As tarifas de importação impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, e as reações que se seguiram, ainda não mostraram seu real impacto na economia mundial e, principalmente, em nosso País, mas, alguns analistas econômicos acreditam que o Brasil será beneficiado, principalmente com o crescimento das nossas exportações para a China – o que manteria o mercado interno ativo, especialmente o mercado de aparas.
LEIA AQUI O PDF DA COLUNA ANGUTI PUBLICADA NA REVISTA O PAPEL – ABRIL/25
Ainda procurando beneficiar o consumo interno, nosso governo continua injetando dinheiro na mão da população, o que está trazendo alguns resultados que, pelo menos em março deste ano, refletiram-se no consumo de papel e suas embalagens. Com a recente criação do empréstimo consignado CLT e a antecipação do pagamento do 13º para aposentados e pensionistas, poderemos ter a continuidade no bom desempenho do nosso mercado.
O que pode mudar este panorama, além de uma possível recessão mundial, é que com as exportações da China para os Estados Unidos inviabilizadas pelas tarifas impostas pelo governo norte-americano, caso nosso governo não tome providências, as importações da China crescerão substancialmente, inundando nosso mercado de embalagens (aparas) oriundas do exterior, ao mesmo tempo em que nossa indústria perderá força reduzindo seu consumo.
Com o governo Trump, que alguns já chamam de Penélope, pois desmancha de noite o que faz de dia, o que temos de concreto é que tantas indefinições estão desestimulando qualquer investimento.
Mas, voltando ao nosso mercado de aparas marrons, vimos que continuou difícil, com falta de material e preços em alta e, com os feriados de abril e maio deste ano que diminuem a entrada de matéria-prima nas fábricas, ainda não vemos perspectiva de equilíbrio entre sua oferta e demanda.
Até fevereiro de 2025, último mês divulgado pelo IBGE, nossa indústria apresentou um crescimento de 1,4% frente igual período de 2024, com destaque para o setor de bens duráveis e bens de capital que cresceram 16,8% e 8,0%, respectivamente. Já o volume de vendas no comércio apresentou um desempenho melhor no primeiro bimestre, com uma evolução de 2,3% na comparação com o primeiro bimestre de 2024.
No comparativo interanual dos meses de fevereiro, o desempenho do volume de vendas no comércio perdeu força, encerrando o mês com crescimento de 1,5%, registrando-se mais dois setores passando para o campo negativo, juntando-se aos livros, jornais, revistas e papelarias, que piorou seus números, perdendo 5,2% de seu volume de vendas em relação a fevereiro de 2024, em um resultado particularmente ruim se considerarmos que no início do ano, com o retorno das aulas, os produtos do setor têm ou deveriam ter maior demanda.
Na verdade, o responsável pela queda do volume foi o setor de supermercados, que tem a maior participação no índice e onde registramos uma estabilidade nas vendas e, quando ampliamos o setor com os segmentos de bebidas e fumos, passou para o campo negativo, embora com um pequeno percentual de -0,1%.
Ainda não é possível afirmar que o comércio está em crise, especialmente considerando que o governo continua a injetar recursos na economia, como o aumento dos empréstimos consignados da CLT e a antecipação do 13º salário para pensionistas e aposentados. No entanto, as ferramentas do governo estão diminuindo e um possível aumento na inflação pode reduzir o poder de compra da população. De fato, enquanto o volume de vendas caiu 1,5%, a receita nominal dessas vendas aumentou 7,1%.
Voltando ao desempenho no bimestre, a quantidade de estados no campo negativo passou para seis, com a pior situação verificada em Roraima, que perdeu 4,9% no volume de vendas no comparativo com o primeiro bimestre de 2024. No campo oposto, o melhor resultado ficou com outro estado da região Norte, o Amapá, onde as vendas cresceram 12,0% no período considerado.
Entre os grandes geradores de aparas, apenas o Rio de Janeiro perdeu 0,6%, enquanto São Paulo, Minas Gerais e o Rio Grande do Sul melhoraram o desempenho do seu comércio em 0,9%, 3,2% e 8,0%, respectivamente. Ainda a título de comparação, enquanto o volume de vendas no País cresceu 2,3%, a receita dessas vendas registrou um incremento de 7,9% no comparativo interanual do primeiro bimestre.
O mercado de aparas marrons continuou estressado em março passado e seus preços mantiveram-se em alta. Na verdade, observamos dois movimentos de alta distintos e, com dois aumentos repassados em um único mês, os preços informados à Anguti, que representam a média de março, não espelham o valor praticado ao final do mês, deixando contratado um reajuste para abril.
As aparas de papelão ondulado I e II foram comercializadas em março por R$ 1.292,47 e R$ 1.146,74 a tonelada FOB depósito, com reajustes de 4,7% e 4,6% em relação a fevereiro, respectivamente. No primeiro trimestre do ano, o valor das aparas de papelão ondulado I e II aumentou mais de 11%, com os preços de março cerca de 90% acima dos praticados no mesmo mês de 2024.
O volume prévio da expedição de caixas e chapas divulgado pela Empapel para março foi de 346,6 mil toneladas e, embora ainda precise ser confirmado, com um crescimento de 0,8% em relação a igual mês do ano passado voltou ao campo positivo após três meses de queda.
O resultado de março não foi suficiente para passar o acumulado do primeiro trimestre do ano para o campo positivo e, em relação a igual período de 2024, a expedição ainda perde 0,7% de seu volume.
Os fabricantes de papel miolo relataram pequena melhora nas vendas de março, o que refletiu em boas perspectivas para abril e permitiu um aumento de 1,0% nos preços do papel, que encerrou março cotado a, em média, R$ 4.643,00 a tonelada com impostos, mantendo reajustes positivos desde fevereiro do ano passado.
Em 2025 até março, o papel acumulou um aumento de 1,8%, o que, comparado ao reajuste de 12,4% nas aparas de ondulado II, dá uma ideia da perda de rentabilidade dos fabricantes de papel, que é ainda mais agravada pelos reajustes salariais, de frete e, principalmente, de produtos químicos.
O papel maculatura, que é outro grande reciclador de aparas de papelão ondulado, está com vendas ainda mais difíceis.
Em março deste ano, tanto as exportações quanto as importações dos papéis miolo e testliner (reciclados) perderam força em relação a fevereiro, atingindo volumes de, respectivamente, 4,5 mil toneladas e 1,4 mil toneladas, em resultado que manteve o saldo favorável às exportações próximos a 3 mil toneladas.
No acumulado do ano, as exportações atingiram o volume de 14,5 mil toneladas contra importações de 9,8 mil toneladas. O saldo ainda é amplamente favorável às exportações, mas o crescimento das importações está acentuado, até porque estiveram muito próximas de zero no ano passado.
O cenário no comércio exterior deve ser monitorado com atenção, pois a guerra comercial global, iniciada pelos Estados Unidos, poderá afetar significativamente os volumes envolvidos. No entanto, acredita-se que o impacto será maior sobre o papel kraft liner, que já possui um comércio internacional consolidado.
A celulose está em alta na Europa, encerrando março cotada a US$ 1.142 a tonelada, o que, mesmo com a valorização do real, implicou em aumentos também no Brasil, mas não sentimos nenhum reflexo nas aparas brancas, cujo mercado continua deprimido com preços estáveis.
Com relação à celulose também devemos ter muita atenção com os acontecimentos nos próximos meses, pois o Brasil é grande fornecedor para a China, Europa e Estados Unidos, o que nos deixa ainda mais vulneráveis à guerra comercial, embora os resultados possam ser favoráveis ao nosso produto.
Em março, as brancas de 1.ª, II e III foram comercializadas por, respectivamente, R$ 2.647,50, R$ 1.288,33 e R$ 861,00 a tonelada FOB depósito, estáveis em relação a fevereiro.