A expedição de caixas e chapas de papelão ondulado continua apresentando bons resultados e vem batendo recordes sucessivos, atingindo, em setembro passado, o volume de 353,8 mil toneladas entregues ao mercado. Este resultado é ainda mais significativo se considerarmos que, este ano, setembro teve um dia útil a menos que em 2023. No comparativo do desempenho por dia útil, a evolução na expedição foi de 6,8% e, com este resultado, a expedição acumulou nos primeiros nove meses do ano um crescimento de 5,0% em relação a igual período de 2023.
Este bom crescimento vem sendo sentido pelos fabricantes de papel reciclado para embalagens, com alguns informando até 60 dias de pedido em carteira, o que não registrávamos há muito tempo. Infelizmente, o papel maculatura – outro grande consumidor de aparas marrons – não apresenta a mesma situação do papel miolo, mas, mesmo assim, o volume total desses produtos vem sendo suficiente para manter o equilíbrio no mercado de aparas, mesmo com as importações em níveis acima do padrão nos últimos meses.
A partir de novembro, a expedição de caixas e acessórios apresenta uma queda sazonal, porém, nada indica que teremos um fim de ano ruim para os fabricantes, cuja preocupação, agora, já está com o desempenho da economia em 2025. No mercado internacional, os preços das aparas de OCC, equivalente ao nosso ondulado, passaram a apresentar tendência de queda. Entretanto, as projeções para 2025 indicam que deveremos ter preços estáveis por volta de US$ 150 a tonelada, o que manterá o valor do produto em patamares mais elevados do que projetamos para as aparas nacionais.
De qualquer forma, como escrevemos na coluna anterior, a indústria nacional mostrou-se apta a realizar importações rapidamente, o que nos permite supor que grandes aumentos nos preços das aparas no mercado nacional não deverão ocorrer, pois eventuais desabastecimentos serão rapidamente compensados com importações.
O desempenho do volume de vendas no comércio, no comparativo de agosto de 2024 contra igual mês de 2023, apresentou uma evolução de 5,1% na média dos dez setores acompanhados pelo IBGE, em resultado melhor do que o verificado no comparativo anterior. Contudo, agora, além dos setores de livros, jornais e papelarias e dos combustíveis e lubrificantes, o setor de equipamentos e materiais para escritório também passou a apresentar desempenho negativo, perdendo 2,8% do seu volume de vendas no período considerado.
Os grandes geradores de aparas marrons, os supermercados, registraram um aumento de 6,9% no seu volume de vendas no período considerado, o que podemos transpor diretamente para o fornecimento de aparas que, juntamente com a coleta de rua mais estimulada, vem permitindo uma boa relação entre demanda e oferta, mantendo um equilíbrio de preços ainda que precário, pois as importações continuam acima dos volumes históricos.
O volume de vendas no acumulado do ano até agosto último, frente a igual período de 2023, manteve o percentual de crescimento de 5,1% e ainda com um único estado, o Espírito Santo, no campo negativo, com as vendas perdendo 0,6% do seu volume. No campo oposto, o Amapá aparece com um crescimento de 21,0%. Nos quatro maiores PIBs do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, o crescimento do volume de vendas foi de: 5,2%, 1,8%, 4,3% e 7,7%, respectivamente, com destaque para o Rio Grande do Sul já praticamente reestabelecido dos problemas com as enchentes.
Em setembro deste ano, as aparas de ondulado I e II foram comercializadas por, respectivamente, R$ 1.154,02 e R$ 1.022,94 a tonelada fob depósito, com valores estáveis pelo terceiro mês consecutivo. O que já podemos observar é um aumento na exigência de melhor qualidade nas aparas por parte dos fabricantes de papel, que consideramos um indicativo de abastecimento um pouco mais tranquilo. Outro fator a ser observado é o aumento nos estoques de aparas nas fábricas que, ao final de setembro, estavam em 142 mil toneladas, o que é equivalente a 19 dias de produção, representando dois dias a mais do que o volume estocado ao final de agosto.
Como já é padrão, outubro e novembro ainda apresentam, sazonalmente, bom consumo de embalagens de papelão ondulado, mas, a partir de dezembro, até o final do primeiro trimestre, registramos uma demanda menor por embalagens e uma oferta maior de aparas que são geradas como consequência das vendas da Black Friday e do Natal. Assim, a manutenção dos valores atuais das aparas vai depender do desempenho da nossa economia no início do ano, sobre o que nossos economistas não estão muito otimistas.
De qualquer forma, vendas fortes no fim do ano poderão gerar a necessidade de reposição de estoques, o que tende a manter a indústria de papel ativa, mesmo com a economia dando sinais de fraqueza. As atuais condições do mercado aumentaram a demanda por papel para embalagem reciclado e, mesmo com a ainda sentida presença de papel de fibra virgem, cujas exportações cresceram pouco nos últimos meses, permitiram aos fabricantes de papel miolo e testliner recuperarem o aumento nos custos da matéria-prima.
Em setembro passado, o papel miolo foi comercializado por, em média, R$ 4.418,33 a tonelada com impostos, o que representou uma alta de 4,0% em relação a agosto, acumulando no ano um reajuste de 32,4%, o que coloca o preço atual do papel miolo nos mesmos patamares do início de 2022. Com o abastecimento de matéria-prima normalizado, é possível prever preços estáveis também para o papel nos próximos meses, até porque alguns fabricantes de caixas de papelão ondulado consultados ainda citam dificuldade com o repasse dos seus custos de produção.
Importações de aparas acima da média mensal
As importações de aparas perderam força, porém, permaneceram acima da média mensal em setembro, quando vieram do exterior 5,9 mil toneladas, o que é mais que o triplo das importações de setembro de 2023. Desse total, 3,2 mil toneladas tiveram origem nos Estados Unidos, chegando aos portos brasileiros custando, conforme dados da Secex, US$ 282 a tonelada.
Nos nove primeiros meses do ano, as fábricas recicladoras de papel trouxeram 34,5 mil toneladas do exterior, o que representou um aumento de 61,1% em relação ao acumulado neste mesmo período do ano anterior. Se lembrarmos que o impacto no mercado de aparas é dobrado, a continuidade das importações nestes volumes poderá provocar excesso de material no mercado, com a consequente queda de preços.
Após atingirem um pico de 9,5 mil toneladas em julho deste ano, as exportações dos papéis miolo e testliner entraram em queda e, em setembro, totalizaram 3,9 mil toneladas, o que é praticamente o mesmo volume de setembro do ano anterior. De qualquer forma, as vendas externas acumuladas no ano, até setembro, de 59,3 mil toneladas, ficaram 38,6% acima do volume verificado nos nove primeiros meses de 2023. O kraft liner vem mantendo a média de 35 mil toneladas exportadas todos os meses e, nos três primeiros trimestres do ano, ultrapassa em 46,4 mil toneladas as exportações do ano anterior.
A celulose continua sem apresentar bons números e, ao final de setembro, estava cotada, na Europa, a US$ 1.286 a tonelada, perdendo US$ 154 em relação ao seu valor de US$ 1.440 a tonelada registrado em agosto passado. As projeções da Norexeco indicam que o produto ainda deve perder US$ 100 nos próximos meses. Entretanto, como escrevemos na coluna anterior, ainda não identificamos reflexos sobre o mercado de aparas brancas, cujo acompanhamento vem sendo um desafio para a Anguti, pois muitos fabricantes indicam uma classificação que, na prática, tem uma composição diferente da definida na norma da ABNT.
Em setembro passado, observamos os seguintes preços médios sendo praticados: branca de 1ª, R$ 2.687,61; branca II, R$ 1.453,57 e; branca III, R$ 876,00, sempre considerando a tonelada fob depósito.