Os primeiros dados de agosto mostram que os preços das aparas estão se estabilizando, o que podemos atribuir à normalização do volume de aparas oriundas do Rio Grande do Sul. Contudo, o que chamou nossa atenção foi o rápido aumento nas importações, que alcançaram o volume de 6,6 mil toneladas em julho e 8,3 mil toneladas em agosto, com um incremento de, respectivamente, 371,5% e 413,8% em relação aos mesmos meses de 2023.
O mercado mundial de aparas passa por mudanças, com a China, a grande compradora, impondo restrições à entrada do material e, mais recentemente, diminuindo ainda mais a demanda em função de uma queda no ritmo do crescimento da sua economia. Isso está gerando uma relativa sobra de aparas, principalmente oriundas dos Estados Unidos, que são os grandes exportadores.
Por outro lado, o Brasil, durante o período da pandemia, apresentou-se como importador, buscando no exterior, em 2021, 189 mil toneladas, das quais 80,4% com origem no mercado norte-americano. É bem verdade que, normalizado o mercado interno, os volumes caíram, e, em 2023, importamos 28,9 mil toneladas, com 51,5% vindas dos Estados Unidos.
Agora, com o Rio Grande do Sul temporariamente deixando de fornecer, os preços das aparas marrons sofreram um forte reajuste, com o ondulado II subindo 83,8% neste ano até agosto, quando seu valor se estabilizou. É difícil avaliar qual o principal fator dessa estabilização. Acreditamos que a normalização do mercado gaúcho e as importações foram os responsáveis. Porém, o fato importante é que a indústria recicladora mostrou-se em condições de efetuar importações rapidamente. Pensando no futuro, isso poderá evitar os fortes aumentos que registramos quando o mercado inicia um ciclo de maior necessidade de aparas.
O desempenho das vendas no comércio continua apresentando melhoras. No comparativo de julho de 2024 contra julho de 2023, o volume de vendas na média dos dez setores acompanhados pelo IBGE cresceu 4,4%. Da mesma forma que no comparativo anterior, os dois segmentos ainda permanecem no campo negativo.
As notícias que chegam da área econômica, com queda no desemprego e aumento de renda, permitem avaliar que o índice continuará mostrando bons resultados até o fim do ano e, consequentemente, devem garantir o bom desempenho das caixas de papelão ondulado. Mesmo considerando que os supermercados continuaram perdendo força, ainda apresentaram um bom desempenho em seu volume de vendas.
O segmento de livros, jornais, revistas e papelarias até melhorou seu desempenho, mas continuou no campo negativo, perdendo 5,5% de suas vendas em julho, em relação a julho de 2023. No acumulado dos sete primeiros meses de 2024 contra igual período de 2023, o volume total de vendas no comércio conseguiu um crescimento de 5,1%. Porém, nesse comparativo, voltamos a registrar um estado, o Espírito Santo, com uma pequena queda de 0,4% em seu desempenho.
A melhor posição continuou no Amapá, onde as vendas cresceram 18,4%, e em São Paulo, que representa aproximadamente 30% do PIB nacional. Nesse estado, as vendas cresceram 5,3%. O interessante é observar que, no Rio Grande do Sul, mesmo com as enchentes que o paralisaram, o volume de vendas está 7,7% maior no período observado, confirmando o que divulgamos na coluna anterior: os benefícios econômicos do processo de recuperação do estado compensarão largamente os prejuízos ocorridos.
Com custos altos, não esperávamos que as importações de aparas aumentassem, mas entre julho e agosto a indústria de papel trouxe 15 mil toneladas de aparas, sendo praticamente tudo de aparas de papelão ondulado. Considerando o material vindo dos EUA, a um custo CIF porto de, segundo dados da Secex, US$ 275,41 a tonelada, o que – considerando o imposto de importação de 18% e as taxas de desembaraço – atinge um valor próximo de R$ 1.800,00 a tonelada, bem acima do valor praticado no mercado interno. Contudo, segundo alguns importadores, as aparas americanas representam um ganho próximo a 20% em produtividade, devido à melhor qualidade da fibra, bem menos reciclada que a brasileira, e à limpeza do material, que segue as rígidas normas do mercado internacional.
O volume nem foi tão grande assim, ficando bem abaixo das 45 mil toneladas noticiadas pela Associação Nacional dos Aparistas de Papel (ANAP). Contudo, considerando que o fornecimento do Rio Grande do Sul praticamente voltou aos níveis pré-enchentes e que a coleta de rua está estimulada, os aumentos de preços foram barrados. As aparas de ondulado I e II foram comercializadas, em agosto, por R$ 1.148,45 e R$ 1.024,02 a tonelada FOB depósito, com um reajuste médio de 1,1% em relação a julho.
De qualquer forma, esse assunto deve ser acompanhado muito atentamente, pois não faz muito sentido importar material quando estamos fazendo um grande esforço para melhorar a nossa taxa de reciclagem. Recentemente, o Governo Federal, atendendo ao apelo das entidades representativas dos catadores, impôs um imposto de importação de 18%, o que pode ser ampliado a qualquer momento.
O mercado de embalagens de papel está bastante aquecido, com a Associação Brasileira de Embalagens em Papel (Empapel) divulgando recordes mensais de expedição de caixas e chapas de papelão ondulado. Agora, com os papéis reciclados sendo beneficiados, o que permitiu aos fabricantes recuperarem suas margens, conseguiram, em agosto, repassar os custos da matéria-prima, eliminando parte da defasagem entre os reajustes das aparas e do papel.
Ainda observamos a presença acima do normal de papel de fibra virgem no mercado. Suas exportações estão se recuperando e, com o bom desempenho das caixas de papelão ondulado, é provável que a disputa por mercado entre os papéis reciclados e de celulose termine.
Em agosto, o papel miolo foi comercializado por, em média, R$ 4.237,33 a tonelada com impostos, uma alta de 6,0% em relação ao mês anterior, com os fabricantes indicando uma sensível melhora na demanda.
Os dados de expedição de caixas e chapas para o mês de agosto marcaram mais um recorde para o setor, atingindo o volume de 376,3 mil toneladas. No acumulado do ano até agosto, as expedições de 1,8 milhão de toneladas ficaram perto de 150 mil toneladas acima das expedições de 2023, o que, sem dúvida, está colaborando na retirada do excesso de papel derivado das novas capacidades recentemente instaladas.
As importações de aparas continuaram fortes em agosto, com os fabricantes importando 8,3 mil toneladas de aparas. Lembrando que esse volume impacta o mercado em dobro, pois, primeiro, dispensa o consumo de aparas nacionais e, depois, as aparas nacionais são absorvidas. Já podemos antever a possibilidade do início de um novo ciclo de queda de preços, principalmente se a demanda por embalagens cair. Se isso acontecer, não será bom para os fabricantes de papel miolo, que conseguiram recentemente recompor seus custos com a matéria-prima.
No acumulado até agosto deste ano, entraram no Brasil 28,6 mil toneladas de aparas, contra 15,5 mil toneladas que fizeram o caminho inverso.
Após um bom mês de julho, as exportações de papel kraft liner, miolo e testliner voltaram a cair em agosto, atingindo o volume total de 38,7 mil toneladas. Especificamente, os papéis reciclados miolo e testliner encaminhados ao exterior somaram 4,3 mil toneladas, contra 9,2 mil toneladas no mês anterior. Com esse resultado, as exportações acumularam 55,4 mil toneladas, ainda com um bom desempenho em relação a 2023, quando foram exportadas 39,0 mil toneladas.
O kraft liner também perdeu volume em suas exportações de agosto em relação a julho. No mês, foram exportadas 34,4 mil toneladas, e nos primeiros oito meses do ano o total chegou a 286,3 mil toneladas, com aumento de 12,4% em relação ao período anterior.
Ainda no mercado externo, observamos uma queda no valor da celulose. Em agosto, foi comercializada na Europa por US$ 1.383,38 a tonelada, uma perda de 4,0% em relação a julho. Contudo, é difícil avaliar o impacto sobre as aparas brancas, que não conseguiram se beneficiar das recentes altas na matéria-prima virgem. Em agosto, os preços das brancas ficaram estáveis e foram comercializadas por R$ 2.671,41 (0,4%), R$ 1.508,33 (-0,8%) e R$ 981,00 (sem reajuste), respectivamente, para a branca de 1ª, branca II e III.
A celulose deve continuar perdendo valor por mais alguns meses, o que deve prejudicar as brancas, algo que já está acontecendo.