A expedição de caixas e chapas de papelão ondulado continua apresentando um forte desempenho positivo, com o volume preliminar de julho, divulgado pela Empapel, atingindo a marca de 371,5 mil toneladas, superando em 8,0% o registrado em julho de 2023 e constituindo um novo recorde para o setor. O recorde anterior, registrado em outubro de 2021, foi de 371,2 mil toneladas expedidas. Esse alto volume de expedição vem ajudando no equilíbrio da participação no mercado dos papéis para caixas de fibra virgem e reciclada, promovendo uma volta à normalidade e a convivência pacífica entre os dois produtos. As exportações, que continuam apresentando resultados melhores que os observados em 2023, também ajudam neste processo. Outro fator que poderá impactar positivamente no desempenho do setor nos próximos meses é, por estranho que pareça, a recuperação do Rio Grande do Sul, que agora começa a demandar investimentos em infraestrutura, transferência de renda e crédito, trazendo bons resultados para o estado e, por tabela, para todo o Brasil.
Conforme a publicação: Análise dos impactos econômicos da catástrofe no Rio Grande do Sul e do plano de recuperação, elaborada pela Divisão de Economia e Inovação da Confederação Nacional do Comércio, os impactos negativos no PIB nacional devem ser superados pelos positivos gerados pelos desembolsos financeiros nos pacotes de investimentos em infraestrutura, transferência de renda e crédito. No caso dos empregos, espera-se uma geração de 609 mil novos postos de trabalho, o que compensará em muito a perda que a CNC estima foi de 305 mil postos.
O desempenho do volume de vendas no comércio brasileiro, que consideramos um bom indicativo para o consumo de embalagens de papel e, consequentemente, para a geração de aparas, no comparativo de junho de 2024 contra igual mês de 2023, continuou no campo positivo, com a média nacional mostrando um crescimento de 4,0%. Considerando os dez segmentos acompanhados pelo IBGE, oito registraram aumentos em seu volume de vendas, que chegam a 15,1% para os artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos. Lembrando que esse segmento, no acumulado do primeiro semestre do ano, consumiu 5,7% de toda a expedição de caixas de papelão ondulado e também tem grande relevância no consumo de embalagens de papel-cartão, como também, não podemos esquecer, no consumo de papéis de imprimir e escrever utilizados nas bulas dos medicamentos.
No terreno negativo encontramos, com uma queda de 4,1%, os combustíveis e lubrificantes, que pouco impactam nosso setor, mas, infelizmente, com uma redução de 8,1%, os livros, jornais, revistas e papelarias, que já vêm perdendo volume há muito tempo e, no primeiro semestre do ano, reduziram 7,6% do seu volume de vendas frente a igual período de 2023.
Nossos maiores fornecedores de aparas, os supermercados, perdem força em relação ao comparativo de maio, mas permaneceram no campo positivo, registrando uma evolução de 4,0% em seu volume de vendas. Neste caso, se considerarmos os seis primeiros meses do ano, o desempenho dos supermercados está 6,6% melhor do que o verificado no primeiro semestre do ano anterior.
Ainda no comparativo dos seis primeiros meses de 2024 frente a igual período de 2023, o desempenho do volume de vendas no comércio varejista registrou um incremento de 5,2%, o que ajuda a explicar o bom desempenho das caixas de papelão ondulado que, não por acaso, conforme divulgado pela Empapel, cresceram 5,4% no mesmo período.
Todos os estados continuam no campo positivo em percentuais de crescimento que vão de 0,3% no Espírito Santo até 18,4% no Amapá e, entre os maiores geradores de aparas, apenas São Paulo cresce 5,3%, pouco acima da média nacional. Os outros três maiores, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná, apresentaram uma evolução de: 2,2%, 3,9% e 5,1%, respectivamente.
O mercado de aparas continuou estressado em julho, com seus preços sendo reajustados fortemente. No caso das aparas marrons, tanto o ondulado I quanto o ondulado II romperam a barreira dos mil reais, sendo comercializados por, em média, R$ 1.139,12 e R$ 1.025,64 a tonelada FOB depósito, com reajustes de 15,5% e 17,7% em relação ao mês de junho. Agora, no acumulado do ano, apresentam aumentos de 67,2% e 78,6%, respectivamente.
É difícil prever os próximos meses, pois, como vimos no início, a recuperação do Rio Grande do Sul deve gerar impactos positivos para a economia, em proporção maior do que os negativos gerados pelas enchentes. A demanda por aparas permanece aquecida, com tendência a aumentar ainda mais à medida que o papel de fibra virgem registrar aumentos em suas exportações. Outro fator importante para o equilíbrio do mercado é a coleta de rua, que já está bastante ativa, com os catadores recebendo um valor mais estimulante para o seu trabalho.
O que observamos é que as importações de aparas, apesar dos altos valores, estão crescendo e poderão atingir um volume suficiente para impactar o mercado interno. Lembrando que, em um primeiro momento, diminuem a demanda por aparas nacionais e, logo em seguida, vão virar aparas no mercado interno. Um fato bastante comentado pelos fabricantes de papel reciclado foi que, como sempre acontece em momentos de escassez, a qualidade das aparas marrons caiu bastante, o que, inclusive, pode ter viabilizado as importações, já que as aparas importadas, principalmente as oriundas dos Estados Unidos, apresentam maior teor de fibras e de melhor qualidade.
A evolução do preço das aparas marrons não deixou alternativas aos fabricantes de papel recicladores, que foram obrigados a repassar os custos com a matéria-prima. O que chama a atenção é que esses aumentos estão ocorrendo mesmo com a, ainda forte, presença do papel de fibra virgem no mercado, o que vem dificultando os recicladores e prejudicando a rentabilidade do segmento.
Nos primeiros sete meses do ano, o papel miolo foi reajustado em 20,5%, sendo comercializado em julho, conforme divulgado no informativo ANG02 – Papéis de Embalagem elaborado pela Anguti, por, em média, R$ 4.008,26 a tonelada com impostos. Neste mesmo período, como vimos anteriormente, as aparas de papelão ondulado II, que representam o maior volume de consumo no Brasil, foram reajustadas em 78,6%.
Uma possível solução para o equilíbrio entre oferta e demanda por aparas marrons, as importações dos Estados Unidos chegaram ao Brasil, segundo dados da Secex, ao custo de US$ 263,77 a tonelada com um reajuste de 0,9% em relação ao mês anterior, mas devemos acrescentar a variação do dólar neste período, que foi de aproximadamente 1,7%. O imposto de importação, que incide sobre as aparas na alíquota de 18%, foi renovado pelo Governo e continuará valendo por pelo menos mais um ano.
Esses valores não inibiram os fabricantes de papel, que foram às compras e trouxeram do exterior, segundo dados divulgados pela Secex, cerca de 6,6 mil toneladas de aparas de papelão ondulado em julho, em volume que se aproxima do recorde estabelecido na pandemia, quando os fabricantes importaram 7,2 mil toneladas em um único mês.
Sem dúvida, é uma operação que tende a diminuir o problema causado pela falta momentânea de aparas no mercado interno, mas é uma operação arriscada, pois, se trouxerem mais material do que o necessário para equilibrar o mercado, voltaremos a registrar excesso de matéria-prima, o que trará prejuízos para todos os players da cadeia.
As exportações de papel miolo e testliner continuam crescentes, atingindo o volume de 9,5 mil toneladas em julho, o que representa um aumento de 15,7% em relação ao mês anterior e de 149,7% em relação a julho de 2023. Este volume é praticamente o saldo final, pois no mês importamos apenas 307 toneladas. No acumulado dos sete primeiros meses do ano, as exportações totalizaram 51,1 mil toneladas, ficando 45,1% acima do volume exportado neste mesmo período de 2023. A Argentina permaneceu como o principal destino, levando 31,0% do nosso papel.
O kraftliner também apresentou bom volume de exportação em julho. No total, vendemos 41,0 mil toneladas, o que representou um aumento de 17,7% em relação a junho e de 19,0% em relação a julho do ano passado.
As aparas brancas também estão conseguindo obter reajustes, apesar de continuarem em um mercado confuso, basicamente em função do aumento da produção de papéis sanitários integrada à de celulose nas novas unidades da Suzano e da Bracell. Infelizmente, o segmento de tissue, ainda o maior consumidor de aparas brancas, está ficando sem informações, com a Ibá deixando de divulgar os volumes de produção e vendas, o que dificulta qualquer análise do setor.
Em julho, as brancas foram comercializadas por, em média, R$ 2.659,98, R$ 1.520,00 e R$ 981,25 a tonelada FOB depósito, respectivamente para a branca de 1ª, branca II e branca III. A celulose está apresentando tendência de queda na Europa e na China, o que deve se intensificar nos próximos meses com o início de operação da nova unidade da Suzano, o que poderá impactar ainda mais o mercado de aparas brancas.
Leia aqui a coluna Anguti e os gráficos publicados na O Papel de agosto