Desde o mês de março, o compensado de pinus brasileiro está no centro de uma investigação de antidumping aberta na União Europeia (UE). A denúncia, apresentada por um consórcio de fabricantes europeus, alega que o produto estaria sendo vendido a preços inferiores aos praticados no mercado interno da europa, prejudicando a indústria do bloco. Do lado de cá os empresários não ficaram parados. Em resposta, produtores brasileiros se mobilizaram e já apresentaram à Comissão Europeia os argumentos que contestam a acusação.
A investigação passa por algumas fases que tem como objetivo checar o fato e impor medidas de reparação. Segundo o calendário divulgado pela Comissão Europeia, ainda estamos na fase inicial onde é feita a verificação da denúncia, com a investigação dos fatos e abertura de defesa. Em outubro se inicia a fase preliminar onde são anunciadas as medidas como tarifas de importação e em maio de 2026 será a fase decisiva, com as medidas definitivas.

Elaboração WoodFlow, com base em https://tron.trade.ec.europa.eu/investigations/case-view?caseId=2779
A investigação analisa os dados de exportações realizadas entre janeiro e dezembro de 2024 e avalia os impactos sobre o mercado europeu desde 2021. Caso a investigação encontre evidências de dumping, o Brasil pode ser penalizado. E se a Comissão Europeia optar por medidas punitivas, há risco de aplicação retroativa de tarifas sobre as importações feitas, provavelmente, a partir de junho, quando os embarques brasileiros passarão a ser registrados pelas autoridades alfandegárias da UE.
Dados e estatísticas
Segundo levantamento feito pela WoodFlow no portal ComexStat, no ano passado o Brasil exportou 797,5 mil metros cúbicos de compensado de Pinus para a UE – isso é quase um terço de todo o montante do produto exportado no ano passado. Em 2025, até abril, o volume destinado à UE já ultrapassou 400 mil m3.
Ou seja, em quatro meses já superamos a metade de todo o montante exportado para o bloco no ano passado. Quando falamos em valores, este mercado representou US$ 254,8 milhões em 2024 e já está em US$ 127,2 mi em 2025 (até abril).

Fonte: WoodFlow com dados ComexStat
É comum que nos primeiros meses do ano haja um maior volume de exportação para a UE devido à cota de isenção de tarifas para importação de compensado de pinus. Este ano, esta cota, que é de 650 mil m3 para toda a UE, já se encerrou em abril. Após a cota, o compensado de pinus recebe uma taxa de 7%.
No gráfico anterior podemos ver que os volumes e valores exportados em 2025 superaram os de 2024 em todos os meses. Identifico aqui algumas causas para este cenário: (1) havia um represamento de cargas no Brasil devido ao caos logístico; (2) incerteza na política mundial com os anúncios de tarifas pelos EUA, que direcionaram produtos para o Bloco Europeu; e (3) a China também estava sob investigação de antidumping na UE o que forçou a busca daqueles países pelo produto brasileiro.
Incerteza, queda nos pedidos e alternativas
Mesmo com esse cenário estatístico favorável, no Brasil o impacto dessa abertura de investigação de dumping do compensado de pinus brasiliero já começou a ser sentido. A incerteza regulatória freou os pedidos de novos embarques de compensado de pinus, uma vez que muitos importadores preferem aguardar a decisão para entender se haverá sobretaxas.
Isso tem gerado um efeito temporário de retração na produção aqui no Brasil. Mas, por outro lado, reduz os estoques do produto na Europa — o que pode impulsionar uma retomada nas compras assim que o cenário for esclarecido.
Com os volumes limitados, alguns importadores europeus têm buscado alternativas para algumas aplicações. É o caso do compensado de hardwood, especialmente de eucalipto, que não está envolvido na investigação. Empresários brasileiros de compensado de eucalipto sentiram a demanda aumentar.
Otimismo
Apesar do momento delicado, os produtores brasileiros mantêm uma visão otimista. Argumentam que o Brasil possui um longo histórico de negociação com os países europeus e respeita profundamente o comércio com o bloco.
A expectativa é de que a defesa brasileira, baseada em dados objetivos e transparência, seja suficiente para reverter o processo. Os madeireiros me relataram nos últimos dias que o Brasil deve continuar na liderança desse produto na Europa. A incerteza permanece até outubro, mas a confiança dos produtores é clara: o mercado europeu precisará do compensado brasileiro.
LEIA TAMBÉM:
Guerra tarifária reacende alerta: impactos e riscos para o setor madeireiro
EUDR: Como se preparar e sair na frente para conquistar esse mercado
Tarifa de Trump sobre importação de madeira pode prejudicar o Brasil?