Como previsto, com as fábricas operando com poucas interrupções ao final de 2024, o estoque de aparas reduziu-se e, na primeira quinzena de janeiro deste ano, observamos uma forte pressão por aumento de preços. No entanto, mesmo com a pressão por aumentos, os preços mantiveram-se estáveis pelo sétimo mês consecutivo no mercado de aparas.
Os dados de expedição de caixas divulgados pela Empapel voltaram ao campo positivo em janeiro de 2025 com a expedição de 341,8 mil toneladas, ficando 0,8% acima do volume expedido em janeiro de 2024. O percentual é pequeno, mas o volume constituiu um novo recorde para a expedição de janeiro, mantendo o cenário visto praticamente em todo o ano passado.
A expectativa é grande para fevereiro de 2025, com alguns fabricantes relatando enfraquecimento nas vendas para setores específicos, o que está sendo compensado por uma diminuição na coleta em função das fortes chuvas na região Sudeste. Neste cenário, acreditamos que o mercado permanecerá pressionado, o que ainda pode ser potencializado pelo retorno às operações de um grande fabricante que, segundo apuramos, já está indo às compras provisionando matéria-prima para sua operação.
Cenário econômico para o mercado de aparas
As previsões para nossa economia, publicadas no Boletim Focus do Banco Central, indicavam, ao final de janeiro último, um crescimento de 2,01% para o PIB nacional em 2025. Contudo, os acontecimentos na área internacional e a condução da nossa política econômica deixam essas previsões com baixo nível de assertividade. Teremos que esperar mais alguns meses para melhor avaliá-las e, principalmente, avaliar seu impacto no mercado de embalagens de papel, o mesmo valendo para a nossa balança comercial, inflação e taxa de juros.
O IBGE divulgou os índices do desempenho do volume de vendas no comércio brasileiro referentes a dezembro e, no comparativo interanual, o instituto registrou 5 dos 10 setores acompanhados no campo negativo. Como vem acontecendo há tempos, o pior desempenho seguiu com os livros, jornais, revistas e papelarias. Porém, a queda de 3,9% no volume de vendas da categoria até pode ser interpretada como um bom sinal, pois, nos comparativos dos meses anteriores, a queda sempre esteve próxima dos 10,0%. Considerando que os primeiros meses do ano são, sazonalmente, bons para o segmento, poderemos ter a volta de um volume crescente para a categoria, que, como já dissemos várias vezes, é um excelente indicador da geração de aparas brancas.
No comparativo de 2024 contra 2023, o volume total de vendas do comércio brasileiro registrou um excelente desempenho, crescendo 4,7%. Considerando os dez setores acompanhados, além dos livros, apenas os combustíveis e lubrificantes ficaram no campo negativo, com quedas respectivas de 7,7% e 1,9%. No campo positivo, o volume de vendas registrou seu melhor desempenho no setor de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos, com crescimento de 14,2% em 2024 em relação a 2023. Acima da média nacional, também tivemos os supermercados e hipermercados com crescimento de 5,2% e os móveis, cujo volume de vendas cresceu 5,9%.
O crescimento no volume de vendas no comércio nacional de 4,7% foi resultado de desempenho positivo em todos os estados da federação, mas com resultados variando de 1,5% no Rio de Janeiro até 15,5% no Amapá. É interessante observar que todos os estados com crescimento acima da média, à exceção do Rio Grande do Sul, estão localizados nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
O Rio Grande do Sul registrou um volume de vendas 8,4% maior em 2024 comparativamente a 2023, confirmando os dados que divulgamos em coluna anterior, que o benefício dos investimentos na recuperação do estado após as enchentes ocorridas entre abril e maio compensariam os malefícios.
A prévia da expedição de caixas e chapas divulgada pela Empapel para janeiro de 2025 foi de 341,8 mil toneladas, retornando o desempenho mensal interanual para o campo positivo após a queda registrada em dezembro. O percentual foi de apenas 0,8%, mas suficiente para manter a sequência de recordes nos volumes mensais registrados em todo o ano passado, à exceção de dezembro.
Com as fábricas operando com poucas interrupções ao final de 2024, e com o bom volume de vendas de janeiro, o estoque de aparas marrons reduziu-se e, pelo menos na primeira quinzena de janeiro, observamos uma forte pressão por aumento nas aparas. No entanto, os fabricantes resistiram, e os preços mantiveram-se estáveis pelo sétimo mês consecutivo, com ondulado I e II sendo comercializados por, em média, R$ 1.160,01 e R$ 1.026,98 a tonelada FOB depósito, sem impostos.
As expectativas para 2025 permanecem confusas. Contudo, a Fastmarkets prevê que a expedição de caixas e chapas continuará apresentando um bom desempenho, estimado pela empresa em acima de 4,0%. Entre outros fatores, esse desempenho será impactado positivamente pelo aumento das exportações, ou seja, aparas de papel saindo do país na forma de caixas. Se considerarmos uma expectativa de aumento também nas exportações de papel, acreditamos que o mercado de aparas vai se manter pressionado, o que poderá resultar em aumentos dependendo da demanda interna por embalagens.
As vendas de papel miolo estão se beneficiando não apenas do aumento nas vendas de caixas, mas também pelo paulatino aumento na saída de papel de fibra virgem do mercado interno. Como consequência, seus valores continuam sendo reajustados para cima, ainda que em percentuais pequenos.
Em janeiro de 2025, o papel foi comercializado por, em média, R$ 4.595,39 a tonelada com impostos, com um reajuste de 0,7% em relação ao mês de dezembro.
Em janeiro deste ano, não sentimos reflexos da proibição na importação de resíduos, cuja lei ainda precisa ser regulamentada. No entanto, o que observamos foi um crescimento maior das exportações, que atingiram o volume de 2,5 mil toneladas, ficando 87,7% acima das exportações de janeiro de 2024. Por outro lado, as importações, no mesmo período, caíram 1,7%, com um total de 2,9 mil toneladas oriundas do exterior.
Independente de leis, o resultado deve estar sendo em função da desvalorização do real. Conforme dados da Secex, as 1,3 mil toneladas importadas dos Estados Unidos chegaram aos portos brasileiros custando US$ 331 ou, considerando uma taxa de conversão de R$ 5,80 por dólar, estão chegando em nossos portos por valores próximos de R$ 2.000,00 a tonelada, o que, considerando o atual valor praticado no mercado interno, convenhamos, é uma barreira melhor do que eventuais leis.

O aumento nos preços dos papéis miolo e testliner está viabilizando suas importações e, mesmo com a desvalorização do real, no primeiro mês de janeiro deste ano registramos a entrada em nosso País de 2,2 mil toneladas de papel miolo e de 4,3 mil toneladas de testliner. No total, as importações atingiram a marca de 6,5 mil toneladas, superando as exportações em 1,8 mil toneladas, o que não acontecia desde 2021.
Outra ocorrência que chama atenção é a origem das importações, já que 90% tiveram origem em Israel, o que ocorreu pela última vez também em 2021.
Com o governo americano impondo tarifas de importação a todos os seus parceiros comerciais, acreditamos que o comércio internacional vai passar por grandes mudanças, o que poderá impactar nosso setor e, portanto, deveremos acompanhar com atenção.
As aparas brancas continuam apresentando baixo consumo e iniciaram o ano perdendo valor, sendo comercializadas em janeiro por, em média, R$ 2.642,86; R$ 1.313,33 e R$ 866,00 a tonelada FOB depósito, com quedas de 1,1%, 9,2% e 0,9%, respectivamente para a branca de primeira, branca II e branca III.
A celulose continua com valores deprimidos na Europa e na China, comercializada, ao final de janeiro, por US$ 1.000 e US$ 556. Mas existe uma previsão de aumentos nos próximos meses, o que, aliado à desvalorização do real, poderá diminuir a pressão da matéria-prima virgem sobre a reciclada no mercado interno.