A indústria brasileira de produtos de papel registrou crescimento em 2024, muito em função do desempenho favorável do setor externo, sobretudo na América Latina. Nossa projeção para o consumo, produção e exportação das principais categorias de papel para 2025 é igualmente otimista, acompanhando a expectativa favorável para as principais condicionantes do consumo no País e no setor externo. Mas, afinal, quão importante são os embarques à América Latina para o Brasil?
LEIA AQUI O TEXTO PUBLICADO ORIGINALMENTE NA REVISTA O PAPEL – EDIÇÃO DE FEVEREIRO
Considerando as quatro principais categorias de produtos de papel, o Brasil exportou cerca de 1,9 milhão de toneladas em 2024, volume 11,7% superior ao embarcado em 2023. Deste total, a América Latina representou 62%, mais da metade dos embarques, e com a maior parte do volume sendo exportado à América do Sul, destino de 48% dos embarques totais brasileiros, reflexo também da relevância do Mercosul, que sozinho recebeu 20% das exportações brasileiras de papel no período. Em 2010, a região representava cerca de 44% dos embarques totais brasileiros de papel, participação similar à registrada em 2020, uma década depois.
As vendas de papel à região aumentaram tanto em volume quanto em participação na balança setorial brasileira nos últimos 14 anos, impulsionadas pela demanda regional do setor alimentício e agroexportador, no caso de papéis para embalagens, e pelo amadurecimento do poder de compra, urbanização e melhores condições de vida, no caso de papéis para impressão e escrita e tissue.
Em outras palavras, não só o Brasil está exportando mais papel para todos os mercados do mundo, como também está expandindo sua participação e embarques à América Latina, acompanhando estratégias direcionadas de empresas do setor de aumento na diversificação de seus mercados de atuação. A análise da evolução da participação da América Latina nas exportações totais por categoria de papel mostra crescimento em praticamente todos os setores analisados.
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Os embarques regionais de papel-cartão, que eram 53% das exportações brasileiras do produto em 2010, representaram 84% das exportações do produto em 2024. Crescimento similar também foi observado na categoria de impressão e escrita e tissue, que viram a participação da América Latina passar de 38% e 64% para 57% e 85%, respectivamente. No segmento de kraft liner, a região manteve estável em cerca de 70% sua participação sobre os embarques totais.
Crescimento das exportações brasileiras
O crescimento das exportações e da participação da América Latina no setor de papéis para impressão e escrita é reflexo do redirecionamento da produção local para mercados ainda em evolução, dando vazão à produção doméstica, apesar da tendência estrutural de queda no consumo desse tipo de produto. No segmento de tissue, a lógica por trás do aumento na participação da América Latina é reflexo das características estruturais desse mercado, já que o produto final da cadeia é considerado um item de menor valor, vis-à-vis aos demais tipos de papel, além de ser um item volumoso, porém leve. Assim, os custos de transporte para longas distâncias são proibitivos e, portanto, limitam o alcance geográfico das exportações.
Para o papel-cartão, o mercado brasileiro ainda é muito relevante e destino de maior parte da produção doméstica, que não observou incrementos de capacidade relevantes nos últimos dez anos, como outras categorias de papel, como kraft liner. Já a estabilidade observada no setor de kraft liner se deve à alta competitividade brasileira do produto em outros mercados-chave, como Europa e até mesmo África e Ásia. A estratégia de produtores em manter seus mercados diversificados evita riscos sistêmicos à cadeia e garante rentabilidade mais estável.
E como fica a produção doméstica? Será que há impacto positivo influenciado pelo aumento das exportações e maior participação da América Latina? O Brasil produziu cerca de 11,3 milhões de toneladas de produtos de papel em 2024, 4% a mais que em 2023 e 13% superior às 10 milhões de toneladas fabricadas em 2010, e quase o dobro das 7 milhões produzidas em 2000. Em 2024, o País exportou 1,1 milhão de toneladas à América Latina, acima das 700 mil toneladas embarcadas em 2020 e em 2010, e muito superior às 480 mil toneladas exportadas em 2000.
Para o mercado de papéis para impressão e escrita, o setor externo latino-americano tem sido ainda mais importante para contrabalancear a queda no consumo doméstico na última década, se comportando como uma importante válvula de escape. Em 2010, as exportações do setor representavam 14% da produção, participação que saltou para mais de 33% em 2024. No mesmo período, o consumo interno brasileiro caiu mais de 1 milhão de toneladas, enquanto a produção recuou pouco mais de 600 mil toneladas, segundo dados do nosso Latin America Pulp & Paper Forecast.
A quebra por categoria de produto ainda revela que as exportações para a América Latina de kraft liner somaram 12% da produção doméstica do produto em 2024, superior aos 9% registrados em 2020 e aos 8% de 2010, apesar do forte crescimento da capacidade, produção e consumo internos no período. Já para o setor de papel-cartão, as exportações brasileiras para a América Latina têm mantido sua participação e representam cerca de 8% da produção local.
A América Latina, especialmente a América do Sul, confirma-se como um dos mercados mais relevantes para as exportações brasileiras de papéis, impulsionada pela proximidade geográfica, integração comercial e crescente demanda por produtos de embalagem e consumo diário. Enquanto os países da América do Sul continuam sendo os principais destinos devido à facilidade logística e relações comerciais consolidadas, mercados como a América Central e o México mostram crescimento consistente, refletindo a competitividade do Brasil no cenário global.
Além disso, o aumento das exportações para a região tem contribuído para a expansão da produção doméstica, fortalecendo a posição do Brasil como um dos principais fornecedores globais. Esse movimento é sustentado por investimentos em plantas de baixo custo e alta produtividade, que ampliam a capacidade do País de atender à demanda regional e global.
Olhando para o futuro, é essencial que o Brasil continue desenvolvendo estratégias para diversificar seus mercados de exportação, mantendo a América Latina como um pilar central enquanto busca fortalecer sua posição em outros mercados globais. A sustentabilidade e a inovação no setor serão fatores determinantes para assegurar a competitividade brasileira diante de desafios como volatilidade cambial e mudanças nas cadeias globais de suprimentos. A análise dos dados confirma que a América Latina não é apenas um destino estratégico, mas um motor fundamental para o crescimento do setor de papel no Brasil e sua participação nessa cadeia de valor.