Delegar para vencer

Recentemente, em uma de minhas sessões de mentoria, fui surpreendida quando um cliente, recém-promovido a um cargo de liderança, compartilhou uma extensa lista de tarefas que ocupava três páginas. Ele estava entusiasmado com o novo desafio, mas ao mesmo tempo sentia-se sobrecarregado pelas responsabilidades que agora pesavam sobre seus ombros. Quando sugeri que ele considerasse delegar algumas dessas tarefas, ele hesitou: “Essas são tarefas que só eu posso fazer”, respondeu com convicção.

Esse tipo de resposta, que escuto com frequência de novos líderes, geralmente reflete mais um temor interno do que uma realidade objetiva. Esse líder, como muitos outros em sua situação, temia que delegar pudesse ser visto como um sinal de fraqueza ou inaptidão, e que assumir todas as tarefas seria a melhor forma de provar que era o líder certo para o cargo.

Mas não é bem assim. O fato é que, quando você se encontrar em situações de sobrecarga de trabalho em um cargo de liderança, é o momento de avaliar se já não é chegada a hora de praticar a delegação inteligente e sair desse dilema frequente entre líderes em início de carreira ou transição de cargo, que muitas vezes se veem pressionados não apenas pelas expectativas reais de seus superiores, mas também por suas próprias percepções equivocadas do que um líder deve fazer.

Se você está passando por uma situação semelhante, aqui estão algumas estratégias que podem ajudar a mudar essa mentalidade e a abraçar a delegação como uma ferramenta essencial para o sucesso. Afinal, se você deseja crescer na carreira, é fundamental que esteja livre e focado nesse objetivo. Aprenda a delegar a partir das dicas a seguir:

1. Adote uma nova perspectiva: seja um facilitador estratégico e não um executor operacionalMuitos profissionais são promovidos a cargos de liderança por terem se destacado em suas funções anteriores. Contudo, ao assumir um papel de liderança, é crucial entender que o trabalho agora é diferente, e as métricas de sucesso mudam. A medida de sucesso deixa de ser a eficiência em executar tarefas e passa a ser a capacidade de desenvolver e apoiar a equipe para que ela atinja seus objetivos e contribua para a visão estratégica da empresa. Resistir a essa mudança e continuar a agir como fazia anteriormente pode levar à sobrecarga de trabalho e à perda de oportunidades de crescimento para os membros da equipe e para você mesmo. Afinal, se você está no operacional, quem fará o seu papel estratégico?
2. Identifique o que delegar e para quem delegarUma vez que você compreende a importância de delegar, o próximo passo é decidir o que delegar e para quem. Isso envolve uma análise cuidadosa das suas responsabilidades para identificar quais tarefas são verdadeiramente estratégicas e devem permanecer sob sua gestão, e quais podem ser oportunidades de aprendizado e desenvolvimento para seus subordinados.Por exemplo, tarefas estratégicas que demandam sua expertise e visão de longo prazo geralmente devem ser mantidas sob sua gestão. Por outro lado, atividades mais operacionais, que podem ser realizadas por outras pessoas, são excelentes candidatas à delegação.Outro aspecto crucial ao decidir para quem delegar tarefas é mapear o nível de desenvolvimento e conhecimento de cada membro da equipe antes de distribuí-las. Essa análise garante que os desafios estejam alinhados às competências individuais, evitando que as pessoas se sintam ansiosas ou frustradas ao enfrentar atividades para as quais não possuem as habilidades ou o conhecimento necessário. Além disso, essa abordagem maximiza as chances de que os colaboradores entrem em estado de flow, onde seu desempenho atinge o auge e a motivação é elevada.
3. Comunique claramente e estabeleça expectativasA comunicação clara é essencial para uma delegação bem-sucedida. Delegar não se resume a simplesmente repassar uma tarefa; envolve explicar de forma precisa o que precisa ser feito, por que essa tarefa é importante e quais são as expectativas em termos de resultados. Ao delegar, é crucial que o membro da equipe entenda não apenas as ações a serem realizadas, mas também o impacto dessa tarefa no sucesso global do projeto. Essa compreensão gera maior envolvimento, senso de responsabilidade e uma percepção clara da importância do trabalho para o resultado final.Defina com clareza as expectativas em termos de qualidade, prazos e resultados esperados. Adicionalmente, estabeleça um cronograma de acompanhamento presencial ou online para monitorar o progresso sem recorrer ao microgerenciamento. Essa abordagem preserva a autonomia dos envolvidos, enquanto garante que a entrega final esteja alinhada com as expectativas estabelecidas.
4. Celebre o progresso e ofereça feedbackÀ medida que o projeto ou tarefa avança, forneça feedback contínuo e construtivo. Questione sobre os desafios encontrados e ofereça suporte quando necessário, mas evite interferir diretamente, a menos que seja absolutamente necessário. Esse equilíbrio entre orientação e autonomia é fundamental para o desenvolvimento da confiança e das habilidades da equipe.Além disso, o reconhecimento é uma poderosa ferramenta de motivação. Celebre as pequenas vitórias e marcos alcançados ao longo do projeto. Reconhecer publicamente as contribuições dos membros da equipe reforça a importância do trabalho deles e fortalece o espírito de colaboração.
5. Reflita e aprenda com a experiênciaApós a conclusão de um projeto, reserve um tempo para refletir com sua equipe sobre o processo. O que funcionou bem? O que poderia ter sido feito de maneira diferente? Essa revisão é uma oportunidade valiosa para aprender com a experiência, identificar áreas de melhoria e aprimorar suas habilidades de delegação. Além disso, procure entender o ponto de vista da equipe. Você pode fazer perguntas como: “Como foi essa experiência para você?” “Quais são as lições que você tirou disso?” e “De onde surgiram os principais desafios?”. Essas conversas permitem identificar maneiras de oferecer melhor suporte aos membros da equipe no futuro, além de ajudar a criar uma cultura de aprendizado contínuo, essencial para o desenvolvimento de uma equipe forte e autônoma.

Para delegar é preciso desapegar da sensação de “dono do processo ou da tarefa” e confiar no potencial de cada pessoa de sua equipe. Não é apenas uma ferramenta de gestão; é uma estratégia de crescimento pessoal e profissional, uma habilidade que se desenvolve com o tempo e a prática. Ao liberar-se das tarefas que podem ser realizadas por outros, você ganha tempo e energia para se concentrar nas atividades mais estratégicas do seu cargo e também investe no crescimento e desenvolvimento de sua equipe. Isso facilita seu desenvolvimento e ascensão na carreira, colabora com o desenvolvimento da equipe e melhora sua qualidade de vida, ajudando a manter um equilíbrio saudável entre as demandas profissionais e pessoais.

E aí, quer ser um líder mais eficaz e ter mais tempo para o que realmente importa? Comece a delegar já e de maneira estratégica. Garanto que você verá uma revolução na sua forma de trabalhar.

Leia aqui o texto original publicado na O Papel