A situação da saúde mental no Brasil alcançou um nível sem precedentes históricos. Segundo o Ministério da Previdência Social, no ano de 2024 houve o afastamento de mais de 472 mil trabalhadores devido a problemas psicológicos, representando um aumento de 68% em comparação com o ano anterior. Desde o surgimento da pandemia, os casos de afastamentos por ansiedade e depressão aumentaram em mais de 400%, sendo que as mulheres correspondem a dois terços desses casos (Fonte: G1, 2025).
Em meio à atual situação, há muita discussão sobre a necessidade de as empresas fornecerem ambientes seguros para seus funcionários. No entanto, um aspecto importante é frequentemente deixado de lado: como um líder pode criar o bem-estar mental quando ele também está sobrecarregado?
O desafio da liderança e o esgotamento mental
Líderes são comumente percebidos como símbolos de força e segurança; no entanto, muitos lidam com níveis altos de tensão, pressão intensificada e fadiga emocional. Pesquisas sugerem que líderes sobrecarregados e sem apoio têm 60% mais chances de desenvolver burnout*, impactando de modo negativo em suas equipes (Harvard Business Review, 2024).
Segundo uma pesquisa recente da Você RH (2025), 84% dos líderes brasileiros afirmam sentir um nível elevado de estresse no trabalho e 70% relatam que a sobrecarga emocional impacta diretamente sua produtividade e capacidade de liderar. Além disso, 41% dos gestores sentem que não têm suporte adequado das empresas para lidar com essa pressão, o que torna a exaustão ainda mais grave.
É fato que um líder sobrecarregado emocionalmente tende a ser menos empático, reagir mais impulsivamente e seu equilíbrio na tomada de decisões pode ficar comprometido, o que gera um ciclo negativo em que os colaboradores também se sentem mais sensíveis, inseguros e propensos a problemas de saúde.
Autocuidado como estratégia de gestão
Diante desse contexto, minha pergunta é: Como vai você, Líder, em relação à sua saúde mental? Afinal, só conseguimos cuidar do outro se estivermos bem. E meu convite é para que, antes de dedicar atenção à sua equipe, faça uma reflexão honestamente sincera: você costuma tirar pequenas pausas ao longo do dia? Você sente que seu nível de estresse está prejudicando sua capacidade de produção de resultados e afetando seus relacionamentos interpessoais? Você se sente à vontade para pedir ajuda sem se preocupar em parecer vulnerável?
Se você respondeu “negativo” para alguma dessas questões, talvez seja o momento adequado de fazer algumas modificações e reavaliar seu caminho percorrido até aqui. Prezar pela saúde mental própria não é um luxo neste contexto; é fundamental para se tornar um líder eficiente e capacitado!
Abaixo, trago algumas práticas que você pode incorporar à sua rotina para preservar sua saúde mental e consequentemente favorecer sua equipe:
- Confiar e permitir que a equipe assuma responsabilidades adicionais: Líderes frequentemente se veem sobrecarregados e lutam para delegar tarefas com eficiência. Contudo, confiar nos membros da equipe é fundamental para aliviar a pressão e desenvolver a autonomia do grupo.
- Promover ambientes para diálogos sobre bem-estar mental: É crucial cultivar uma atmosfera de comunicação franca ao falar de saúde mental. Se estiver se sentindo sobrecarregado(a), compartilhar suas táticas para lidar com as emoções com colegas pode inspirá-los a fazer o mesmo.
- Estabelecer limites claros: Ser líder não significa estar disponível 24 horas por dia. Definir momentos de descanso e respeitar esses limites é essencial para evitar o esgotamento.
- Buscar ajuda especializada: Terapia individual ou em grupo e coaching podem ser bastante útis para orientar os líderes a lidarem de forma mais eficaz com as exigências do cargo.
- Evitar metas excessivas e jornadas extenuantes: Pesquisas revelam que trabalhar por longos períodos aumenta em 45% as chances de desenvolvimento da ansiedade (MIT Sloan Review, 2024).
- Promover ambientes acolhedores para receber feedback sobre o bem-estar emocional dos colaboradores: Ao abrir essa comunicação franca, os líderes promovem um sentimento de segurança na equipe que se reflete em maior engajamento.
- Buscar treinamentos em inteligência emocional e bem-estar mental.
- Adotar um estilo de vida equilibrado: Líderes que praticam atividades físicas regulares e estabelecem uma rotina de autocuidado têm 35% menos probabilidade de desenvolver burnout.
Cultura organizacional: mudanças estruturais são necessárias
Embora a NR-1 determine que as empresas têm responsabilidade legal sobre a saúde mental dos trabalhadores, a transformação organizacional precisa ir além da conformidade com normas. É fundamental que as empresas implementem mudanças estruturais profundas, garantindo um ambiente de trabalho mais sustentável e psicologicamente seguro. Para isso, algumas ações são essenciais, como:
- Definir objetivos realistas e jornadas equilibradas: Reduzir metas inalcançáveis e evitar cargas horárias extenuantes para preservar o bem-estar mental e físico dos colaboradores.
- Oferecer benefícios voltados à saúde mental: Segundo a Robert Half (2025), empresas que disponibilizam suporte psicológico e horários flexíveis reduzem em 40% os afastamentos por transtornos mentais.
- Garantir suporte específico para gestores: A pesquisa da Você RH revelou que apenas 20% das empresas oferecem programas de apoio psicológico voltados para a liderança, um dado preocupante que precisa ser revertido.
- Capacitar líderes em inteligência emocional e bem-estar mental: Atualmente, apenas 30% das empresas possuem iniciativas estruturadas para treinar líderes na prevenção do burnout (Forbes, 2025).
Liderar não é carregar o peso do mundo nos ombros. Empresas que priorizam o bem-estar de seus líderes colhem os benefícios em termos de produtividade, retenção de talentos e inovação. O futuro da liderança exige equilíbrio, empatia e um olhar atento à saúde mental. Um gestor que cuida de si se torna mais preparado para cuidar dos outros.
Agora me conta: o que você pode fazer hoje para garantir que sua liderança
seja sustentável para você e para sua equipe?
*Nota: Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade. A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho. Tal síndrome é comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades constantes, como médicos, enfermeiros, professores, policiais, jornalistas, dentre outros.
Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br. Acesso em: 18 mar. 2025
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