mais baratos e competitivos lá fora, mesmo diante de todo o atrito no comércio global.
Isso é especialmente verdade para o setor de alimentos e carnes – que precisam de muitas caixas de papelão ondulado e embalagens de papel cartão para serem transportados.
Assim, o mercado externo ainda ajuda a compensar qualquer desaceleração nas vendas domésticas. E a gente já sabe a receita: quanto pior for a expectativa para a economia brasileira, maior tende a ser a taxa de câmbio, impulsionando ainda mais as exportações-chave que consomem papelão ondulado.
É por isso que, olhando especificamente para o papelão ondulado, o futuro parece menos desafiador que para o restante da economia, que deve começar a desacelerar em breve.
As pessoas continuarão comprando produtos essenciais que vêm em caixas, e nossas exportações seguem com boa demanda, especialmente em setores que utilizam muitas embalagens.
Se as coisas continuarem como estão, o impacto da desaceleração econômica no setor de papelão deve ser ainda pequeno em 2025.
Claro que uma crise prolongada poderia mudar esse cenário nos próximos anos, mas isso ainda não está no radar. O setor de embalagens nos mostra que, mesmo quando a economia geral enfrenta problemas, áreas ligadas às necessidades básicas das pessoas conseguem encontrar caminhos para continuar crescendo.