Exportar tem sido uma tarefa difícil desde meados de outubro de 2023. Além de acompanhar todo o cenário geopolítico e econômico mundial, os empresários procuram alternativas para enfrentar o caos logístico do Brasil. O problema é que os altos custos e a incerteza do prazo de entrega no cliente tem reduzido a competitividade do produto brasileiro no exterior.
Os primeiros entraves começaram em outubro de 2023 quando fortes chuvas acometeram o porto de Navegantes e isso impossibilitou a operação por mais de 21 dias, causando um efeito cascata de acúmulo de cargas nos demais portos do sul do País. De lá para cá uma sucessão de de problemas vieram à tona que passam desde conflitos internacionais até a evidência de ineficiência da infraestrutura portuária do Brasil.
O conflito no canal de Suez, principal rota para a ásia, aumenta a distância e o tempo da viagem dos EUA para a China, por exemplo, e isso acarreta em uma série de problemas, como disponibilidade de navios, janelas de embarques, etc.
Sem previsão para que o conflito se encerre, as incertezas para o cenário logístico permanecem. Do lado de dentro do Brasil, a infraestrutura dos portos prejudica ainda mais o exportador, que teve um aumento considerável de custos de exportação apertando ainda mais a margem de lucro, que já é pequena.
Superando o desafio logístico
As empresas brasileiras têm usado a criatividade para conseguir se ajustar aos entraves logísticos. Temos exemplos de companhias fretando navios inteiros e armazenando em outros países para poder colocar seu produto no cliente.
Outras, que não têm demanda ou espaço de armazenagem em outros países, têm buscado empresas parceiras para conseguir espaço nos navios, numa estratégia de dividir o navio em cargas fechadas.
Os principais prejudicados com essa situação são os exportadores com menor volume. Cargas “de menor importância” dentro dos portos, que concorrem com os grandes volumes e acabam perdendo espaço.
EUA e a busca por novos mercados
Em 2024, o principal produto exportado, e que é monitorado pela WoodFlow, foi a madeira serrada de Pinus, com pouco mais de 2,7 milhões de metros cúbicos. O principal destino desse produto é os EUA. Por isso a política e a economia de lá impactam diretamente nas indústrias aqui no Brasil.
Com a posse de Donald Trump e os anúncios de proteção econômica anunciados por ele, o cenário por aqui é bastante incerto. Algumas empresas têm adotado como estratégia comercial atuar em novos mercados, buscando equilibrar a receita no mercado externo.
Algumas empresas de madeira serrada de pinus têm investido também no mercado interno. Mas o que vemos é que essa madeira, muitas vezes, é direcionada para a produção de móveis, que são exportados. Nós aqui no Brasil não desenvolvemos a cultura de usar a madeira sólida para construção ou até para móveis e decoração. Por isso, a maior parte da nossa produção madeireira ainda depende, direta ou indiretamente, do mercado externo.
Perda de competitividade
Os altos custos de exportação, a incerteza no prazo de entrega e a baixa infraestrutura têm diminuído a competitividade do Brasil. Para se ter ideia da cadeia, uma madeira que é serrada hoje no brasil, pode demorar até 30 dias para chegar ao porto, no porto (apesar de não saber ao certo a janela de embarque) algo em torno de 20 dias em estoque, mais o prazo para fiscalização, quando cabível, e depois de embarcado há ainda o prazo de navegação. Tivemos relatos de clientes que em todo esse processo demorou mais de 120 dias.
Para o cliente isso é muito complicado. O Brasil ainda é um pequeno player nesse enorme mercado, representamos um pouco mais de 6% do total consumido no mundo, ou seja, há um mercado muito grande a ser explorado lá fora, só precisamos ter mais eficiência para ingressar nele.
Qual o caminho a seguir?
Neste começo de ano as coisas ainda estão extremamente incertas. Iniciamos 2024 com otimismo, devido aos desafios enfrentados em 2023. Porém, em termos de exportação de madeira, 2024 foi tão desafiador quanto. Tanto que em volume exportado, tivemos um incremento de apenas 3% de um ano para outro.
Não há um caminho claro a ser seguido. Acredito, como disse no último artigo, que devemos apostar em novos mercados para oferecer os produtos que já temos disponíveis em carteira. Mirando em clientes que possam compensar outros que tendem a reduzir a demanda.
Tenho dito que 2025 se inicia com um otimismo pé no chão. É o momento de olhar para dentro das fábricas e pensar em estratégias de diversificação para manter o equilíbrio das vendas.
Leia também por Gustavo Milazzo: